A verdade é só uma: o Governo não fala verdade
«(…) os partidos reaccionários, pela natureza inconfessável dos seus fins, são os partidos da mentira.
Nenhum dos governos de direita e nenhum dos partidos seus componentes ousou dizer a verdade acerca dos objectivos da sua política. Todos os seus actos e todas as suas medidas foram e são apresentados com extenso rol de mentiras elaboradas, planeadas e sistematizadas. (…)
A mentira é parte integrante, constitutiva, intrínseca, permanente, da política dos governos de direita e dos partidos que nestes participam. Tornou-se uma prática que se insere com desfaçatez e cinismo na completa falta de escrúpulos morais desses governos e partidos.»
Estas palavras foram escritas por Álvaro Cunhal em 1985 no seu conhecido ensaio «O Partido com paredes de Vidro». Hoje, passados 26 anos, estão mais actuais que nunca.
Podemos afirmar, sem receio de exagero, que não passa um dia, uma hora, um minuto, sem que este governo PSD/CDS de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas não esteja a mentir aos portugueses.
Mentiras acerca das medidas previstas no Orçamento do Estado para 2012 cujo objectivo e resultado é o declínio económico, o retrocesso social e o agravamento da exploração dos trabalhadores. O que ficou demonstrado pelo PCP no debate na Assembleia da República. Um exemplo: em 2012, as receitas fiscais perdidas pelo estado devido benefícios fiscais concedidos às empresas, só no IRC, atinge 1.715 milhões de euros.
Mentiras, como aqui denunciámos, sobre um chamado «Livro Verde» de uma dita reforma administrativa do poder local. Na realidade as propostas aí anunciadas visam liquidar a autonomia das autarquias e reconstituir um modelo de dependência e subordinação existente até ao 24 de Abril de 1974.
Mentiras sobre o sistema público de transportes. Os cinco exemplos concretos apresentados por Jerónimo de Sousa em conferência de imprensa são bem elucidativos. Apenas aqui referimos dois. Segundo a Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA) o sector aéreo nacional gerou 2300 milhões de euros em Portugal (cerca de 1,4% do PIB). Garantiu 59 mil postos de trabalho (24 mil dos quais de forma directa). Contribui com mais 3300 milhões de euros através do sector do turismo. Possui um valor acrescentado bruto por trabalhador que é o dobro da média nacional. A TAP é primeiro exportador nacional. As empresas do sector aéreo garantem à Segurança Social por ano quase 200 milhões de euros. Na CP foi afirmado que, face à luta dos trabalhadores desta empresa, não haveria dinheiro para pagar os salários. É preciso não ter vergonha! O Governo sabe que a CP pagou, só em 2011, de juros à banca cerca de 180 milhões de euros, mais 60 milhões que o total dos salários deste ano!
Mentiras a propósito da transferência de uma parte dos fundos de pensões dos bancários para a Segurança Social. Na verdade é previsível que os fundos entregues pela banca não sejam suficientes para pagar as pensões a todos os bancários reformados durante o resto da vida.
Mentiras sobre o aumento do horário dos trabalhadores por conta de outrem. A tradução prática de tal medida será um mês (20 dias úteis) de trabalho prestado à borla!!! Mais. Criará condições para o despedimento de milhares de trabalhadores (cerca de 183.000). Acresce que a competitividade das empresas não vai aumentar. Mas vai aumentar a sinistralidade e a conflitualidade.
Como escreveu Bertolt Brecht a propósito da «Dificuldade de governar»: Ou será que / governar só é assim tão difícil porque / a exploração e a mentira / são coisas que custam a aprender?
Ao contrário da ideia que se procura fazer passar os partidos NÃO são todos iguais. Regressemos a Álvaro Cunhal:
«Enquanto outros partidos procuram ganhar apoios sociais, políticos e eleitorais mentindo e enganando, o PCP ganha apoio, prestígio e confiança esclarecendo na base da verdade. (…)
O amor pela verdade pode temporariamente custar caro a quem o exercita. Mas a verdade acaba por triunfar da mentira. A política da mentira está condenada à derrota final. É à política da verdade que o futuro pertence.»
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In "Jornal do Centro" - Edição de 23 de Dezembro de 2011
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