Penalva do Castelo: Intervenção lida na Assembleia Municipal de 30 de Junho
Não há nada como a memória histórica. Ou a falta dela.
Algumas citações ao acaso:
«Recandidato-me sobretudo porque tenho confiança que, com o trabalho que vamos fazer, Penalva do Castelo irá ser um dos concelhos mais prósperos, com maior progresso, mais desenvolvimento e melhor qualidade de vida.».
Os indicadores que nos chegam de quase todos os lados e sobre quase todos os parâmetros aí estão para confrontar os desejos com a realidade. E mais não digo.
Nova citação:
«Quero concluir a revisão do PDM, de forma a solucionar os problemas de muitos conterrâneos que, possuindo terrenos, não podem construir as suas casas, em virtude de estes se encontrarem, sem justificação, numa qualquer reserva!»
Mais uma vez a “chata” da realidade aí está para responder às nossas questões: novo PDM, onde estás tu? O quê? Quando? Como? Porquê? Para quê?
Cito de novo:
«Dando sequência à aquisição de vários hectares de terrenos, quero implementar zonas empresariais no concelho.»
Ainda a realidade. Onde param as zonas empresariais? Em que estudos se baseia a sua localização? Em que condições foram adquiridos os terrenos? Zonas empresariais para quê (a pergunta é obviamente irónica)? É que todos aqui ouvimos há uns meses um vereador confessar que recebe centenas de cartas de empresas às quais não dá resposta. Isso por razões de inviabilidade, na sua opinião, do concelho de Penalva do Castelo.
Mais uma citação:
«No entanto, continuamos a defender a construção da Barragem dos Cantos, que, simultaneamente, poderá constituir um reforço e uma reserva de água para a Barragem de Fagilde, garantindo também o caudal ecológico do Rio Dão.»
Sempre a realidade. O que se fez neste sentido?
Ainda uma citação:
«O concelho tem ainda muitas necessidades ao nível de infra-estruturas, a diversos níveis. No domínio ambiental, é urgente e necessário proceder a uma profunda reformulação das fossas de diversas localidades, de forma a transformá-las progressivamente em verdadeiras estações de tratamento de águas residuais.»
Todos conhecemos a realidade… E já agora, o que se passa com a ETAR da Ribeira? Porque ainda não entrou em funcionamento?
Todas estas citações, e muitas mais poderiam ter sido trazidas aqui, são do Presidente da Câmara, Dr. Leonídio Monteiro. A fonte, o jornal «O Penalvense» de 31 de Agosto de 2005.
É caso para dizer, utilizando um ditado popular, que de boas intenções está o inferno cheio. Por razões que a razão desconhece, ou talvez não, o concelho não sai da cepa torta. Até em pequenas coisas de facílima resolução e com custos irrisórios, as situações na Câmara Municipal arrastam-se, arrastam-se, arrastam-se. Duma forma que chega a ser penosa, como sejam:
• a continuada não colocação das actas da Câmara (e também da Assembleia Municipal, diga-se) no sítio da Internet;
• a não existência de um painel informativo com o mínimo de dignidade no edifício da Câmara (inaugurado há vários anos, recorde-se);
• as infiltrações de água no referido edifício;
• a correcção das rampas nos passeios junto às passadeiras para peões;
Para só referir estas quatro, que, sublinhe-se, estão longe de esgotar o universo das situações que parece que andam, mas afinal não andam.
Não estamos perante uma fatalidade. Aqui deixo um exemplo hoje mesmo referido na comunicação social. O concelho de Mora, de maioria CDU, confrontava-se com os mesmos problemas que assolam os concelhos do interior de Portugal. A sua vereação, e não só, estudou, analisou, decidiu, procurou fundos e executou. Assim nasceu 1 dos 3 fluviários existentes em todo o mundo. Repito em todo o mundo. Num ano, de Março de 2007 a Março de 2008, recebeu 200 mil visitantes.
Por contraste-se recorde-se que Penalva do Castelo tem a primeira central hidroeléctrica de Portugal e um sistema de canais penso que único no nosso país. Qual a situação: abandonados às ervas daninhas e aos animais. Creio que está tudo dito.
António Vilarigues