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O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

Mais contributos para o assassinato da democracia

Timisoara, Roménia, no final de 1989: «Pela primeira vez na história da humanidade, cadáveres acabados de enterrar ou alinhados nas mesas das morgues foram desenterrados à pressa e torturados para, em frente das câmaras, simular o genocídio que devia legitimar o novo regime. O que o mundo inteiro teve debaixo dos olhos em directo nos ecrãs da televisão, como sendo verdade era a não verdade absoluta; e embora a falsificação por vezes fosse evidente, era de qualquer modo autenticada como uma verdade pelo sistema mundial dos meios de comunicação, para que se tornasse claro que a verdade passara a ser apenas um momento do movimento necessário da falsidade». Palavras de Giorgio Agamben, filósofo, que não é propriamente um crítico da ideologia dominante. O chamado «massacre de Timisoara» ficará nos anais da história como o exemplo de mais uma página vergonhosa da actuação da comunicação social dominante.

Mas a saga não pára! Sabemos que o que se silencia é, na maior parte das vezes, tão ou mais importante do que o que se publica. A palavra de ordem do momento é «o que não se sabe é como se não existisse».

Honduras 28 de Julho de 2009, um golpe de estado militar derruba o presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya. Uma consulta sem força de lei foi transformada em referendo. A CNN e a BBC difundem para todo o mundo que o golpe era legal porque o referendo (que era consulta) era ilegal. Assunto encerrado e quanto menos se falar dele melhor. O bloqueio informativo estava montado. Desde o golpe, em 17 meses, foram assassinados mais de mil hondurenhos. Dos quais 10 eram jornalistas. Onde estava a comunicação social dominante?

Colômbia 2010, só durante os primeiros 75 dias de mandato do novo presidente, Juan Manuel Santos, 22 activistas políticos e sociais, um jornalista e um juiz foram assassinados no país. Em 2010, já foram assassinados 37 sindicalistas, 201 foram ameaçados, 5 encontram-se desaparecidos, 1 foi detido e 20 foram alvo de atentados. Cerca de 60 por cento dos sindicalistas assassinados no mundo são colombianos. A maior vala comum da América Latina foi encontrada neste país, em Macarena. Ali estavam depositados mais de 2 mil cadáveres. Suspeita-se que sejam de jovens aliciados para trabalhar e, posteriormente, executados pelo exército e apresentados à comunicação social como se de guerrilheiros das FARC se tratasse. Na Colômbia existem mais de 7500 presos políticos.

E se estes acontecimento tivessem ocorrido em Cuba, ou na Venezuela, ou na Bolívia, ou …?

Portugal 2010. Um órgão de comunicação social, dito de referência, não comparece em qualquer iniciativa do PCP entre as eleições autárquicas de 2009 e Abril 2010. Nem a uma! De silêncios e omissões é feita a discriminação do PCP na generalidade da comunicação social dominante. E nem o facto de 4 jovens raparigas, menores, militantes de JCP terem sido integralmente despidas numa esquadra da PSP em Lisboa parece alterar os «critérios jornalísticos» em prática.

No nosso país, mais de uma centena de órgãos de comunicação social estão nas mãos de cinco grandes grupos económicos. Será que o intrigante facto de nenhum órgão de comunicação social, nem os especializados em assuntos de economia, dissecar os agora omnipresentes e omnipotentes «mercados financeiros» tem alguma coisa a ver com este facto?...

Não lhes interessa o conteúdo e a forma do conceito que papagueiam acriticamente todos os dias? Porque não dão a conhecer os rostos e os nomes dos administradores e accionistas dos bancos, seguradoras, empresas de especulação financeira, aqueles que, de jure e de facto, constituem «os mercados»? E dos accionistas de referência dessas mesmas empresas? Porquê?

Nota final: para quem não sabe recorde-se que o PCP difunde mais de mil posições públicas por ano (só dos seus organismos centrais ou estruturas nacionais)…

Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação

In jornal "Público" - Edição de 12 de Novembro de 2010

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