Quem, tendo vivido os derradeiros momentos do fascismo, não se recorda dessa antológica cena de ópera bufa envolvendo o encontro dos altos comandantes das Forças Armadas com o então presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, pomposa cerimónia que entrou na gíria popular como sendo a da «Brigada do Reumático»?
Passados cerca de 36 anos, com novos actores, em circunstâncias políticas diferentes e a pretexto da actual situação do país, mas repetindo o mesmo guião «operático-reumatismal», assiste-se, no Palácio de Belém, ao encontro entre o Presidente da República e um vasto conjunto de ex-ministros das Finanças, todos eles com vastos currículos políticos, académicos e profissionais.
(…)
Nenhum deles, e muito menos o anfitrião, tiveram qualquer culpa na situação actual. Longe disso, afirmam também a pés juntos as conhecidas e consabidas vozes do dono.
Não carregam com o peso de nenhuma responsabilidade. Nenhuma.
(…)
Com efeito, incluindo o actual Presidente da República:
Nenhum deles pugnou pela descaracterização da nossa Constituição designadamente na parte em que havia um projecto racional, progressista e patriótico para o nosso modelo de desenvolvimento, em oposição à irracionalidade vigente, cujos efeitos imediatos e cujas prolongadas consequências estão à vista de todos.
Nenhum deles estimulou e/ou criou condições para essa grande negociata que foi a privatização do sector empresarial do Estado, parte do qual está na posse de accionistas estrangeiros, por via de um esquema em que os accionistas nacionais foram meros intermediários num negócio entre o propositado baixo preço inicial da venda do nosso património e a sua posterior revenda, a preços de mercado, possibilitando a todos aqueles a quem foi atribuído um lugar na manjedoura do Estado uma enorme acumulação de capital.
Nenhum deles esbanjou o dinheiro proveniente das privatizações, antes pelo contrário, investiram tais verbas na dinamização e modernização do nosso tecido produtivo, conferindo-lhe um confortável valor acrescentado.
Nenhum deles concordou com a forma fraudulenta como foram alienadas várias instituições bancárias do sector empresarial do Estado (quem não se lembra, entre outros, do caso Fonsecas & Burnay?), bem como da cumplicidade do sistema financeiro do Estado no financiamento a privados no assalto destes às empresas que haviam, no processo revolucionário, sido nacionalizadas.
Nenhum deles defendeu e propôs o abate da frota pesqueira, o abandono da agricultura, a alienação da marinha mercante e a desindustrialização, na justa medida em que sabiam de tais consequências no desequilíbrio da nossa balança comercial e no stock acumulado da dívida externa.
O Castendo está em condições de revelar em, primeira mão, o mais recente estudo de Medina Carreira sobre a saída da crise. Na opinião deste ex-ministro das finanças Portugal só poderá sair da crise se o Sport Lisboa e Benfica ganhar este ano a Liga Sagres e a Liga Europa. E mais não disse. O Castendo aguarda os desenvolvimentos...
«Mesmo antes de começarem as negociações entre os sindicatos da Função Pública e o governo, para a fixação dos salários para 2010, "conhecidos especialistas" (Medina Carreira, Silva Lopes, etc.), com acesso fácil aos grandes media, defenderam que os "salários na Função Pública não devem aumentar em 2010". Silva Lopes, que abandonou o Montepio com mais um reforma, e com 400.000 euros, e que agora é administrador da EDP renováveis onde naturalmente ainda ganha mais, "retratou o aumento salarial como uma fábrica de desemprego". Todos estes "especialistas" têm em comum o facto de não conhecerem a Função Pública, de não a estudarem, e de não apresentarem quaisquer argumentos válidos para o que dizem. Mesmo com inflação negativa em 2009, o poder de compra dos trabalhadores diminuiu -6% entre 2000 e 2009.
Na Administração Pública Central, de acordo com dados divulgados em Novembro de 2009 pelo Ministério das Finanças, as "Despesas com pessoal" referentes aos dez primeiros meses de 2009, foram inferiores às de idêntico período de 2007 em -16,1% (menos 1.714,3 milhões de euros), enquanto as despesas com a "Aquisição de serviços" também nos dez primeiros meses de 2009 terem sido superiores, às de idêntico período de 2007, em + 11,6% (mais 70,5 milhões de euros). Portanto, com "aquisição de serviços", ou seja, com a contratação de empresas privadas, incluindo grandes escritórios de advogados e consultores, para fazer trabalho que antes era realizado por trabalhadores da Administração Pública, não tem havido restrições.»
1. Agora Obama é o Presidente dos EUA e os problemas que enfrenta não se resolvem com discursos e disputas eleitorais. Aqui, como aí, e, talvez, um pouco por todo o mundo, no entanto, não se vai ao fundo das questões. Tem mais interesse falar da morte de um artista que deixou de o ser há muito, de um acidente de avião que não deveria ter sido autorizado a levantar voo, de um governador (Carolina do Sul) e sua amante, da última vitória futebolística do Brasil, do custo do Cristiano Ronaldo, ou das coisas do tempo, porque, como se sabe, chove na época das chuvas e faz calor nos tempos de haver sol até fartar...
2. Para que não pensem que a situação é apenas grave nesse rectângulo à beira mar plantado, aproveito para vos dizer que, finalmente, se sabe quem ganhou as eleições para Senador de Minnesota. Poderão pensar que nada tem a ver uma coisa com a outra. Mas, na minha modesta opinião, tem mesmo muito a ver... com o estado em que se faz política e, portanto, em que se enfrentam os problema reais que atingem as pessoas reais, como nós.
3. As eleições foram em 4 de Novembro do ano passado, lembram-se? No dia em que houve eleições para Presidente dos EUA, em que concorreram dezenas de candidatos mas em que só se falava do Obama, do McCain e da Sara Pallin... Nessa mesma data houve eleições várias e diversos referendos...
4. Passaram-se 9 meses!!!!!!!!!!!!!! Contaram-se e recontaram-se 3 milhões de voto. Apresentaram-se recursos, reclamações, razões e desrazões,... Tudo porquê? Porque, se se confirmasse a vitória do candidato do Partido Democrático, este passaria a ter 60 dos 100 Senadores e, portanto, a maioria qualificada necessária para poder votar sem problemas (há votações que, no Senado, exigem esse número de votos). Tudo isto provocado pelo Partido perdedor (o Republicano) e o seu derrotado candidato que, entretanto, porque já era Senador, continuou a ocupar o seu cargo e a recusar levantar o seu republicano assento da cadeira do poder em que se havia instalado!!!!!!!!!!!!
5. Imagine-se que isto se passava (se fosse possível) em Portugal!...
6. Não são necessários comentários. Ouça-se Medina Carreira e imagine-se o que vai por esse mundo fora. Aqui, na capital do império em derrocada, a situação é bem pior: maior a nau, maior a tormenta.