Artigo 38.º: Silêncios e preconceitos
«O Estado assegura a liberdade e a independência dos órgãos de comunicação social
perante o poder político e o poder económico.»
in Constituição da República Portuguesa.
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Na semana passada, muitos militantes e amigos do PCP devem ter ficado surpreendidos com a quantidade de notícias e comentários envolvendo o Partido, devido à apresentação da moção de censura. Mas desengane-se quem pensar que isto vai ser sempre assim e que tal cobertura representa uma mudança de atitude e critérios por parte da generalidade da comunicação social – ou melhor, de quem nela manda. Aliás, mal tinha terminado a discussão da moção de censura e já tudo parecia voltar à normalidade...
A cobertura noticiosa do 9.º Congresso da JCP, realizado no sábado e no domingo, é já um exemplo disto mesmo. Durante dois dias, mais de 500 delegados debateram aprofundadamente a situação da juventude portuguesa e aprovaram as propostas da JCP para a educação, para o emprego, para a habitação – em resumo, para o seu futuro. Tratou-se de uma grande realização do Partido e de uma iniciativa ímpar no quadro das organizações juvenis portuguesas.
Mas a TVI, a TSF e a imprensa escrita não deram qualquer atenção a este grande Congresso – certamente para melhor poder alimentar o preconceito em torno de um partido que afirmam (e desejam) envelhecido e sem qualquer poder de atracção para a juventude, para dar consistência à tese presidencial de uma juventude alheada da luta pelos seus direitos e aspirações... A força demonstrada no grande desfile de sábado à noite, com largas centenas de jovens, somada à que emanou do Congresso, eram, por si só, suficientes para derrubar qualquer uma destas teses. Mas também aí a estação de Queluz de Baixo não esteve lá para ver, acompanhada, nesta ausência, pela estação pública.
Como já tinha acontecido noutras tomadas de posição sobre o mesmo assunto, a sessão pública sobre «Nacionalizações e Democracia Económica», realizada no dia 18 em Setúbal, não mereceu qualquer cobertura informativa. Talvez como nenhuma outra, a proposta do PCP de afirmar o controlo público dos sectores estratégicos da economia – banca, energia, telecomunicações, transportes… – é totalmente silenciada, certamente porque para os centros de decisão do grande capital, com a influência que têm naquilo que é publicado ou difundido, é tema que não interessa.
Não é difícil de imaginar como seria complicado justificar as novas privatizações se fosse claro para todos que, por exemplo, e como disse Jerónimo de Sousa, a dívida pública tivesse passado de 57,8 para 77,2 por cento do PIB dezoito anos depois da primeira vaga de privatizações...
Entretanto, Marcelo Rebelo de Sousa, o comentador oficial da política de direita, fez a sua reentré televisiva, agora na TVI, e não encontrou melhor do que defender e justificar a política do Governo e atacar o Partido que mais intransigentemente a combate, o PCP. Mas à falta de motivos sérios, fê-lo recorrendo a questões laterais e provocatórias da entrevista de Jerónimo de Sousa à TSF e ao DN, no caso sobre futebol. A continuar assim (como sempre foi, aliás) espera-lhe certamente uma longa vida de comentador de televisão.
O livro de Carlos Brito, que ainda nem foi lançado, tem merecido parangonas em jornais e revistas e vários minutos de televisão. Não falando do facto de se atacar quem já cá não está para se defender, isto prova sobretudo uma coisa: que o rótulo de ex-comunista é uma via segura para as luzes da ribalta.
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In Jornal «Avante!» - Edição de 27 de Maio de 2010
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