O pensamento social neoliberal: II - o custo e o benefício
Segundo de sete posts descaradamente «surripiados» ao João Valente Aguiar do Blog «Vinhas da Ira»:
«2 - o custo/benefício como código de leitura e de acção. A assunção de que o mercado (no sentido, da transformação da matéria, seja ela qual for, em mercadoria) é uma instituição natural e inultrapassável, cria a imagem de que a racionalização que os agentes sociais (na linguagem neoliberal não são sociais, mas tão-somente económicos) fazem das suas condutas passaria inevitavelmente por um raciocínio do tipo custo/benefício. Basicamente, o indivíduo teria que se comportar sempre de acordo com a equação “quantos mais benefícios tiver em relação aos prejuízos melhor”. Em termos muito gerais e um tanto ou quanto vagos, esta asserção até pode ser verdadeira. Qualquer pessoa na sua vida, como é óbvio, gosta de ter mais aspectos positivos do que negativos, mais bons momentos do que maus momentos. Contudo, o raciocínio neoliberal - que, curiosamente, se afirma tão natural e amoral mas que prega a moral do capital a toda a hora - equipara o bem e o mal não em termos das necessidades reais das pessoas, mas em termos dos ganhos económicos. Na base, o indivíduo e a sociedade no seu conjunto devem raciocinar na linha do custo/benefício tendo em conta os ganhos de lucratividade económica do mesmo. Por exemplo, uma determinada tecnologia na produção de componentes automóveis eleva a intensidade do trabalho, permitindo fabricar mais peças, por conseguinte, aumentando a produtividade da empresa e a correlativa lucratividade. Mas, ao mesmo tempo, considera-se que os salários devem manter-se e, num outro plano, essa nova maquinaria provoca danos nas articulações e nos tendões dos trabalhadores dessa empresa. O raciocínio neoliberal (que mais parece um reflexo condicionado pavloviano do que um uso da razão) pregará, neste caso, que como a máquina eleva os benefícios (o lucro) da empresa e baixa os custos com capital fixo, então nada melhor do que a aplicar ao processo de produção. Ora, do ponto de vista dos trabalhadores, a tecnologia não é neutra e deve estar ao serviço da satisfação das necessidades dos seres humanos e não para elevar a massa de capital à custa do rolo compressor do capital.
Debaixo do manto diáfano do pensamento neoliberal, a nudez crua da luta de classes.»
(sublinhados meus)