As dívidas de Clinton
Hillary Clinton suspendeu, como se sabe, a campanha eleitoral para as Primárias. Não a deu por terminada. Suspendeu-a até à Convenção.
Dentro de dois dias aparecerá lado a lado com Obama na campanha eleitoral para as Presidenciais de 4 de Novembro. Curiosa e significativamente a sua primeira acção de campanha irá concretizar-se em New Hampshire, num local onde empataram nas Primárias, uma pequena town chamada Unity (Unidade), em que cada um deles teve, exactamente, 107 votos.
Termina assim o período de dúvida e interrogação. Lado a lado irão continuar até 4 de Novembro. A própria carreira política da senadora depende disso. Poderá ser Vice-Presidente ou não. Neste momento, o que interessa é que estarão no mesmo combate.
Para trás ficam umas Primárias que fizeram História. E ficam muitas histórias por contar. Principalmente as que explicam a derrota de uma candidata que, no final de 2007, uns dias antes das Primária começarem:
a) tinha 80% de probabilidade de ganhar;
b) contava com o apoio da maioria do Partido Democrático (militantes, votantes e "aparelho");
c) tinha mais fundos e mais dadores de peso;
d) tinha um afamado marido ex-Presidente;
e) tinha "experiência" e ambição (uma enormíssima ambição pessoal);
f) contava com 60% de mulheres no seu universo eleitoral;
g) durante mais de 8 anos alargara laboriosamente os seus lobbies e influências (junto de governadores e sindicatos, de jornalistas e religiosos, de representantes das mais diversas raças, a nível nacional e internacional);
h) etc...
A sua campanha foi, no entanto, em muitos aspectos, um exemplo do que se não deve fazer. Será certamente analisada, se não por académicos e especialistas, por mim próprio, a seu devido tempo. Limito-me, neste momento, a falar do desastre da sua gestão financeira. Quem gere assim uma campanha, como poderá gerir uma barca destas?
Hillary Clinton tem dívidas a credores (até final de Abril) que ultrapassam os 9,5 milhões de dólares. Para além disso, ela própria, emprestou, à campanha, 11,4 milhões. A dívida global ultrapassará os 22 milhões. Precisa de ajuda.
No seu site da campanha continua a apelar aos seus apoiantes. Um enorme ractângulo vermelho com a palavra CONTRIBUTE apela aos que a apoiaram. Mas, pelo vistos, isso não chega. Mesmo que estejam lá as seguintes frases: "Você e Hillary podem escrever em conjunto o próximo capítulo da história da América. Ao ajudarem-nos a pagar o défice da nossa campanha, estará, também, a ajudar Hillary a eleger um Presidente Democrata e a aumentar a nossa maioria no Congresso (nota: realizar-se-ão, em simultâneo, eleições para o Congresso). Estarão a tornar possível que ela trabalhe arduamente nos assuntos que a si lhe interessam."
Obama não pode ajudar. Está impedido por lei: não pode transferir fundos da sua campanha para outra qualquer campanha, mesmo do seu próprio Partido. As receitas da sua campanha, da sua campanha são. A única coisa que poderá fazer é apelar a que os seus apoiantes vão carregar no botão CONTRIBUTE do site de Hillary. Mas ele próprio tem de contar com as despesas dos próximos meses e com as necessidades do próprio Partido.
Mesmo que sejam candidatos a Presidente e a Vice-Presidente, as receitas que recolherem não poderão servir para cobrir défices das Primárias. Trata-se de outra campanha que deverá ter contas próprias.
Hillary vai ter de resolver o problema até à Convenção, altura em que tem de fechar as contas e apresentar os resultados. Se até lá conseguir pagar aos credores (mais de 10 milhões de dólares), ainda lhe faltará resolver o problema dos seus próprios empréstimos (11,4 milhões). Se não conseguir recolher os fundos necessários, as contas serão fechadas e ela terá direito a receber, apenas, 250 mil dólares.
Aqui está. A campanha de Hillary foi suspensa. Será encerrada com o fecho das contas.
Fernando