Os capitalistas mandaram, e o Governo, obediente, satisfeito, abanando todas as caudas, obedeceu. E o Caderno de Encargos para o Concurso de Subconcessão do Metro do Porto e dos STCP foi alterado. Para entregar mais por menos – aos capitalistas – e para sacar mais por menos – aos trabalhadores e utentes.
Para termos uma ideia da pouca vergonha, basta dizer que o contrato passa a garantir que os capitalistas receberão mais de mil milhões de euros pelos 10 anos de subconcessão das duas empresas. Sim, não me enganei a escrever nem a fazer as contas: são mais de mil milhões de euros pagos aos capitalistas que ficarem com a subconcessão. Mas além desta «pipa de massa», estes recebem o direito de explorar os equipamentos públicos colocados à sua disposição (alugueres, publicidade, actividades comerciais diversas, etc.), recebem autocarros de borla, e o Governo mantém nas empresas públicas as actividades deficitárias. É o que se chama um maná.
Mas não contentes com o maná, os capitalistas ainda ordenaram, e conseguiram, que o contrato inclua uma cláusula que permite, logo a partir do segundo ano, que os pagamentos sejam livremente decididos entre os capitalistas que se apropriaram da subconcessão e os representantes dos capitalistas que estiverem a administrar os STCP e a MP. Ou seja, um cheque em branco.
Estivéssemos num debate e nesta altura poderiam perguntar-me: mas o Governo não tinha prometido que com a privatização deixava de haver Indemnizações Compensatórias? Ao que eu teria respondido: e qual é a novidade de ver o Governo a mentir? Além de que, tecnicamente, nem é mentira, pois estes pagamentos deixam de chamar-se Indemnizações Compensatórias...
Estamos perante um assalto, onde os governantes entregam as chaves do cofre aos seus cúmplices. E perante o roubo, que fazem os jornalistas? Investigam ou limitam-se a fazer copy/paste de notas de imprensa? E que faz o Tribunal de Contas? Protege o interesse público ou mantém-se calado até o roubo estar consumado como acontece sempre no caso das PPP? O que fazem todas as «instituições» desta nossa sociedade? Expõem os limites em que vivem: os da ditadura da burguesia.
E insubmissos a esses limites e à ditadura, os trabalhadores lutam!
São hoje bem conhecidas as trágicas consequências da crise económica na vida da classe operária e dos trabalhadores visto que a crise já dura há mais de cinco anos enquanto, em todos os países afectados, todas as medidas bárbaras seguem na mesma direcção e todas elas têm o mesmo objectivo: reduzir o preço da mão-de-obra a um nível extremamente baixo, abrir novas oportunidades de rentabilidade no período da crise, sobretudo após a esperada recuperação que será débil e mais ou menos de curta duração.
Actualmente temos uma experiência ainda mais rica, não só por causa da Grécia mas também dos estados-membros da UE, em especial dos membros da zona do euro, e ainda da crise nos EUA em 2008 e não só. Além disso, temos a experiência bem recente das crises na Rússia, na Argentina e nos chamados tigres asiáticos.
Consideramos que o movimento dos trabalhadores e os partidos comunistas em todos os países devem lutar a fim de que o povo clarifique o carácter da crise e, em simultâneo, seja detida a deterioração da vida das populações, para uma saída em prol do povo.
A Grécia continua a atrair a atenção de trabalhadores de muitos países de todo o mundo, considerando as novas e crucialmente importantes eleições parlamentares, as quais serão efectuadas a 17 de Junho, pois nenhum dos três partidos que receberam maior número de votos pôde forma uma coligação de governo. De particular interesse, a julgar pelos artigos relevantes em jornais, revistas e sítios web comunistas e progressistas, estão os resultados das eleições recentes bem como a linha política traçada pelo Partido Comunista da Grécia (KKE), o qual ficou na linha de fogo de vários analistas neste período. Mas vamos começar pelo começo.
«1. O resultado da eleição leva ao reforço da tendência para a renovação da cena política, tal como foi formado durante três décadas com a rotação da ND e do PASOK no governo uma vez que estes partidos sofreram uma pesada derrota. A reversão da cena política, na forma que assumiu com o resultado da eleição, não constitui qualquer viragem (overthrow) política. Nas condições de justificada cólera e indignação, prevaleceu a lógica da punição e a ilusão de que existem soluções imediatas a partir de cima e através de negociações. No entanto, o resultado da eleição mostra a tendência positiva que está a ser esboçada, a tendência para uma viragem radical ao nível de força contra as ilusões de uma solução fácil. Apesar do declínio espectacular da ND e do PASOK o resultado da eleição não constitui uma nova era na correlação de forças entre o povo e os monopólios, uma viragem ou uma "revolução pacífica" como tem sido dito.»
«Os resultados da eleição mostram definitivamente uma reversão do cenário político que nos é familiar, a interrupção da rotação dos dois partidos, PASOK e ND. Estamos a mover-nos para uma fase transicional onde haverá uma tentativa de criar um novo cenário político com novas formações, novas figuras com uma orientação de centro-direita ou baseada numa nova social-democracia que terá o SYRIZA como núcleo, destinada a impedir a ascensão do radicalismo do povo que levaria as coisas rumo a um verdadeiro derrube [da reacção] em favor do povo. Haverá uma tentativa de formar um governo ou a partir destas eleições ou de eleições a seguir, um governo composto por todos os partidos, ou um governo de unidade nacional, ou uma coligação governamental destinada precisamente a impedir a criação de uma maioria que lute pela mudança.»