Quem os ouve a apelar à unidade das forças partidárias para fazer face à crise achará que é uma ideia simpática ao ouvido. Mas como se expressa e concretiza? Que unidade é essa e em torno de que política? Fechar os olhos ao proteccionismo e aos lucros abissais do grande capital económico e financeiro e aceitar com resignação a pobreza, os baixos salários, baixas reformas e pensões, as alterações gravosas do Código do Trabalho? Alinhar com a socialização dos prejuízos dos banqueiros e calar face às privatizações de empresas, de serviços públicos da saúde, da educação? Considerar com fatalidade e em unidade contemplativa a destruição do aparelho produtivo e da produção nacional na agricultura, nas pescas, na pequena indústria e no pequeno comércio e consequentemente o desemprego inevitável? Ou seja, os apologistas da concertação e, particularmente, o que o Presidente da República e José Sócrates propõem não é a unidade para salvar o país da crise! O que propõem é unidade para salvar, manter e branquear a mesma política e os mesmos partidos políticos que têm graves responsabilidades na situação actual. Isso não é unidade! É resignação!
No fundo o que querem é o povo a dar “pau e costas” para defender uma política de direita.
Nesta concertada campanha dos arautos do capital “à volta do país ingovernável” sem Sócrates, para dar mais crédito e mais força ao seu apocalíptico cenário, passaram apelar ao “cerrar de fileiras” à volta do governo e até à unidade das forças partidárias para fazer face à crise. Os apologistas da “concertação estratégica” e os seus principais responsáveis têm vindo a acompanhar o coro.
É da parte destes sectores [os grandes interesses e o grande capital] que hoje se desenvolve, de forma cada vez mais concertada, uma campanha política e ideológica para justificar, por um lado, a inevitabilidade do prosseguimento das actuais políticas e por outro, fundamentar a inexistência de outra qualquer alternativa ao PS que nestes quatro anos de governação foi ocupando crescentemente o espaço da direita.
É inquestionável que os grandes interesses e o grande capital jogam toda a sua influência e o seu poder e o seu domínio sobre o aparelho ideológico, nomeadamente sobre o concentrado sistema mediático para garantir o prolongamento da vida do governo do PS de José Sócrates e com isso continuar a assegurar seus interesses.
Estes anos de governo do PS têm sido anos dourados para os grandes grupos económicos e para a corte, principesca e escandalosamente remunerada, que os serve e garante a sua crescente influência no poder político, o seu domínio absoluto sobre a economia nacional e o país.
Caso escandaloso é o do grupo EDP e REN, principal distribuidor eléctrico nacional que foi privatizado e que depois de alcançar mais de 1000 milhões de euros de lucros, impôs aumentos superiores a 5% nos preços da energia eléctrica para os consumidores em 2009.
O país está em recessão mas a crise não é para todos.
Só durante os nove primeiros meses do ano de 2008, os lucros dos 9 principais grupos económicos foram superiores a 4000 milhões de euros, entre esses grupos estão os 5 principais bancos que alcançaram mais de 1500 milhões de euros de lucros.
Quando se impunha o aumento dos salários e das pensões, o estímulo ao consumo interno e ao nosso aparelho produtivo, a reclamação junto das instâncias internacionais de outras condições para a defesa do país, a resposta do Governo perante a crise foi a disponibilização de milhares de milhões de euros para a banca, foi a ajuda directa aos banqueiros que se livraram dos prejuízos.
O governo que afirmava que o país estava agora mais robusto e melhor preparado para enfrentar toda e qualquer crise, acaba o mandato em recessão com o país a produzir menos, mais pobre e mais endividado e com graves problemas sociais, num país mais desigual no plano social e regional e com os direitos à saúde, ao ensino, à segurança social e à justiça mais fragilizados.
Prometeu muito este governo do PS. Anda há praticamente quatro anos a promover um suposto sucesso da economia portuguesa e apregoar a modernidade da sociedade portuguesa, mas o que já é seguro é que terminará o seu mandato sem cumprir nenhum dos grandes objectivos económicos e sociais que anunciou ao país.