Não lhes perdoeis, senhor, que eles sabem o que fazem!
Nuclear Israel - Desenho de Carlos Latuff (Latuff2 on deviantART)
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Andam chefes de estado, e primeiros-ministros, e ministros dos negócios estrangeiros, e diplomatas, a agir como fariseus.
E donos de impérios da comunicação social, directores de televisões, rádios jornais e revistas, chefes de redacção e editores, a comportarem-se como Pilatos.
Todos eles sabem, mas escondem-nos, que em 1947 (não, não é gralha, é mesmo 1947), na sequência da 2ª Guerra, a ONU aprovou a criação, no território da Palestina, de dois Estados: um árabe e outro judeu.
Sabem, mas não nos dizem, que as leis básicas do Estado de Israel (não há uma Constituição escrita) proclamam o seu carácter teocrático, ou seja, que Israel existe porque Deus assim o quis e quer.
Sabem, mas escondem-nos, que há várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU obrigando Israel a retirar dos territórios ocupados na sequência da Guerra de 1967. Israel não desocupa.
Sabem, mas escondem-nos, que há igualmente várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU proibindo expressamente a Israel a construção de colonatos nesses mesmos territórios. Israel constrói.
Sabem e não actuam. Sabem e não denunciam. Neste planeta há um Estado, Israel, onde sucessivos governos se têm dado ao luxo de tripudiar sobre as resoluções da ONU perante a quase total e completa passividade e impunidade da chamada comunidade internacional. Que outro País se pode gabar do mesmo?
Onde estão os paladinos da liberdade e democracia? Denunciaram a situação? Aplicaram sanções? Bombardearam Israel? Desembarcaram as suas tropas?
Pactuam com sucessivos governos que, ao arrepio do Direito Internacional, rotineiramente bombardeiam e ocupam um país vizinho, o Líbano.
Convivem placidamente com quem se arvora ao mesmo tempo em advogado de acusação, juiz e carrasco, liquidando fisicamente, sem ao menos apresentar provas e levar a julgamento, quem diz serem os culpados dos atentados.
Não reagem quando, a um só tempo, se aniquilam as infra estruturas policiais da Autoridade Palestiniana e se lhes exige que persigam os autores dos atentados.
Assistem plácida e silenciosamente à utilização desproporcional de forças na repressão de manifestações (que outro país as reprimiria com helicanhões e tanques?).
Calam que Israel tem um dos melhores exércitos do mundo e que a Autoridade Palestiniana não só não tem exército, nem força aérea, como já pouco ou nada lhe resta de forças policiais.
Aceitam de bom grado chefes de governo que afirmam alto e bom som que primeiro há que matá-los (os palestinianos) para só depois negociar. Governos onde participam partidos, com vários ministérios, que pura e simplesmente negam TODOS os direitos aos palestinianos.
Neste contexto chegam a ser patéticos alguns apelos feitos aos palestinos. Alguém está a imaginar um presidente de uma nação a dizer algo de parecido com «cidadãos do meu país, por favor não se suicidem com bombas, não o façam!»? Cidadãos esses que acreditaram na Paz e que hoje não têm nada, nem mesmo o mais elementar: água, gaz, electricidade, comida, alojamento, emprego.
Contudo a esperança existe. É redentor saber, que, nesta situação, parte significativa da população de Israel considera que a única solução para a crise é a criação de um Estado Palestiniano. É redentor ver que, à direita, ao centro e à esquerda há quem, em todo o Mundo, exprima a sua indignação.
Felizmente que há quem, dentro e fora de Israel, desmascare os Vendilhões do Templo e esteja disposto a correr com eles.
Adaptação de um artigo meu editado no jornal «Público» na Páscoa de 2002
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