Manipulação descarada
Desde o início do ano – segundo o economista Eugénio Rosa –, o IEFP já eliminou dos ficheiros dos Centros de Emprego 343.303 (!!!) desempregados. Só em Julho de 2010 foram «limpos» 49.106! E não há qualquer explicação pública sobre as razões por que o faz. Esta situação dura há anos. Em Maio de 2009, por exemplo, o presidente do IEFP, num programa da Antena 1 e da RTPN, afirmou que o IEFP tinha eliminado, durante o ano de 2008, 535.656 (!!!) desempregados dos seus ficheiros.
Confrontado com estes dados, que são os divulgados pelo próprio IEFP, o seu presidente acusa e proclama que há «manipulação». No entanto não os nega. Este é um «estranho fenómeno» (a «culpa», para variar, começou por ser atribuída à informática) que sucede todos os meses no IEFP. E apesar de ser um «fenómeno» recorrente, o seu presidente, Francisco Madelino, tem-se recusado sistematicamente a explicar as suas causas.
Efeito prático: na «Informação Mensal do Mercado do Emprego» que o IEFP divulga todos os meses, não consta o número de desempregados que são eliminados dos ficheiros, nem as respectivas razões. Os números do desemprego registado assim obtidos têm, obviamente, servido para a propaganda governamental. Isto apesar de sabermos que o desemprego registado não inclui a totalidade dos desempregados. Mas apenas aqueles que tomaram a iniciativa de se inscreverem nos Centros de Emprego.
Como já escrevi várias vezes, um dos problemas quando se aborda o tema desemprego é o grande peso dos dados numéricos. Esquecemo-nos com demasiada frequência que por detrás de cada desempregado(a) está uma pessoa concreta. Com os seus sonhos, as suas esperanças, as suas ambições. Com a sua realidade familiar. Está um pai, uma mãe, um filho, uma filha, um irmão, uma irmã. Muitas vezes, demasiadas mesmo, está uma família inteira.
O aumento do desemprego é sinónimo de dificuldades económicas para centenas de milhar de famílias. É sinónimo de dificuldades no acesso a bens e serviços essenciais. É sinónimo de novas vagas de emigração. É sinónimo de degradação das condições de vida. É sinónimo de endividamento. É sinónimo de situações de pobreza, miséria e exclusão social.
Raramente é, ao contrário do que diz a cartilha neoliberal, sinónimo de «novas oportunidades». Por isso haja vergonha e ponha-se fim a esta manipulação descarada.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In "Jornal do Centro" - Edição de 3 de Setembro de 2010
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