Aos 17 anos Maria Alda Nogueira está na faculdade de Ciências. Será uma aluna brilhante. «Num curso quase exclusivamente feminino». Talvez porque implicava trabalho de laboratório e culturalmente as mulheres ligam-se à cozinha.
Algumas alunas desistiram pelo caminho. Só uma seguiu a investigação. A maioria foi para o ensino.
«Embora inicialmente eu seguisse para o ensino com o tempo entusiasmei-me com a investigação.»
Ao mesmo tempo que participa nas lutas académicas, como em 1942/43 contra o aumento das propinas, Maria Alda intensifica a intervenção, a actividade social e política. Envolve-se no combate pela paz espontaneamente.
Era o tempo das aldeias à míngua de cereais, as populações carentes dos géneros que iam para alimento das tropas nazis, as longas bichas de racionamento, as bandeiras negras, ondulantes de revolta nas mãos de mulheres, nas manifestações populares.
«Quando eu estava na Faculdade, ali na Rua da Escola Politécnica, soube que havia perto uma sede da Associação Feminina para a Paz, que enviava géneros par os prisioneiros dos campos de concentração nazis, que lutava pela paz e pelos direitos das mulheres e das crianças, e dirigi-me lá!
Tornei-me activista da Associação, conheci mulheres fantásticas, combativas, inteligentes, a Maria Valentina Trigo de Sousa, a Maria Helena Pulido Valente, a Glafina Lemos, assistente da faculdade, a Maria Letícia, a Francine Benoit, que dirigia o orfeão da Associação, a Manuela Porto.»
Com estas mulheres insubmissas e através delas, Maria Alda aprenderá muito.
«Aprendi imenso. Tínhamos muita correspondência a nível internacional, recebíamos filmes das embaixadas que fazíamos passar nos cinemas, para arranjar fundos para o socorro dos refugiados da guerra, aos perseguidos pelo fascismo, no estrangeiro e entre nós. Enviámos mesmo algum socorro para o Tarrafal. Simultaneamente a esta actividade funcionavam cursos de alfabetização, cursos de primeiros socorros.
Pela própria composição da Associação, pelas mulheres que a animavam, mas também pelas notícias que nos vinham dos países envolvidos no conflito, onde as mulheres ocupavam todos os postos de trabalho, começou a gerar-se a ideia de que os direitos da mulher estavam entrelaçados com a defesa da democracia, com a própria luta contra o fascismo.»
É a consciência ganha deste entrelaçar que a leva a escolher a movimentação, a luta feminina.
«Eu queria trabalhar com mulheres e pelas mulheres…»
Em 1945 conhece Maria Lamas e com ela, apoiando-a, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas renasce para um período apaixonante de actividade, de desenvolvimento. «O Conselho estava organizado só aqui em Lisboa e a Maria, tal como muitas de nós, considerava que era necessário alargá-lo a todo o país. Como eu dava aulas mas tinha uma vida bastante disponível, fui destacada para ir ao Algarve e lá consegui organizar várias delegações do Conselho, em Faro, Olhão, Silves, Montachique. Depois fui o Porto… Enfim, enraizámo-nos de facto. Tínhamos delegações na Figueira da Foz, em Coimbra, no Porto, na Marinha, nas Caldas.
Tínhamos várias actividades. Entre elas, os cursos de alfabetização. Recordo-me que em Olhão foi distribuída uma tarjeta pelas fábricas informando que no Conselho se ensinava a ler e a escrever e o largo onde eu morava e funcionava o Conselho, ficou pejado de mulheres, umas 200 ou 300, querendo vir às aulas. Foi um trabalho esgotante este, mas maravilhoso. Aprendi muito com a Maria e também ela aprendeu connosco – foi belo!»
Esta é a época do amadurecimento, em que Maria Alda se excede e se descobre nesse excesso, capaz de muito fazer e agir. Colabora nas “Mãos de Fada”, na revista “Modas & Bordados”, nas “Quatro Estações”, faz conferências sobre a mulher e a ciência. Vive. Apaixonada. Intensamente. E tal será sempre o seu modo de estar.
(continua)