O PCP, as FARC, a Colômbia e a América Latina
O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) afirmou que a sua força política rejeita «qualquer criminalização da resistência» e que não aprova os «métodos» utilizados pelas Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC).
Em declarações aos jornalistas no final de um encontro, em Lisboa, com Renato Rabelo, seu homólogo do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Jerónimo de Sousa sustentou, porém, que, criticar os métodos das FARC não implica a «glorificação do regime proto-fascista» do Presidente colombiano, Alvaro Uribe.
«Em relação às FARC, optámos por um voto muito silenciado na Assembleia da República, mas combatemos toda e qualquer ideia da criminalização da resistência. Já é conhecido que nos demarcamos dos seus métodos e não temos nenhum preconceito em assumir claramente que não os subscrevemos. Rejeitamo-los», afirmou o líder comunista português.
«Mas isto não significa a glorificação de um regime proto-fascista, como é o caso do de Uribe. Não se pode esquecer também que é um regime que assassinou sindicalistas e candidatos a eleições sem que nunca se tenha levantado uma voz a denunciar essa situação», sustentou.
Questionado pela Agência Lusa sobre se ainda há espaço para movimentos revolucionários e se o comunismo está em expansão na América Latina, Jerónimo de Sousa foi evasivo.
«Não esperará, por certo, uma resposta desenvolvida. Em termos de síntese, aquilo que dizemos em relação ao caso particular da Colômbia é que sempre reconhecemos a cada povo o direito de decidir o seu próprio destino, de procurar no processo de justiça social, de justiça e de soberania que sejam eles próprios a construir esse caminho», respondeu.
«Mas propomos aquilo que consideramos justo: que exista paz na Colômbia, através de uma solução negociada e pacífica para o conflito, e que sejam encontradas soluções políticas que tenham no centro uma Colômbia democrática, de progresso e soberana», acrescentou.
Por isso, frisou, o que se passa actualmente em vários países da América Latina não pode ser apenas focalizado no caso da Colômbia.
«Há um processo em desenvolvimento, há realidades que merecem ser observadas e analisadas com rigor. Nota-se a existência de uma grande afirmação de soberania de muitos povos, como no Brasil, Venezuela, Equador, Uruguai e Bolívia», realçou.
Questionado se esses regimes poderão tornar-se, à luz do actual estado do mundo, ditaduras ou democracias musculadas, Jerónimo de Sousa lembrou que todos eles resultaram de eleições livres e democráticas.
"Democracias musculadas são classificações que eu rejeito. São muito superficiais e subjectivas. São processos que, resultante de eleições, levaram à constituição desse poder. Quanto aos seus desenvolvimentos, existem sempre incertezas", defendeu.
"Por isso é que considero que a América Latina é um laboratório social a pulsar, com desenvolvimentos positivos, pois estão a caminhar para um maior justiça, maior desenvolvimento, democracia e soberania", justificou Jerónimo de Sousa.
Sobre o encontro com Renato Rabelo, o líder dos comunistas portugueses sublinhou tratar-se de uma reunião que visa sobretudo reforçar a cooperação bilateral, acentuando a convergência de pontos de vista.
"Num quadro de reforço da cooperação bilateral, comungamos as preocupações e pontos de vista em relação à situação internacional e em relação à América Latina", ressalvou, insistindo na ideia de "laboratório social".
"Vejamos o caso do Brasil. Não é um país, mas sim um continente, com as suas contradições, as suas potencialidades. Queremos que a visita tenha um resultado estimulante", acrescentou.
Nesse sentido, foram debatidas questões como as políticas alternativas, na acção e organização de massas, nos problemas da juventude e das mulheres, "tendo em conta o actual momento de grande dificuldade para os partidos comunistas".
Por seu lado, Renato Rabelo, cujo partido faz parte da coligação do Governo Lula, lembrou aos jornalistas que ambos os partidos "têm os mesmos ideais e princípios", embora cada um deles tenha a sua política própria.
"A importância das relações de amizade e cooperação são muito valorizadas por nós. De concreto desta reunião saiu a diversificação dessa cooperação. Propusemos que devemos fazer isso em todos os terrenos políticos, na organização dos partidos e aos níveis sindical e de trabalho popular", referiu o líder dos comunistas brasileiros.
"São questões como essas que interessam aos dois partidos e aos dois povos. Trabalho sindical, com a juventude, com as mulheres, diversificação. Temos muita experiência a este nível", acentuou.
In "Lusa"