Colômbia - A propósito de uma campanha
O PCP é um partido independente que orienta as suas relações internacionais em função da sua natureza de classe e da sua posição simultâneamente patriótica e internacionalista. É o PCP que determina soberanamente as forças com que se relaciona e o modo como o faz, trate-se de partidos comunistas ou outras forças progressistas, legais ou clandestinas, no poder ou resistindo de armas na mão. O PCP conhece bem a dureza da luta e o valor da solidariedade para se deixar intimidar por campanhas de autêntico terrorismo político e ideológico como a desencadeada contra a Festa do Avante! a pretexto das sua relações com os revolucionários colombianos.
A História mostra que a luta armada é determinada pela violência da opressão e não o contrário. Lenine, já com a Revolução de Outubro no horizonte, ainda preconizou a transferência pacífica do poder para os sovietes. E se povos como os das colónias portuguesas, sul-africano, palestiniano ou timorense, cuja Resistência foi invariavelmente apodada de «terrorista» recorreram à força das armas, foi porque a alternativa era a mais negra e indigna submissão.
É a cada povo que compete escolher o seu próprio caminho libertador. Ao povo colombiano compete decidir o seu. Outro é o entendimento do imperialismo norte-americano que sempre considerou a América Latina o seu «pátio das traseiras» e que, perante a onda anti-imperialista e progressista que de desenvolve no continente, fez da Colômbia com o governo narco-militar de Uribe a ponta de lança da sua estratégia subversiva na região.
Depois de Israel e do Egipto a Colômbia é o país que recebe maior «ajuda» militar e financeira dos EUA. Não há porém «ajuda» que possa resolver os problemas sociais e políticos de um país dominado por uma oligarquia tirânica, encharcado de esquadrões da morte, com milhares de presos políticos, gangrenado pelos cartéis da droga, profundamente injusto e desigual.
E é por isso que, apesar da violência terrorista da repressão as forças democráticas resistem com grandes acções de massa, obtêm os melhores resultados de sempre nas ultimas eleições, derrotam nas montanhas as sucessivas investidas militares que há 40 anos visam destruir as forças guerrilheiras. E é por isso que, contra a vontade de Uribe e do seu patrão norte-americano, se abre hoje a possibilidade de concretização do «acordo humanitário» proposto pelas FARC de troca de prisioneiros por combatentes presos nos cárceres governamentais. Não se trata ainda da Paz, «uma paz verdadeira, assente necessariamente na justiça social» que os revolucionários colombianos há muito propõem. Mas em qualquer caso um passo na direcção certa. Por isso, em lugar de dançar a música de Washington e de caluniar e criminalizar os comunistas e demais revolucionários colombianos, os governos deveriam considerar seriamente a Carta Aberta de Raul Reis de 6 de Setembro e reconhecer às FARC a sua qualidade de força beligerante. É isso que deveria fazer o Governo de Portugal, um país que teve a sua própria revolução libertadora e cuja Constituição «reconhece o direito dos povos ( ...) à insurreição contra todas as formas de opressão». Presidindo neste momento à União Europeia, daria assim uma valiosa contribuição para a solução do conflito colombiano. É uma questão de vontade política, coragem e respeito pelos valores de Abril.
Albano Nunes, membro da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português
In «Avante!» - Edição de 13 de Setembro de 2007