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O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

A VERDADE DA MENTIRA

    Há cinco anos Mia Couto escreveu nas páginas deste jornal uma Carta Aberta onde enumerava um conjunto de conflitos em que os EUA se tinham envolvido. Em todos e cada um deles (desde a guerra com a Espanha em 1902, aos bombardeamentos da Jugoslávia em 1999) as sucessivas administrações americanas mentiram. Quer à opinião pública mundial, quer ao seu próprio povo. Porque haveria de ser diferente em relação ao Iraque?
Para quem tenha dúvidas aconselho a visita a dois esclarecedores sites, que têm que ver com os documentos oficiais desclassificados, mais exactamente com o Freedom of Information Act (FOIA) http://nsarchive.chadwyck.com e www.gwu.edu/~nsarchiv/ .

Lembremos, antes de mais, o que não pode ficar esquecido: nos períodos mais sanguinários do seu regime de terror, Saddam foi um homem de mão da CIA e dos respectivos governos norte-americanos.

São conhecidos os assassinatos de mais de seis mil militantes comunistas, cometidos sob a orientação da CIA, que forneceu a Saddam Hussein os nomes e moradas desses militantes. Bem como os assassinatos, sempre com o apoio dos Estados Unidos da América, de milhares de outros cidadãos, homens mulheres e jovens progressistas, curdos, etc. Recorde-se que na altura, em 1979, o PCP foi o único partido nacional que condenou estes factos em Portugal.

Lembremos que em dado momento, Colin Powell foi à ONU mostrar provas da existência das temíveis armas de destruição maciça. Provas que, em parte, lhe haviam sido fornecidas por Blair e que fizeram pular de entusiasmo Aznar, Barroso & Cia. As ditas provas, classificadas então pela comunicação social dominante como «irrefutáveis», «incontestáveis», «esclarecedoras» e «concludentes», cedo vieram a revelar-se uma mentira. Powell levou à ONU pedaços de um artigo publicado num qualquer jornal e de uma tese de doutoramento apresentada por um jovem, uma década antes, em Cambridge.

Lembremos que Paul Wolfowitz, secretário adjunto da Defesa dos EUA, revelou que, afinal, os tais argumentos eram falsos e foram utilizados somente por «razões burocráticas». Ou seja, explicou ele, considerando o Governo dos EUA que a existência de armas de destruição maciça no Iraque era «o único argumento capaz de pôr toda a gente de acordo, em relação à necessidade da guerra,» resolveu mentir a toda a gente.

Lembremos que recentemente duas organizações que analisam os média contaram 935 afirmações falsas proferidas pela administração Bush entre 11 de Setembro de 2001 e 19 de Março de 2003, que abriram o caminho para a invasão do Iraque. O Center for Public Integrity (Centro para a Integridade Pública), em colaboração com o Fund for Independence in Journalism (Fundo para a Independência no Jornalismo), contou 259 mentiras proferidas pelo próprio Bush, incluindo 231 afirmações que sustentavam que o Iraque tinha armas de destruição maciça e 28 segundo as quais Saddam Hussein tinha ligações à Al-Qaeda. O então Secretário de Estado Colin Powell, a única figura da administração que foi publicamente humilhado por mentir, situou-se num segundo lugar próximo, com 254.

Nota final: Lembremos ao jornalista do “DN” João Pedro Henriques, presente a 17 de Março, no colóquio «Terrorismo e segurança» que o conceito de terrorismo não se identifica com a luta libertadora dos povos. Mesmo quando esta, em situações concretas, assume justa, necessária e corajosa expressão armada (o fascismo chamava «terroristas» aos patriotas que lutavam pela independência dos seus países nas ex-colónias portuguesas).

              
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação

              

In jornal "Público" - Edição de 5 de Abril de 2008

 

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