As pessoas não fazem nada...
«Quantas vezes não ouvimos já pessoas dizerem que em Portugal as pessoas não fazem nada, que acatam e não refilam? A verdade é que por todo o país as populações lutam em defesa dos sectores públicos de saúde e educação. Nos sectores público e privado, os trabalhadores portugueses lutam por melhores condições de trabalho, para defender a contratação colectiva, para resistir despedimentos, e combater o Código de Trabalho que o governo e o patronato querem impor. Acumulam-se os casos represálias contra trabalhadores e sindicalistas.
São muitas as lutas, mas escassa a sua cobertura mediática. Com algumas excepções, as lutas dos trabalhadores e populações recebem pouca atenção, ou atenção pouco esclarecedora. Felizmente, há um local onde há acesso garantido a notícias sobre as lutas dos trabalhadores portugueses: o jornal , o orgão central do Partido Comunista Português. Muita da informação abaixo foi recolhida das páginas do e do sitio da CGTP-IN. (Ver lutas de 2006 e 2007.)
JANEIRO 2008
- Greve (dias 1 e 2) dos trabalhadores da recolha do lixo no Porto, em protesto pelas alterações dos horários dos turnos, fixados pela autarquia
- Duas semanas de greves parciais, na primeira hora e meia da jornada de trabalho, dos trabalhadores da Moveaveiro para exigir que a Administração da empresa conclua as negociações para o Acordo de Empresa, bloqueado desde Abril do ano passado, e pague os salários em atraso. A Moveaveiro é uma empresa de capital exclusivamente municipal, a grande maioria dos seus trabalhadores são funcionários do município e os membros do Conselho de Administração são também vereadores na CMA. Quando a maior parte dos 130 trabalhadores da empresa iniciavam a concentração diante da autarquia, receberam a informação de que tinham sido dadas ordens ao banco para que se processassem os pagamentos, mas a continuação do bloqueio à negociação do AdeE obrigou os trabalhadores a prosseguirem a luta.
- Na Pinheiro da Rocha, empresa têxtil em Santo Tirso, os cerca de 40 trabalhadores com três meses de salários em atraso e que foram impedidos de trabalhar, desde 26 de Dezembro, decidiram rescindir o contrato e levar o processo a tribunal, anunciou o Sindicato Têxtil do Porto. Além destes 40 funcionários, outros 120 já tinham suspendido o contrato para recorrerem à Justiça.
- Reunidos em plenário os trabalhadores da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, com recolha de viaturas na estação de Francos, aprovou uma resolução onde acusa a administração de desrespeitar, por completo, o Acordo de Empresa e os regulamentos internos, «desprezando e violando direitos dos trabalhadores».
- Greve de 24 horas dos trabalhadores da Transurbanos Guimarães para exigir 50 euros de aumento salarial. Os trabalhadores perdem poder de compra há três anos e querem vê-lo reposto.
- Na Tribuna Pública (dia 11), junto à Assembleia da República, dos 209 trabalhadores da Gestnave e da Erecta contra as propostas de rescisão de contratos e pela sua integração na Lisnave.
- Semana de Luta e de Luto, promovido pela Plataforma Sindical dos Professores, incluindo vigília junto às instalações do Ministério da Educação.
- Greve de 48h dos trabalhadoras da Nordigal, que asseguram a alimentação na Maternidade Bissaya Barreto, em Coimbra, contra a imposição de horários semanais
- Protesto de rua (dia 17) dos trabalhadores das Termas de Vizela contra a decisão da administração da Companhia dos Banhos de despedir nove dos 58 trabalhadores.
- Concentração dos trabalhadores do distrito de Braga (dia 18) para apresentar um documento sobre a situação real do distrito.
- Concentrações em Lisboa (dia 24), frente às associações patronais e administrações de empresas de manhã , e junto da CIP e Ministério do Trabalho, com o objectivo de lutar pelo direito à negociação colectiva, por melhores salários e trabalho com direitos.
- Vitória na Valorsul: depois de 9 meses de luta, durante os quais os trabalhadores cumpriram 12 dias de greve e sofreram intervenções policiais dos corpos de intervenção da GNR e da PSP, a administração abandonou a chantagem de condicionar as negociações salariais à aceitação de retirada de direitos e o novo acordo mantém todos os direitos e as actualizações salariais têm efeitos retroactivos a todo o ano passado, foram actualizados os subsídios de turno e de apoio ao estudo de descendentes e ficou salvaguardada para próxima negociação a requalificação dos operadores semi-especializados, bem como a marcação das férias.
- Vitória nos Serviços Portugueses de Handling (SPdH) dos aeroportos, administrados pela Groundfource Portugal: depois de 20 dias de greves no ano passado, os trabalhadores viram serem-lhes satisfeitas todas as suas reivindicações. A administração vai trabalhar com as organizações representativas dos trabalhadores e deu garantias de que serão extintos, no início do Verão, os horários com turnos de 15 horas e 45 minutos, os subsídios de turno correspondentes aos horários de 16 horas foram processados e serão elaboradas novas escalas de serviço com «medidas menos gravosas para os trabalhadores».
- Protesto na Lusosider, ex-Siderurgia Nacional, que ameaça fechar equipamentos e a proceder a mais despedimentos e pressona trabalhadores efectivos a rescindirem o seus contratos. A Comissão Sindical acusa a administração de recorrer a mecanismos de tortura psicológica, nomeadamente a perseguição profissional, salarial e sindical, a ameaça de despedimento individual e muitas outras.
- Protesto do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul pelo assédio na Crown Cork & Seal, fábrica de embalagens metálicas de Alcochete, onde o director de Recursos Humanos tem por hábito visitar o balneário das operárias, na hora em que estas estão a trocar de roupa.
- Teve início a «Estafeta contra a precariedade – Lutar para garantir a estabilidade», da CGTP-IN e da sua organização de juventude, a Interjovem, para sensibilizar os trabalhadores e a população para um problema que é também de todos os trabalhadores efectivos, porque por ele estão ameaçados.
- Vigília dos psicólogos do Hospital Miguel Bombarda em protesto pelas condições daquela unidade de saúde mental, decorrente da reestruturação de serviços e contra o seu encerramento.
- O primeiro-ministro, José Sócrates, foi recebido com apupos e assobios durante a sua visita a Évora, para uma sessão do programa «Novas Oportunidades, no Porto, onde foi presidir à criação do Instituto de Inovação e Investigação, e em Leiria, junto ao hospital.
- Greve das trabalhadoras da Iberlim, em Lisboa, empresa responsável pela limpeza no aeroporto por aumentos salariais, uma actualização nos subsídios de transporte e de alimentação e o pagamento de retroactivos em falta desde 2006.
- “Dia nacional de luta” (dia 24), promovido pela CGTP-IN: mais de cinco mil representantes de centenas de milhares trabalhadores de todo o País exigiram diante da Confederação da Indústria Portuguesa e do Ministério do Trabalho, o fim do bloqueio da negociação colectiva.»