Morte de Dias Lourenço é "uma grande perda" para o Partido Comunista publicado 16:24 07 Agosto '10 TextoÁudio O histórico militante do PCP António Dias Lourenço morreu este sábado aos 95 anos. Protagonista, em 1954, de uma espectacular fuga do Forte de Peniche, o dirigente comunista passou 17 anos encarcerado nas prisões do regime de Salazar. O PCP vê no desaparecimento de Dias Lourenço uma “grande perda” e salienta a “força indestrutível” que sempre demonstrou. twitter Nascido em 1915 em Vila Franca de Xira, António Dias Lourenço começou a trabalhar como operário ainda criança. Torneiro mecânico de profissão, entrou para o Partido Comunista Português em 1932. Tinha 17 anos de idade. No seio do PCP, fez parte do Secretariado, de 1957 a 1962, e integrou a Comissão Política, em 1956 e de 1974 a 1988. Foi também responsável pelo Avante! entre 1957 e 1962. A partir da primeira edição legal do jornal do partido, em 1974, assumiu as funções de director, que cumpriria até 1991. De 1975 a 1987 foi deputado ao Parlamento, tendo integrado a Assembleia Constituinte. Dias Lourenço foi preso por duas ocasiões, em 1949 e 1962. Ao todo, permaneceu encarcerado 17 anos. Em 1954 evadiu-se do Forte de Peniche. Regressou, então, à clandestinidade. Seis anos mais tarde, ajudaria Álvaro Cunhal e outros nove prisioneiros a escaparem do Forte, assegurando a componente logística da fuga e o suborno a um guarda republicano.
Numa recente entrevista à Antena 1, Dias Lourenço recordava a mudança de escala dos guardas do Forte de Peniche que obrigou a antecipar a fuga do grupo de Cunhal.
"Guardou sempre os segredos do partido" Ouvido pela agência Lusa, Albano Nunes, do Secretariado do Comité Central do PCP, lembrou a fidelidade de António Dias Lourenço "à condição de trabalhador e de operário".
"Apesar dos problemas e dificuldades que atravessou em diversos momentos, demonstrou sempre uma força indestrutível, mas também uma grande alegria e grande confiança na luta. Era um camarada muito vivo, muito combativo, muito determinado, muito fraternal, que com grande facilidade ganhava simpatia e confiança daqueles com quem trabalhava, fossem membros do partido, fossem aliados na nossa luta e no movimento democrático e antifascista", disse o dirigente comunista.
"Ninguém contestará", prosseguiu Albano Nunes, "que a vida e a luta de António dias Lourenço é inseparável e está estreitamente ligada a mais de 70 anos de vida dos trabalhadores e do povo português".
"Foi violentamente torturado, mas guardou sempre os segredos do partido e do seu povo", lembrou ainda o membro do Secretariado do Comité Central.
"Uma pessoa combativa e persistente" Em declarações à rádio pública, o antigo deputado comunista Octávio Teixeira recordou Dias Lourenço como "uma pessoa combativa e persistente". "Foi o primeiro membro da direcção do PCP que conheci logo a seguir ao 25 de Abril. Eu na altura fazia parte da direcção do Sindicato dos Economistas, que na altura se chamava Sindicato dos Comercialistas, e fui convidá-lo para ele participar numa sessão de homenagem a Bento de Jesus Caraça", contou.
"O Dias Lourenço, como pessoa, era de facto muito combativo, muito persistente na luta pelos ideais que sempre abraçou. Era muito seguro nas suas ideias, mas estava sempre disponível para debater as suas próprias ideias e ouvir outras opiniões. Era uma pessoa muito simples", assinalou Octávio Teixeira.
O antigo secretário-geral Carlos Carvalhas afirma, por sua vez, que Dias Lourenço era "um homem de grande humanismo e de grande verticalidade", a quem "a história recente do país e do PCP muito ficam a dever". Mas também "um ser humano de grande amabilidade e um grande conversador", que tinha "sempre uma palavra de incentivo para com os mais jovens e para com aqueles com mais dificuldades".
O corpo de António Dias Lourenço está em câmara ardente na Casa Mortuária da Igreja de São Francisco de Assis, em Lisboa. O funeral realiza-se no domingo, pelas 16h30, no Cemitério do Alto de São João.