Dez anos de política de direita
Analisando a política destes 10 anos de vida do «Jornal do Centro» que hoje se comemoram, podemos apelidá-los de uma «década perdida» para o nosso desenvolvimento económico e social. Ou dito de outra forma, que foram dez anos a comprometer o desenvolvimento do país.
Por nós desfilou um ciclo de governos dos partidos do Bloco Central (PS/PSD/CDS). Nada menos de 6 (!!!). Todos eles, no essencial, com as mesmas políticas, as mesmas desculpas. Todos eles a endereçar as respectivas facturas das privatizações, do domínio do capital estrangeiro, da desindustrialização, da adesão ao Euro, da crise, aos mesmos de sempre: os trabalhadores, os reformados, os micro, pequenos e médios industriais, comerciantes e agricultores.
Guterres pediu sacrifícios aos portugueses prometendo dias melhores para um futuro próximo, em nome da necessidade da adesão ao Euro e da necessidade de se cumprir o «Pacto de Estabilidade e Crescimento» (o famigerado PEC). Acabou no «pântano».
Seguiu-se-lhe Durão Barroso com o discurso da «tanga», mais sacrifícios pedidos. Acabou na doçura da Comissão Europeia.
Seguiu-se-lhe o parêntesis de Santana Lopes e depois Sócrates que, com a ajuda do Banco de Portugal e da «crise», se serviu outra vez do défice orçamental, para continuar a política de privatizações, de austeridade para com os trabalhadores e de generosos apoios ao grande capital, designadamente ao capital financeiro. Acabou a estudar filosofia em Paris.
Foram dez anos de política de concentração de riqueza nas mãos de meia dúzia de famílias e sempre com a treta do «menos Estado». Menos Estado para os trabalhadores e camadas médias e mais Estado para os grandes senhores do dinheiro.
Na verdade nestes dez anos o que nos dizem os resultados de uma política que no quadro do Pensamento Único sempre nos foi vendida como a «única possível», como a que «melhor servia Portugal e os portugueses»?
Uma evolução negativa dos sectores produtivos nacionais. Profundas alterações verificadas nos sectores estratégicos da economia nacional com a sua privatização e o seu crescente domínio pelo grande capital nacional e estrangeiro. Manutenção e agravamento dos nossos principais défices estruturais e de um desvalorizado perfil de especialização produtiva. Uma prolongada ofensiva que conduziu à fragilização e destruição de importantes direitos económicos e sociais dos trabalhadores e das populações, à debilitação e redução das múltiplas forma do exercício da democracia.
Uma década a divergir no plano económico e social dos nossos parceiros comunitários, com níveis de crescimento que se ficam pela metade da média da União Europeia.
O balanço desta década é bem o espelho das consequências das políticas de direita e das suas opções neoliberais e monetaristas: desemprego avassalador, elevada precariedade, mais emprego não qualificado, mais dívida pública, mais défice comercial, maior endividamento externo, maior endividamento das empresas e das famílias, pior distribuição do rendimento, maiores desequilíbrios regionais, agravados défices estruturais.
O que revela a evolução destes dez anos da vida nacional é a imperiosa necessidade de inverter este caminho de regressão económica e social e de degradação do regime democrático.
Num momento em que está em marcha uma violenta ofensiva para impor como única saída as mesmas e fracassadas políticas, reafirmamos que há outras soluções e um outro caminho para solução dos problemas do país.
Portugal não está condenado à inevitabilidade de prosseguir as mesmas políticas e o mesmo caminho que conduziu o país ao atraso e à crise. Portugal tem alternativas! Alternativas capazes de assegurar a construção de um Portugal mais justo, mais solidário e mais desenvolvido, afirmando a sua independência e a sua soberania na concretização do seu próprio destino.
E durante dez anos lutou-se e tem-se lutado por esse desiderato. Com pequenas e grandes lutas. Com pequenas e grandes vitórias. Não por acaso, e por feliz coincidência, este aniversário do «Jornal do Centro» comemora-se no mesmo dia de uma Greve Geral. A luta continua!
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In "Jornal do Centro" - Edição de 22 de Março de 2012
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