Deixemos a História falar por si
O último estado judeu na Palestina durou até 587 A.C., data em que foi arrasado pelos babilónios.
Ao longo dos séculos, os descendentes dos filisteus (os palestinos), viveram sempre em paz com os judeus residentes na Palestina, que constituíam uma minoria.
Em 1917, sob pressão das organizações sionistas, o governo britânico publicou a Declaração de Balfour (nome do MNE de então). Estava criado, em meia dúzia de linhas, o mais delicado e complexo problema dos nossos dias!
“O Governo de Sua Majestade é favorável ao estabelecimento de um lar nacional judaico na Palestina, e empregará todos os seus esforços para facilitar a realização deste objectivo, ficando claro que nada será feito no sentido de prejudicar quer os direitos civis e religiosos das comunidades não judaicas da Palestina, quer os direitos e o estatuto político que os judeus usufruem noutros países”.
No ano desta declaração os judeus representavam cerca de 8% dos habitantes da Palestina. Em 1931 eram 17,5%. Em 1938 atingiam os 35%, aumentando o descontentamento dos palestinos pela forma como as colónias eram implementadas. Até 1948 mais 150.000 chegam clandestinamente, fora os que o fizeram pelas vias legais.
Em 1947 iniciam-se os confrontos armados entre judeus e palestinos. Neste mesmo ano a ONU aprova um plano de partilha do país em dois Estados: um judaico, com 1 milhão de habitantes, 510 mil dos quais árabes; um árabe, com 814 mil habitantes, 10 mil dos quais judeus. Jerusalém, cidade Santa para três religiões, ficaria com estatuto de cidade internacional. Segundo as estimativas da época, a população árabe da Palestina era de 1 milhão e 300 mil pessoas e a judaica rondava o meio milhão.
Em 1948 grupos de judeus armados destroem pelo menos duzentas e cinquenta aldeias árabes, provocando, até 1950, o exílio forçado de 900 mil palestinos. Um desses grupos (terroristas?), o Irgoun, era chefiado por Menahem Begin, futuro 1º Ministro de Israel (o primeiro não membro do Partido Trabalhista), que assinou os chamados acordos de Camp David com o Egipto em 1978. Outro, o Lehi, por Itzhak Shamir, igualmente futuro 1º Ministro. Ambos são confessadamente responsáveis pelo massacre de 250 habitantes da aldeia palestina de Deir Yassine a 10 de Abril de 1948 (a tradição já vem de longe...).
A 15 de Maio de 1948 David Ben Gurion proclama o nascimento do Estado de Israel. Com uma fronteira radicalmente diferente da aprovada pela ONU. Com um território 1/3 superior ao acordado ! A “Grande Israel” estava em marcha. O Estado Palestino era um nado-morto.
No seguimento destes acontecimentos a ONU aprova, em 1949, a resolução 194 que decide permitir aos refugiados que o desejem o regresso às suas casas com direito a compensações pela destruição dos seus bens. Só que em 1948, David Ben Gurion, então 1º ministro, declarou: “Devemos impedir o seu regresso a qualquer preço”. Hoje são mais de 3 milhões e um dos complexos problemas a resolver no âmbito dos acordos de paz.
Os estados Árabes não reconhecem o Estado de Israel. Erro político crasso, que continua até aos nossos dias (excepto Egipto e Jordânia) e que tem contribuído para alimentar, de parte a parte, políticas antidemocráticas e militaristas. Além disso anexam, em 1950, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
De 1948 a 1965 (a primeira acção armada da Fatah contra Israel realiza-se a 1 de Janeiro de 1965), durante 16 anos, os palestinos lutam politicamente no interior dos territórios ocupados. Ninguém os ouve.
Na sequência da Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupa o resto da Palestina (Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém-Leste). Ao arrepio da resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, nesse mesmo verão a colonização dos territórios ocupados começa com a construção de novos colonatos. Lucidamente David Ben Gurion defende a não colonização, prevendo as consequências da transformação do seu país em potência ocupante.
Em 1970 rebentam graves confrontos entre o governo jordano e a Organização de Libertação da Palestina (OLP). Há milhares de mortos. É o “Setembro negro”. A OLP é esmagada e o núcleo dirigente transfere-se para o Líbano. Uma parte da sua direcção envereda pelo terrorismo individual, opção que só terminará em 1974. Inicia-se a política de “olho por olho, dente por dente”. A cada atentado Israel responde com a liquidação física de dirigentes da resistência palestina. Em 1974 a ONU confere à OLP o estatuto de membro observador.
Mais de 34 anos depois esta política mantém-se, sem grandes resultados práticos à vista. O estado de Israel tem sido advogado de acusação, de defesa, juiz e carrasco de extremistas e de activistas palestinos. E nunca falha! Israel diz que é terrorista e está dito!
A tensão entre Israel e os estados Árabes vizinhos mantém-se. Guerra de 1973, dita do Yon Kippur. Invasões sucessivas do Líbano, a mais grave das quais em 1982, chefiada por Ariel Sharon. Este promete ao seu governo e aos seu povo conquistar Beirute em 24h. Leva 76 dias! Pelo caminho massacra milhares de refugiados palestinos indefesos. ArielSharon é considerado criminoso de guerra no seu próprio país, Israel.
A luta política e sindical prossegue ao longo de todos estes anos no interior dos territórios ocupados. Traduzindo-se, por exemplo, na eleição sucessiva de presidentes de câmaras na Cisjordânia ocupada. Em estreita aliança com as forças de esquerda de Israel, facto que é ocultado pela generalidade da comunicação social. Arrostando com incompreensões, perseguições e ostracismos, comunistas e seus aliados, de ambos os lados da barricada, são praticamente as únicas forças políticas no terreno a cooperarem mutuamente na defesa de uma solução pacífica. O PC de Israel é, espante-se, o único partido político israelita, que conta nas suas fileiras com militantes árabes e judeus. Por esse facto foi, e é, apodado de traidor. O PC Palestino (Partido do Povo Palestino) manteve sempre relações com forças políticas israelenses, defendeu sempre o direito à existência do Estado de Israel. Por esse facto estava (até 1987) proibido de integrar a OLP.
Em 1987, dirigido pelas forças políticas do interior dos territórios ocupados, e durante alguns meses não apoiado pela OLP, inicia-se um levantamento que passaria à história como a 1ª Intifada. Os governos de Israel vêem-se confrontados com uma situação inteiramente nova, para a qual não estavam manifestamente preparados. Como resposta, para reprimir manifestações, em lugar da polícia enviam o exército. As consequências não se fazem esperar. Mortos, mortos e mais mortos.
Um convite à reflexão. Desde 1987 até hoje nunca vimos um bastão, um escudo e viseira, um canhão de água israelita a pôr fim às manifestações. Mas vimos soldados armados de metralhadoras, carros blindados e até helicanhões.
Para desacreditar a luta, os serviços secretos de Israel recorrem a todos os meios. O Hamas, movimento radical islâmico, defensor da luta terrorista e contrário ao reconhecimento do estado de Israel é legalizado em 1987. Estranha decisão! Ou talvez não, já que o Hamas, combatia com o mesmo ardor a Intifada e a direcção da OLP.
A fome, a miséria, a frustração, a humilhação, o desrespeito mais elementar do direito internacional e dos direitos humanos, conduziram, em 21 anos, à transformação do Hamas de movimento insignificante em pesadelo de Israel. Ainda por cima com apoio significativo da população palestina. Podemos fazer uma comparação com os americanos e Bin Laden: usaram-no e depois perderam-lhe o controle.
Em Setembro de 1993 Israel e OLP reconhecem-se mutuamente. Quarenta e seis anos depois das resoluções da ONU! São assinados os Acordos de Oslo. Com o assassinato de Itzhak Rabin em 1995 e a chegada de Benjamin Nétanyahou ao poder em 1996 os Acordos passam a letra morta. E assim continuam até hoje.
Esta é uma questão de fundo. Israel não tem cumprido os acordos que celebra com os palestinos. Hoje existem mais de 200 mil colonos instalados em colonatos nos territórios ocupados. Contrariando as resoluções da ONU. Contrariando os compromissos por si assumidos.
Durante o consulado de Nétanyahou são assassinados, em manifestações 85 palestinos. Mais de 1.200 ficam feridos. Não há nenhum atentado terrorista por parte dos palestinos.
A 28 de Setembro de 2000 o chefe do Likoud, Ariel Sharon, desloca-se provocatoriamente escoltado por dois mil (!!!) soldados, à esplanada das Mesquitas em Jerusalém, terceiro lugar sagrado do Islão. No dia seguinte dão-se os primeiros confrontos, surgem as primeiras vítimas. Inicia-se a 2ª Intifada com as consequências conhecidas.
A chamada comunidade internacional omite que, quer na sociedade israelita, quer na sociedade palestina, há forças socais e políticas bem diferenciadas. Esconde que há radicais dos dois lados da barricada. E moderados. E forças consequentes. Fala do terrorismo palestino. Mas aceita de bom grado chefes de governo que afirmam alto e bom som que primeiro há que matá-los (os palestinianos) para só depois negociar. Aceita governos onde participam partidos, com vários ministérios, que pura e simplesmente negam TODOS os direitos aos palestinos.
Recorde-se que o Estado de Israel tem um dos melhores - em capacidade, competência e experiência - exércitos do mundo. Os palestinos não têm exército, só polícia. O Estado de Israel tem uma poderosa e eficaz força aérea. Os palestinos não têm força aérea. O Estado de Israel tem um dos mais competentes e eficazes serviços secretos do mundo: Os palestinos não. Israel é um Estado soberano. A Palestina não.
Sociedade israelita
Composta por 5 milhões de judeus, 1 milhão de árabes e 250.000 imigrantes não judeus. Ao contrário do que se procura fazer crer, é profundamente dividida.
Antes de mais existe uma divisão étnica que marginaliza os sefarditas, ou “orientais” (judeus oriundos do mundo árabe) e os falashas (judeus da Etiópia), relegando-os para o escalão mais baixo da pirâmide social.
Divisão que se sobrepõe mesmo ao fosso religiosos/laicos e às rivalidades entre as diferentes comunidades de imigrantes.
Acrescente-se a existência de 1 milhão de palestinos, cidadãos israelenses, que beneficiam apenas de direitos parciais pois não são judeus (a ONU recenseou dezassete leis que discriminam os cidadãos árabes israelenses).
O inimigo exterior parece ser, por quanto tempo ainda (?), o único factor de coesão.
Sociedade palestiniana
Se etnicamente é mais coesa politicamente é igualmente dividida. Alguns dos movimentos extremistas mais conhecidos sofrem mesmo da influência exterior oriunda de diferentes países árabes (Irão, Síria, Iraque, etc.), que tentam contabilizar a seu favor e influir politicamente na Resistência Palestiniana.
A população da Cisjordânia e Faixa de Gaza eleva-se a 3 milhões de habitantes, dos quais metade são refugiados dentro do seu próprio território, vivendo 600 mil em campos que são autênticos guetos. Outros 3 milhões de refugiados (recenseados pela ONU), vivem espalhados por diferentes países árabes. Onde constituem um factor de perturbação social e política permanente, nomeadamente pela sua cultura, pela sua tolerância religiosa e pela sua atitude em relação ao papel da mulher na sociedade. Daí o desejo desses países em verem-se livre deles.
Este carácter progressista dos palestinos face ao mundo árabe mais retrógrado, é algo que a dita comunidade internacional parece não ter, ou não querer, entender.
Partido Comunista Português
Os comunistas portugueses, desde 1947, que defendem o direito à existência do Estado de Israel. “A questão palestiniana assume particular importância neste quadro. Só com a retirada do exército israelita para as posições anteriores às ocupações de 1967 e a destruição do muro sionista; só com o desmantelamento de todos o sistema de colonatos israelitas que tornam a vida deste povo insuportável; só com o fim do cerco a Gaza; com o reconhecimento, plasmado em inúmeras resoluções da ONU, do direito do povo palestiniano à edificação do seu Estado, livre, independente e viável com capital em Jerusalém Leste, lado a lado com Israel e com a solução da questão dos refugiados palestinianos de acordo com as resoluções da ONU. Só verificadas todas estas condições é que poderemos falar de uma real paz justa e duradoura na região.”
A realidade é que “ (…) Falamos de “feridas” ao nível da convivência pacífica dos povos e do intercâmbio de valores culturais e civilizacionais que poderão demorar décadas, senão mais, a sarar. É tempo de parar, de reflectir nas consequências que terá para toda a humanidade a prossecução destas políticas. É tempo de dar espaço à paz, à resolução política dos conflitos e à vontade genuína dos povos.” (PCP em 2006/07/25)
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