Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

Os “terroristas” – de Nelson Mandela às FARC

   1. Quando foi preso pela última vez em 1962, Nelson Mandela era o comandante do braço armado do ANC, «Umkhonto we Sizwe», a «Lança da Nação». Tal prisão só foi possível por informações passadas pela CIA à polícia política do regime do apartheid na África do Sul. Mandela era considerado um perigoso terrorista e comunista. O «Umkhonto we Sizwe» manteve-se activo até ao fim do apartheid, desenvolvendo acções de sabotagem e de guerrilha, algumas das quais atingiram civis inocentes. Durante os 27 anos de prisão Nelson Mandela sempre recusou a sua liberdade condicional em troca de uma declaração de renúncia à luta armada.

A história depois da sua libertação em 1990 é por demais conhecida. O que poucos leitores deviam saber é que Mandela e o seu partido, o ANC, estiveram na lista negra do «terrorismo» americano até bem recentemente (ver o PÚBLICO de 6/7). Segundo uma lei aprovada no mandato de Ronald Reagan, poderiam deslocar-se à sede das Nações Unidas, mas não estavam autorizados a viajar no resto do território americano. Finalmente a 1 de Julho de 2008 (!!!) o Presidente Bush promulgou a lei aprovada pelo Senado a 27 de Junho.

2. A comunicação social dominante em Portugal nada disse nestes dias sobre o facto do Presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, enfrentar uma crise política grave. Sessenta parlamentares da sua base de apoio estão incriminados num escândalo de corrupção, ligações com o narcotráfico e os paramilitares. Tem um primo e conselheiro político, Mário Uribe, preso pelos mesmos motivos. O Supremo Tribunal contesta a legalidade de sua reeleição em 2006, obtida mediante a compra de votos confirmado pela confissão da ex-parlamentar Ydis Medina. Não possui uma base política sólida e nem um sucessor de confiança, o que o leva à tentação de mudar de novo as regras do jogo e tentar um terceiro mandato.

Dizer que o governo Uribe é o mais à direita da América Latina dá apenas uma pálida imagem do seu posicionamento político e ideológico. Ele e sua base de classe são com frequência comparados aos regimes nazi-fascistas. Sobretudo depois de a oligarquia colombiana ter entrado no ramo das drogas e ter criado os paramilitares. A Colômbia não é apenas o único país das Américas que vive uma experiência guerrilheira. É também campeã do mundo em assassinatos de sindicalistas e de jornalistas: mais de metade dos sindicalistas assassinados em todo o mundo.

Mais de 11.200 colombianos foram assassinados desde que Uribe foi «eleito» (não inclui os mortos em combate entre as guerrilhas e as Forças Armadas). O número de desaparecidos ronda os 30 mil. São homens e mulheres, novos e velhos, com nome. Mas a comunicação social dominante cala-se, ou refere friamente os números. Não são mediáticos. Não podem aparecer nas televisões. Jazem sob sete palmos de terra.

Aparentemente quem fala e escreve sob a Colômbia ignora também que as forças democráticas de esquerda deste país (socialistas, sociais-democratas e comunistas) estão aglutinadas no seio do Pólo Democrático Alternativo (PDA). Em 2007 o PDA elegeu 9 deputados em 166 e 11 senadores em 100. Destes 1 senador e 1 deputado são membros do PCC. O candidato do PDA às últimas eleições presidenciais na Colômbia, Carlos Gaviria Díaz, foi o 2º mais votado com 22,04% dos votos. Em 2008 o PDA conquistou, entre outros, o município de Bogotá.

Notas finais: Para quem não sabe, na Colômbia há várias organizações que se reclamam do marxismo-leninismo: o PCC, as FARC, um PCC clandestino criado pelas FARC, o PC da C (m-l), o PCC-M, o PPS.

Já por três vezes, a propósito das mentiras das sucessivas administrações americanas, indiquei nesta coluna o sítio do National Security Archive da George Washington University. Vão lá e revisitem o inqualificável passado e presente de Álvaro Uribe e dos seus mais próximos colaboradores. Talvez revejam algumas ideias feitas…

Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
                                                                                     

In jornal "Público" - Edição de 11 de Julho de 2008

                                                           

4 comentários

Comentar post

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Links

  •  
  • A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    H

    I

    J

    K

    L

    M

    N

    O

    P

    Q

    R

    S

    T

    U

    V

    W

    X

    Y

    Z

    Arquivo

    1. 2023
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2022
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2021
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2020
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2019
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2018
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2017
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2016
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2015
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2014
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2013
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2012
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2011
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2010
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2009
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2008
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2007
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D