A teoria de Pavlov aplicada à política
Em Março de 2008 o Comité Central (CC) do PCP marcou a realização do XVIII Congresso do PCP para os dias 29 e 30 de Novembro e 1 de Dezembro, no novo espaço multiusos/Campo Pequeno, em Lisboa. Foram decididas linhas gerais, calendário e adoptado o lema: «Por Abril, pelo Socialismo – um Partido mais forte».
Os militantes do PCP foram desde logo chamados a pronunciar-se procurando responder a uma questão: o que é que o XVIII Congresso deveria discutir. Desde Março até agora foram realizadas mais de 800 reuniões e debates envolvendo largos milhares de militantes. Os organismos executivos (secretariado e comissão política) e grupos de trabalho - já existentes ou entretanto formados -, elaboraram, discutiram e adoptaram textos. E chegaram a propostas de Teses (projecto de resolução política). Na sua reunião de 20 e 21 de Setembro os 174 membros do CC aprovaram por unanimidade esse documento.
O Projecto de Teses é um documento com mais de 54 mil palavras e perto de 360 mil caracteres (mais de 30 páginas deste jornal). Está dividido em 4 grandes áreas: Situação Internacional, Situação Nacional, Luta de Massas e Acção do PCP, O Partido.
Nele se abordam ao longo de 32 capítulos e em mais de 700 (setecentas!!!) diferentes «Teses» temas tão «anacrónicos» e «ultrapassados» como a economia mundial e a crise do capitalismo, o socialismo alternativa necessária e possível, a evolução da União Europeia, a situação económica e social do país, a evolução política e o regime democrático, a política necessária, a luta dos trabalhadores e de outras camadas e grupos sociais e das populações, as batalhas eleitorais, o quadro partidário e institucional, a alternância enquanto condição de perpetuação da política de direita, as contradições resultantes da política de direita e o espaço aberto à redução da sua base de apoio, a luta por uma alternativa de esquerda, um PCP mais forte condição fundamental para a alternativa de esquerda, para só citar alguns.
E o que têm a dizer sobre tudo isto políticos, jornalistas, comentadores e analistas? Tal como os cães de Pavlov salivavam ao ouvir determinados sons, houvesse ou não comida, também a maioria deles reage da mesma forma às três letras mágicas: PCP.
Um novo estilo de análise política anda no ar. Uma fala em «literatura de terror». Outro considera «a ideologia do PCP indefensável e politicamente sinistra». Alguns ex-comunistas e críticos insinuam em diferentes matizes que o PCP sofre de um desvio «anarco-estalinista», seja lá isso o que for, ou mesmo «estalinista». Outros ainda escrevem sobre a influência da origem operária e da falta de curso superior de Jerónimo de Sousa (ai este preconceito de classe…), para justificarem o crescimento actual do PCP e um seu «desvio obreirista» e/ou «sindicalista». Finalmente há aqueles que falam e escrevem sobre «arcaísmo», «anacronismo» «imobilismo». Sobre o conteúdo concreto das mais de 700 teses em discussão, tirando uma ou duas delas, nem uma palavra.
Estou siderado com a profundidade das críticas! Acho deliciosa e mesmo ternurenta a posição de preocupação sobre uma correcta linha ideológica do PCP por parte de alguns. E sobre o que o PCP deve fazer para evitar o seu «declínio» também. São inquietações e desassossegos que em muitos casos duram há dezenas de anos. Congresso a congresso lá vão dando sinal de si.
No artigo editado nesta coluna a 20 de Agosto de 2007 «O atrevimento da ignorância» recordei a Resolução Política aprovada, em Novembro de 2004, no XVII Congresso do PCP: «No mercado imobiliário, cujos preços têm vindo a subir a níveis demasiado elevados, subsistem riscos de um ajustamento abrupto com consequências de expressão mundial.» Como se costuma dizer «O PCP previu e preveniu»…
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 3 de Outubro de 2008