Os lucros das Agências de Notação
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Quadratura: redução de uma figura geométrica a um quadrado. Quadratura do círculo: impossibilidade absoluta, utopia (Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa, Porto Editora).
Mandantes (o poder económico) e executantes (o governo) das actuais políticas ditas de austeridade, mais os defensores do pensamento único, estão mergulhados num conjunto de quadraturas do círculo.
Como já aqui escrevemos, esta crise resulta, por um lado, da contradição entre a sobreprodução e sobreacumulação de meios de produção. Por outro, da contracção dos mercados e níveis de consumo decorrentes das desvalorizações salariais e abismais assimetrias de rendimentos, agravadas pelas reduções das despesas públicas e pouca solvabilidade de inúmeros países.
Durante dezenas de anos a fio tivemos o crédito a suprir a perda de poder de compra. O crédito a compensar a concentração de riqueza. A procura não foi alimentada por aumentos reais dos salários e pensões. Pelo contrário.
A substituição dos salários dos trabalhadores e dos rendimentos da população – incluindo pensões – pelo estímulo ao crédito numa espiral de endividamento, serviu inteiramente o propósito da extracção de benefícios pelos detentores do capital financeiro. Mas não só se revelou insuficiente e transitória, como se tornou num factor central de aprofundamento da crise.
Desencadeada a crise (Agosto de 2007) operou-se uma fuga para a frente que visa salvaguardar os interesses daqueles que detêm o poder no e do sistema. E que dele não pretendem abdicar, vendo na crise uma oportunidade de o concentrar e centralizar ainda mais e de condicionar cada vez mais a vontade dos povos. Espelho desta realidade, a centralização e concentração do capital e da riqueza realizam-se a um ritmo sem precedentes.
As colossais e obscenas dívidas do sistema financeiro foram assumidas pelos Estados. Pelo menos 14 biliões de euros (14.000.000.000.000), mais de 80 (!!!) vezes o PIB de um país como Portugal, foram injectados pelos bancos centrais e pelos governos, só no sistema financeiro. E o capital criou a chamada crise das «dívidas soberanas» dos Estados.
Em Portugal, entre ajudas directas, garantias, avales, BPP, BPN, isenções fiscais e outras que tais em 4 anos não andamos longe do equivalente a 30% do PIB!
As medidas ditas de combate à crise revelaram uma duplicidade extrema. Para o capital mais poder, mais apoios, mais lucros, mais liberdade, mais Estado e espaço institucional. Para o trabalho: menos direitos, menos liberdade, menos poder, menos Estado, menos democracia e menos soberania.
Os planos de resgate da Troika, a tal pseudo «ajuda» externa, mais não visam que defender o sistema financeiro mesmo que à custa da bancarrota do país. Os programas de austeridade, sejam os PECs, sejam os orçamentos do estado, não pretendem relançar a economia, nem criar bases sólidas de sustentabilidade do sistema. Aliás um estudo do próprio FMI, publicado em Outubro de 2010, conclui-se que “em dois anos, uma consolidação fiscal [orçamental] equivalente a 1 por cento do PIB tende a reduzir o PIB em aproximadamente 0,5 por cento, aumenta o desemprego em cerca de 0,3 por cento, e reduz a procura interna (consumo e investimento) em aproximadamente 1 por cento”. Mais claro não podia ser!
Recordemos que o défice orçamental é de, números redondos, 15 mil milhões de euros. Porque não se tributam a banca e os grandes grupos económicos com a taxa efectiva de IRC de 25% (o que renderia 500 milhões de euros, mínimo)? Ou as transacções em Bolsa (mínimo de 135 milhões de euros)? Ou as transferências financeiras para os offshore (cerca de 2200 milhões de euros, base 2009)?
A distribuição da riqueza é um espelho da sociedade. Sabe-se que o aumento dos salários e das pensões é uma condição essencial para o desenvolvimento económico e social. O aumento do poder de compra das pessoas e da satisfação das suas necessidades, fomenta a procura interna e consequentemente a actividade económica. Gera novos empregos e contribui de forma efectiva para a sustentação da segurança social. Ou seja, se não se resolver o problema económico não se poderá resolver o problema financeiro.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 8 de Julho de 2011
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Agências de notação: Submissão do governo ao grande capital acentua especulação
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Há mais de 2 anos escrevia: «Dez biliões de euros (10.000.000.000.000) em 20 meses. Mais de 50 vezes o PIB de um país como Portugal. Ou 30 apartamentos com 150 metros quadrados de área cheios de notas de 500 euros até ao tecto. Tal é a verba injectada pelos bancos centrais e pelos governos, só no sistema financeiro, desde Agosto de 2007. Há um ano este número, a todos os títulos obsceno, era dez vezes menor. E não se vislumbra quando parará de crescer.» E ainda não parou…
Os governos acorreram a salvar o capital financeiro na primeira explosão da actual crise. A banca, as sociedades financeiras, as companhias de seguro, os fundos, receberam dos cofres dos Estados milhões de milhões de Euros. De mão beijada, à borla. As dívidas privadas foram assim transformadas em dívidas públicas.
Em consequência os Estados endividaram-se. Mas o saque não parou.
Na zona euro, onde o roubo organizado assume requintes de cinismo, os governos não podem contrair empréstimos junto do Banco Central Europeu (BCE). Como resolver a questão? Fácil!
O BCE empresta aos bancos privados a uma taxa de juro de 1%. Ou seja, por cada 1 milhão que pedem emprestado pagam 10 mil euros de juros. De seguida «emprestam» aos Estados a taxas de juro de 7, 8, 9, 10% e mais. Isto é, por cada 1 milhão que «emprestam» recebem em troca 70, 80, 90, 100 mil euros ou mais. Traduzido: um lucro entre 600 e 900 por cento!!! Ou mais…
Quem não gostaria de ter um negócio assim? Mas a coisa não fica por aqui. De seguida, pegam nos títulos da dívida, os tais que segundo eles são um grande risco e daí as elevadas taxas de juro que cobram, e vão apresentá-los como garantia junto do BCE para novos empréstimos. É a agiotagem no seu melhor.
E o roubo prossegue através da manutenção dos enormes privilégios fiscais de que continuam a gozar os grupos económicos. Segundo o Relatório do Orçamento do Estado, o governo de Portugal prevê PERDER, só em 2011, 1.370 milhões de euros (!!!) de receita fiscal resultante de benefícios fiscais concedidos a empresas (no período 2005/2011, são 12.263 milhões de euros). Acresce que uma grande parte (como os resultantes das isenções de mais-valias e de lucros distribuídos que não são tributados), não é contabilizada.
Como tentam pagar todo este saque? Transferindo para os trabalhadores e os povos os custos do roubo.
É disto que trata o Pacto entre as Troikas. Dele falaremos em próximo artigo.
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In "Jornal do Centro" - Edição de 24 de Junho de 2011
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Global Europe Anticipation Bulletin (inglês, francês, castelhano, alemão)
Laboratoire européen d'Anticipation Politique (inglês, francês, castelhano, alemão)
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Há precisamente um ano escrevia: «Dez biliões de euros (10.000.000.000.000) em 20 meses. Mais de 50 vezes o PIB de um país como Portugal. Ou 30 apartamentos com 150 metros quadrados de área cheios de notas de 500€ até ao tecto. Tal é a verba injectada pelos bancos centrais e pelos governos, SÓ NO SISTEMA FINANCEIRO, desde Agosto de 2007. Há um ano este número, a todos os títulos obsceno, era dez vezes menor. E não se vislumbra quando parará de crescer.» E ainda não parou…
Este era, e é, o cenário a nível mundial. À escala em Portugal o panorama é idêntico. Lembremos, só para não ir mais longe, as dezenas de milhar de milhões de euros injectados na banca nacional, ou os quase 3% (sim três por cento!!!) do PIB gastos na voragem do escândalo do BPN.
Os recentes movimentos especulativos do capital financeiro visando a economia portuguesa são expressão do carácter estrutural e sistémico da crise actual do capitalismo. O capital financeiro recebeu dos cofres dos Estados milhões de milhões de Euros. Mas é exactamente o mesmo que agora especula sobre a fragilidade das contas públicas criada por esses mesmos apoios e pela dependência económica.
Os governos acorreram a salvar o capital financeiro na primeira explosão da actual crise. Mas são os mesmos que, lamentando «os ataques especulativos e a turbulência dos mercados», correm a aprovar novos planos de exploração capitalista. São os mesmos que estendem o tapete ao saque do capital financeiro e transferem para os trabalhadores e os povos os custos do roubo.
José Sócrates e Passos Coelho reuniram-se em nome da ameaça especulativa. Mas o que decidiram traduz -se na entrega de ainda mais dinheiro aos especuladores, num prémio a quem especula e chantageia.
O que PS e PSD adoptam como «saída para a crise» são novos cortes nos salários, no subsídio de desemprego e noutras prestações sociais, o alargamento da jornada de trabalho, a privatização de serviços e empresas do Estado. É a política de «os pobres que paguem a crise».
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In "Jornal do Centro" - Edição de 14 de Maio de 2010
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«No mercado imobiliário, cujos preços têm vindo a subir a níveis demasiado elevados, subsistem riscos de um ajustamento abrupto com consequências de expressão mundial.» (Novembro de 2004).
Quem escreveu esta tese, prevendo e prevenindo a crise financeira, económica, social e política que eclodiu no verão de 2007 e na qual ainda estamos mergulhados? Foi alguma das tão célebres agências de rating, com que a comunicação social dominante nos bombardeia todos os dias? Não. Por mais estranho que isso possa parecer a muitos dos leitores, a origem é a Resolução Política aprovada, em Novembro de 2004, no XVII Congresso do PCP.
Mas o que são e o que fazem as chamadas agências de rating (em inglês é sempre mais in…), em português notação financeira? Segundo as próprias, «o rating é uma opinião sobre a capacidade e vontade de uma entidade vir a cumprir de forma atempada e na íntegra determinadas responsabilidades.»
Nestas coisas, mais que as belas teorias, importa analisar a prática recente destas agências. Lembremo-nos que elas não previram as implicações da crise das subprimes, ou do afundamento do Lehman Brothers e da AIG, ou dos fundos de Bernard Madoff, nem da crise do Dubai. Em 2008 classificaram a Islândia com a notação mais elevado: AAA+. Dois dias depois o governo islandês anunciava ao mundo a sua falência…
Estas agências são contratadas por instituições para avaliarem o risco de outra empresa ou país acerca de sua capacidade de amortização de dívida. Estabelecem assim o spread a aplicar no financiamento. Elas são dependentes, do ponto de vista legal e mesmo financeiro, do governo dos EUA e dos grandes bancos.
Um exemplo prático desta realidade: enquanto está a ler este artigo, a dívida nacional dos EUA é de aproximadamente 12 milhões de milhões (trillion) de dólares (embora cresça tão rapidamente que é difícil estabelecer um número exacto). Se todo o dinheiro na posse de todos os bancos, negócios e indivíduos dos Estados Unidos fosse reunido hoje e entregue ao governo dos EUA, não seria suficiente para liquidar a dívida nacional deste país.
Pois bem, qual a notação de risco atribuída aos EUA pelas referidas agências? Adivinhou. O famoso Triplo A que permite obter empréstimos ao menor custo.
É muito instrutivo constatar como o discurso destas agências evolui subtilmente. Atinge-se por vezes o mais absoluto surrealismo quando se lêem as suas considerações. Há algumas semanas defendia-se a eterna explicação de que a qualidade intrínseca das economias e da gestão dos EUA e do Reino Unido eliminava todo e qualquer risco de incumprimento de pagamentos por parte dos seus respectivos governos. Hoje advertem que a partir de 2010 será preciso demonstrar esta qualidade e estas aptidões de gestão a fim de manterem a sua notação máxima: AAA+.
Isto quando 48 dos 50 Estados que constituem os EUA se declararam publicamente incapazes de cumprir as suas responsabilidades financeiras. A título de exemplo, sublinhe-se que a cessação de pagamento da Califórnia (12% do PIB dos EUA) é infinitamente mais portadora de desestabilização do dólar e da economia americana que a actual crise da Grécia.
É pois fácil de constatar que estas agências não sabem (ou não podem) antecipar este tipo de evolução. Então de onde vem o seu «poder»? Recorde-se que, na sequência da actual crise do sistema financeiro, os Bancos Centrais restringiram as disponibilidades de liquidez ilimitadas e a baixo custo. Ora os bancos são pela natureza da sua actividade, as empresas que mais recorrem ao endividamento. A banca é o primeiro veículo que permite ir buscar dinheiro ao exterior, o que leva a que seja a primeira afectada com os custos do financiamento. É para responder às necessidades de financiamento dos bancos que os Estados devem travar o seu endividamento.
Não é preciso ser bruxo para adivinhar as cenas dos próximos capítulos…
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 02 de Abril de 2010
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São cada vez mais e mais alarmantes os alarmes para a crise económica e financeira que se avizinha a passos largos.
O Real Banco da Escócia (RBE) aconselhou os clientes a prepararem-se para um crash em grande nos mercados globais das bolsas de valores e do crédito nos próximos três meses devido à paralisação dos principais bancos centrais.
"Vamos ser apanhados por um período horrível - preparem-se", disse Bob Janjuah, o estratega de crédito do banco.
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