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O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

A culpa é do «sistema»

Entrámos no 4º ano do actual ciclo de crise do sistema capitalista. E os indicadores apontam para a sua continuação. No final de 2010 o número de desempregados, só nos países do chamado G7, pode ultrapassar os 36 milhões (o dobro de 2007). E a nível mundial a OIT prevê que sejam 240 milhões. O produto mundial contrai-se pela primeira fez desde a segunda guerra mundial. Em 2009 a redução em 12% do comércio mundial foi a maior dos últimos 80 anos.

A humanidade iniciou o século XXI com as 280 (!!!) maiores fortunas do planeta a deterem mais riqueza do que 2 mil milhões de pessoas (30% da população do globo…). Dez anos depois a situação alterou-se para pior.

Hoje, mais do que nunca, o Homem tem os conhecimentos e os instrumentos científico técnicos para acabar com a pobreza e a miséria na Terra. Dispõe dos recursos materiais para assegurar as condições de vida necessárias ao livre desenvolvimento das capacidades de cada um dos quase 7 mil milhões de habitantes do planeta. Possui os recursos humanos, em quantidade e em qualidade, com as competências necessárias para levar a cabo essa realização.

Trata-se de pôr a satisfação das necessidades humanas como a principal prioridade da organização económica, do trabalho social de uma sociedade. Trata-se de valorizar o trabalho, para criar as condições objectivas para a transformação da sociedade. Trata-se de colocar como objectivo das relações sociais de produção, da actividade económica, não o lucro, mas a satisfação das necessidades humanas.

A prática de quase 200 anos demonstra que tal não será possível sem que a questão da propriedade e da apropriação privada das condições de produção seja posta em causa. Ou seja, pôr em causa a relação social (de exploração) que o capital corporiza. Qualquer outro caminho será sempre uma «fuga para frente». Conjunturalmente até poderá apresentar uma «saída», mas que não resolverá os limites e as contradições internas do sistema.

A distribuição da riqueza é o espelho do que atrás se afirmou. Sabe-se que o aumento dos salários e das pensões é uma condição essencial para o desenvolvimento económico e social. O aumento do poder de compra das pessoas e da satisfação das suas necessidades, fomenta a procura interna e consequentemente a actividade económica. Gera novos empregos e contribui de forma efectiva para a sustentação da segurança social. Mas também é uma condição para afirmação e fruição de direitos políticos, sociais e culturais.

Como se costuma dizer «o dinheiro existe, está é mal distribuído». Os activos detidos pelas CINQUENTA maiores empresas multinacionais não financeiras representavam em 2008 14% do produto mundial e era equivalente aos activos detidos pelas CINCO maiores empresas multinacionais financeiras.

O cenário é semelhante em Portugal. Em 1975 a parte que as remunerações, sem incluir as contribuições sociais, representavam do PIB (Produto Interno Bruto) era de 59%. Depois assistiu-se a uma diminuição sistemática, alcançando com o governo de Sócrates, em 2009, menos de 34%! O país tornou-se mais desenvolvido com esta brutal inversão na distribuição da riqueza? É óbvio que não.

Mas, em paralelo, os grandes grupos económicos e financeiros entre 2004 e 2009 tiveram 32,8 mil milhões de euros de lucros líquidos. E as fortunas das QUATRO famílias portuguesas mais ricas totalizam 7,4 milhares de milhões de euros (quase metade do défice!!!). E um gestor executivo de uma empresa do PSI 20 ganha, em média, mais de 50 mil euros brutos mensais (1 666 euros por dia). Há quem, com mais sorte, chegue aos 8 500 euros/dia.

Utilizando uma conhecida expressão de «futobolês», podemos concluir que «a culpa é do sistema». A solução passa pela sua superação.

Nota final: A base de licitação do BPN é de 180 milhões de euros. Isto depois de o banco público, a CGD, ter injectado 4 mil e quinhentos milhões de euros (25 vezes mais!!!) para sanear as contas do referido banco. A educação e o decoro impedem-me de escrever o que penso. Fica à imaginação do leitor.

Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação

In jornal "Público" - Edição de 6 de Agosto de 2010

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