A ladainha da Brigada do Reumático (IV)
(continuação)
Quem, tendo vivido os derradeiros momentos do fascismo, não se recorda dessa antológica cena de ópera bufa envolvendo o encontro dos altos comandantes das Forças Armadas com o então presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, pomposa cerimónia que entrou na gíria popular como sendo a da «Brigada do Reumático»?
Passados cerca de 36 anos, com novos actores, em circunstâncias políticas diferentes e a pretexto da actual situação do país, mas repetindo o mesmo guião «operático-reumatismal», assiste-se, no Palácio de Belém, ao encontro entre o Presidente da República e um vasto conjunto de ex-ministros das Finanças, todos eles com vastos currículos políticos, académicos e profissionais.
(…)
Nenhum deles, e muito menos o anfitrião, tiveram qualquer culpa na situação actual. Longe disso, afirmam também a pés juntos as conhecidas e consabidas vozes do dono.
Não carregam com o peso de nenhuma responsabilidade. Nenhuma.
(…)
Com efeito, incluindo o actual Presidente da República:
(...)
Nenhum deles fechou os olhos à hecatombe financeira provocada pelo «banco laranja» o BPN, cujos altos dignitários ligados ao PSD provocaram a transferência de mais de 4 mil milhões de euros da CGD, ou seja, dos nossos bolsos, para tapar a roubalheira provocada naquela instituição, onde pontificava Dias Loureiro, um ex-conselheiro de Estado, sob investigação judicial e alto dirigente ligado à campanha eleitoral que levou Cavaco Silva à Presidência da República.
(Abre-se aqui um parêntesis para salientar que o estado-maior da última candidatura à Presidência da República por Cavaco Silva saiu do BPN. Agora, tal estado-maior sai das grandes superfícies).
Nenhum deles esteve ligado, directa ou indirectamente, às grandes empresas majestáticas na área da electricidade, dos combustíveis e das comunicações onde a formação de preços é verdadeiramente obscena, afectando, quer o resultado das micro, pequenas e médias empresas, quer a economia familiar.
Nenhum deles sugeriu que parte dos lucros fabulosos dessas vacas sagradas que dão pelo nome de EDP, GALP, PT, entre outras, fossem investidos no estrangeiro quando é publico e notório que o país precisa desse usurpado dinheiro para a dinamização da nossa economia. Não é verdade que todos eles, em uníssono, protestaram contra o investimento de cerca de 3 mil milhões de euros, pela EDP, nos EUA e por valores ainda mais vultuosos da PT, no Brasil?
Nenhum deles incentivou a criação de uma administração pública paralela, empanturrada nos lugares de topo por familiares, amigos e confrades, por via de institutos e dessa monstruosidade que dá pelo nome de entidades reguladoras cujos responsáveis, todos sabem, são invariavelmente «capturados» pelos regulados, ou seja, pelas próprias empresas que pretensamente regulam.
(continua)
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