Dito assim, até parece que o «nosso modelo de sociedade» é um bem para se guardar e pelo qual vale a pena arriscar a vida.
Ora, tanto quanto vimos da última vez, em Portugal os 10% mais ricos têm rendimentos quase nove (!) vezes superiores aos dos 10% mais pobres.
No ano passado, Portugal ocupava o sexto lugar do topo da lista dos estados-membros da União Europeia com maiores desigualdades nos rendimentos, atrás da Bulgária, Roménia, Letónia, Espanha e Grécia.
Mais, no País permanecem em situação de pobreza mais de 1,7 milhões de pessoas, sendo uma parte significativa destes crianças e jovens.
Alargando o horizonte, o «modelo de sociedade» a preservar arriscando a vida... dos outros, é o que permite, segundo dados de 2019, que 2 153 bilionários possuam mais riqueza do que 4,6 mil milhões de pessoas, ou seja 60% da população mundial.
Um por cento dos adultos do mundo possui 51% de toda a riqueza mundial, ao passo que a metade dos adultos da base possui apenas 1%. Na verdade, os 10% dos adultos do topo possuem 89% de toda a riqueza mundial! Este é o novo número obtido para 2016 pelo relatório anual sobre a riqueza global do Credit Suisse . A cada ano o Credit Suisse apresenta este relatório, assinado pelo Professor Tony Shorrocks, James Davies e Rodrigo Lluberas, os quais costumavam fazê-lo para a ONU. Informo sobre os resultados todos os anos e habitualmente este é um dos artigos mais populares que escrevo.
Da última vez que discuti os resultados do Credit Suisse, os 1% do topo tinham 48% da riqueza mundial . Assim, no último ano e meio, a desigualdade mundial aumentou outra vez. As fatias dos 1% e 10% do topo quanto à riqueza mundial caíram entre 2000 e 2007. Exemplo: a fatia do percentil do topo declinou de 50% para 46%. Contudo, esta tendência foi revertida após a crise financeira e as fatias do topo retornaram aos níveis observados no princípio do século.
Os investigadores do Credit Suisse consideram que estas mudanças reflectem principalmente a importância relativa dos activos financeiros na carteira familiar, os quais subiram de valor desde 2008 e elevaram a riqueza de muitos dos países mais ricos, e das pessoas mais ricas, por todo o mundo. Embora a fatia dos activos financeiros caísse este ano, as fatias dos grupos de riqueza do topo continuaram a subir. No outro extremo da pirâmide global da riqueza, a metade debaixo dos adultos possuía colectivamente menos de 1% da riqueza total.