E não se pode defenestrá-los?
A decisão do ECOFIN – Conselho dos Ministros das Finanças dos Estados membros – sobre a fiscalização dos orçamentos dos Estados por órgãos da União Europeia, é significativa da situação actual na Europa do capital.
Ela é, antes de mais, um grave atentado à Soberania Nacional e uma evidente subversão da Constituição da República Portuguesa. Estamos perante uma nova realidade, diga Cavaco Silva o que disser. A análise dos orçamentos nacionais PRÉVIA à sua avaliação, escrutínio e decisão pelos parlamentos nacionais.
É extremamente grave que tal abdicação dos direitos de Portugal, Estado independente e soberano, tenha sido perpetrada com cumplicidade activa e apoio do Governo português. Bem como do PSD e do CDS-PP. E, sublinhe-se, da esmagadora maioria dos analistas e comentadores de serviço.
Esta decisão é também reveladora sobre quem efectivamente manda na União Europeia. E da sua dualidade de critérios.
Por um lado, centenas e centenas de milhares de milhões de euros para ajudar os banqueiros; os especuladores continuam com as mãos livres para os ganhos escandalosos; uma efectiva tributação das transacções financeiras continua adiada, com os paraísos fiscais a florescerem.
Por outro, umas migalhas para os trabalhadores, com o chamado Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização (FEG) a demorar dez meses (!!!) a aprovar um apoio a desempregados. Este fundo criado em 2007 pela União Europeia para ajudar trabalhadores vítimas de despedimento colectivo provocado pela crise, só usou 140 milhões dos dois mil milhões de euros que tinha disponíveis (7%). Portugal, com 700 mil desempregados reais, recebeu 1,3 milhões, de DUAS (???) candidaturas já aprovadas por Bruxelas.
É vergonhoso que esta tentativa de transformar os deputados nacionais numa espécie de marionetas europeias, receba o aplauso dos modernos Miguéis de Vasconcelos. É sabido o que aconteceu ao nobre português vendido a Espanha: foi defenestrado.
A Europa do capital foi longe, muito longe, na defesa dos grupos económicos e financeiros. E isso terá graves consequências para os povos da União Europeia.
Daí a certeza de que as lutas dos trabalhadores e dos povos se vão intensificar. No próximo dia 29 de Setembro, em Lisboa e no Porto, a voz dos flagelados pelas consequências de uma crise que não provocaram, falará mais alto. Lá estaremos.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In "Jornal do Centro" - Edição de 17 de Setembro de 2010
-