Confundir o toucinho com a velocidade
A propósito destes comentários (AQUI, AQUI, AQUI e AQUI) a um meu artigo apetece-me dizer o seguinte:
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Sinto-me desvelado, palavra que sinto, com a estranha unanimidade destes bloguistas sobre o meu estado de espírito ao escrever o referido artigo.
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Tenho a informar, para quem me lê regularmente (como é o caso) não é novidade, que NUNCA me sinto «consolado» ou «satisfeito» a falar da existência de repressão, guerra, mortes, desemprego, pobreza.
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Como me ensinou a minha avó materna, se há quem ponha na nossa cabeça estados de alma em que nunca pensámos, é porque os próprios assim pensam. Será este o caso?
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Curiosamente, ou talvez não o essencial fica de fora: durante mais de meio século toda a população do globo, comunistas incluídos (o autor destas linhas também) foram educados nos milhões de mortos nos anos da direcção de Ióssif Vissariónovich Djugashvíli - Stáline.
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Há 20 anos (1989) foi criada na então URSS (por Gorbatchov) uma comissão multidisciplinar, composta na sua maioria esmagadora por pessoas anti regime. A sua finalidade era elaborar o primeiro estudo documentalmente baseado das repressões do regime soviético entre 1921 e 1953.
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Os resultados dos seus trabalhos foram publicados em 1993 na Rússia de Iéltsine. Os relatórios finais - com cerca de 9.000 (nove mil) páginas estão há disposição de quem os quiser ler e estudar.
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Os números revelados não foram contestados. Mas convém contextualizá-los. De 1921 a 1953 a URSS conheceu uma guerra civil. Uma invasão por 18 países. Um quase total cerco político, militar e económico. Uma guerra (1941-45) que provocou mais de 25 milhões de mortos (quase metade do total de mortos em todo o planeta durante a II Guerra Mundial) e a destruição de 1/3 da riqueza nacional. A guerra-fria.
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Desde então o que sucedeu está relatado no meu artigo: em 16 anos apenas uma entrevista a um órgão de comunicação social fora da Rússia. Por sinal o direitista espanhol La Vanguardia. De resto uma ignorância absoluta, um silêncio sepulcral.
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Nos últimos 16 anos chefes de estado, ministros, embaixadores, políticos, comentadores, analistas, jornalistas, todos a uma só voz, repetiram até à exaustão os milhões de mortos (que desde 1993 se sabem ser falsos) de Conquest, Soljenítsine, Medvedev e outros. Na mesma falsa base foram aprovadas resoluções em areópagos internacionais e em parlamentos nacionais.
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O essencial da «mensagem» (chamemos-lhe assim) do meu artigo está expressa na citação de um homem de direita - Rafael Poch: «(…) a guerra-fria acabou há uma década [há 16 anos] e já é hora de a propaganda dar lugar à história, e a conjectura ao documento.»