A questão tem mais de século e meio. Mas ciclicamente alguns «novos» teóricos e propagandistas voltam a ela como se fosse nova e original. Referimo-nos ao terrível «espectro» dos sindicalistas, sejam eles delegados sindicais ou dirigentes, a tempo inteiro (ou mesmo parcial).
Há 120 anos a reivindicação da redução do horário de trabalho para 8 horas traduziu-se numa forte oposição dos patrões e dos seus representantes políticos. Recorreram então, sem hesitações, à violência mais extrema com prisões, assassinatos, condenação e criminalização da luta reivindicativa e da organização de associações de classe. Condenação e criminalização da luta que, passados mais de cem anos, ressurge de novo na sempre actual luta de classes.
Qual é a situação real, concreta, vivida hoje em Portugal?
De um lado, um exército de dezenas de milhar que mais não faz que estudar, analisar, propor, divulgar, propagandear, praticar, acções e medidas tendentes a assegurar aos grandes grupos económicos a reprodução do capital e a obtenção do lucro máximo. Actuam dentro e fora das empresas. Na comunicação social e nos órgãos de poder. Nos «sindicatos» amigos e colaborantes. Para isso são pagos, alguns mesmo muito bem pagos. Muitos nem têm a consciência plena das consequências dos seus actos.
Presidentes da República, 1º ministros e governos raramente falham na sua presença em conclaves das associações patronais. Sejam do comércio, da indústria ou da agricultura. Sejam de âmbito nacional ou regional. Já se a reunião é de trabalhadores do sector, salvo raras e honrosas excepções, nem vê-los. Também, como é visível a olho nu, no uso das forças de segurança os nossos governantes têm dois pesos e duas medidas. De tal forma que apetece dizer com Bertolt Brecht: «Não seria melhor para o Governo dissolver o Povo e eleger outro?»
A tradução prática desta realidade é a concretização, nestes últimos trinta e cinco anos, de uma evolução nas relações capital/trabalho, profundamente desfavorável aos trabalhadores. Quer na distribuição dos rendimentos, quer no plano legislativo. Exemplos claros são as políticas de salários e fiscal. A legislação laboral e as condições laborais. Os contratos a prazo e o trabalho precário. A lei dos despedimentos e a negociação colectiva. O controlo de gestão.
É transparente que se pretende naturalizar a exploração e eternizá-la. E de caminho, tal como Maldonado Gonelha proclamou há 35 anos, «partir a espinha à Intersindical [CGTP-IN]». Mas há quem queira e lute por uma vida digna e livre de exploração.
Há quem afronte a proibição da actividade sindical e das comissões de trabalhadores nas empresas. A perseguição e a repressão aos dirigentes sindicais e activistas e a todos aqueles que assumem a defesa dos interesses dos trabalhadores. O refinamento dos mecanismos de pressão e repressivos limitativos do simples direito à sindicalização e do direito à greve.
Há quem afronte bancos de horas e horários de trabalho de 12, 13 e 14 horas. Há quem sacrifique parte do seu descanso e da vida familiar para melhor poder assegurar a defesa dos interesses daqueles que, nos locais de trabalho, os elegeram. E há quem o faça, por decisão dos seus pares, a tempo inteiro. A lei, aliás, reconhece esse direito e por isso o consagra.
É também, e muito, graças a esses homens e mulheres, a maior parte das vezes cidadãos anónimos, que devemos os avanços civilizacionais concretizados no nosso país após o 25 de Abril de 1974. Nomeadamente, no domínio da protecção social na doença, no desemprego e na velhice, no direito à saúde, à educação. E nas condições de trabalho, nomeadamente na diminuição generalizada da jornada de trabalho, no reconhecimento no direito à organização e acção sindical em geral e nas empresas.
Percebe-se a «raiva» de uns quantos…
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In jornal "Público" - Edição de 30 de Abril de 2010
Faleceu Morais e Castro, um intelectual ao serviço da cultura e do povo português.
José Armando Tavares Morais e Castro que dentro de um mês completaria 70 anos de idade, era militante do PCP, ao qual aderiu ainda muito jovem, tendo assumido altas responsabilidades de apoio à direcção do Partido antes e depois da Revolução de Abril.
Sócio fundador do Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, integrou desde a Revolução de Abril o Sector Intelectual da Organização Regional de Lisboa do PCP, de cuja direcção continuava a fazer parte. Candidato pelas listas da CDU a Lisboa nas próximas eleições autárquicas, era actualmente eleito na Assembleia de Freguesia dos Anjos.
Destacou-se pela sua actividade enquanto advogado e grande figura da cultura portuguesa. Nas artes do espectáculo, Morais e Castro estreou-se profissionalmente no Teatro do Gerifalto. Passou pelo grupo Cénico de Direito e integrou o Teatro Moderno de Lisboa. Em 1968, é co-fundador do Grupo 4 no Teatro Aberto. Representou autores como Peter Weiss, Bertolt Brecht, Max Frisch, Peter Handke e Boris Vian. Contracenou com Mário Viegas na peça À espera de Godot de Samuel Beckett. Em 2004, interpretou O Fazedor de Teatro com Joaquim Benite na Companhia de Teatro de Almada que lhe valeu a Menção Honrosa da Crítica.
Estreou-se no cinema com Pássaros de Asas Cortadas de Artur Ramos. Participou em programas de rádio e, estreia-se na televisão em o Rei Veado de Carlo Gozzi, realizado também por Artur Ramos. Desde então, participou em novelas e séries televisivas com grande destaque para as Lições do Tonecas.
Morais e Castro era actualmente da Direcção da Casa do Artista, do qual foi sócio fundador. O seu desaparecimento deixa a cultura portuguesa mais pobre. A sua determinação e firmeza em defesa da classe operária e dos trabalhadores radicava no seu optimismo jovial e na confiança nos ideais que defendia. É com profundo pesar que o Partido Comunista Português deixa a sua homenagem a um homem que lutou toda a vida e, por isso, como afirmou Bertolt Brecht, foi, é e será um dos “imprescindíveis”.
O corpo de Morais e Castro encontra-se, a partir das 20h00 de hoje, no Palácio das Galveias em Lisboa, realizando-se amanhã, domingo, ás 15h30, o seu funeral no cemitério do Alto de São João.
Eu marchava de dia e de noite / Mais do que um dia de avanço ganhei / Só o forte tem sorte / Para o fraco é o chicote
Só o forte resiste ao combate / Sabe o coolie que não há outra lei / Ó petróleo da terra / Hei-de ter-te na guerra / Só a morte é que sabe o que eu sei
O homem conquista a vitória / Sobre o deserto e rio também / É ele que se vence e domina e alcança / O petróleo que a todos convém
A morte é para o fraco e o combate / É para o forte - foi Deus que mandou / Ao rico uma ajuda e ao pobre uma surra / Foi assim que o planeta girou
Quem cai já não torna a cair / Deixa-o ficar porque assim está bem / À mesa da fama assentou-se quem mama / É assim porque à gente convém
Só os mortos não comem à mesa / E o cozinheiro não se incomodou / E quem fez o patrão também fez o criado / Foi assim que o planeta girou
Quando tudo te corre a prazer / Vêm amigos estender-te a mão / Mas se Deus ou o Diabo / Viram tudo ao contrário / Ninguém vem levantar-te do chão
Eu marchava de dia e de noite Mais do que um dia de avanço ganhei Só o forte tem sorte Para o fraco é o chicote Mais que um dia de avanço ganhei Mais que um dia de avanço ganhei
Só o forte resiste ao combate Sabe o coolie que não há outra lei Ó petróleo da terra Hei-de ter-te na guerra Só a morte é que sabe o que eu sei Só a morte é que sabe o que eu sei
O homem conquista a vitória Sobre o deserto e rio também É ele que se vence e domina e alcança O petróleo que a todos convém O petróleo que a todos convém
A morte é para o fraco e o combate É para o forte - foi Deus que mandou Ao rico uma ajuda e ao pobre uma surra Foi assim que o planeta girou Foi assim que o planeta girou
Quem cai já não torna a cair Deixa-o ficar porque assim está bem À mesa da fama assentou-se quem mama É assim porque à gente convém É assim porque à gente convém
Só os mortos não comem à mesa E o cozinheiro não se incomodou E quem fez o patrão também fez o criado Foi assim que o planeta girou Foi assim que o planeta girou
Quando tudo te corre a prazer Vêm amigos estender-te a mão Mas se Deus ou o Diabo Viram tudo ao contrário Ninguém vem levantar-te do chão Ninguém vem levantar-te do chão
Foram-se os bandos dos chacais Chegou a vez dos tribunais Vão reunir o bom e o mau ladrão Para votar sobre um caixão Quando o inocente se abateu Inda o morto não morreu Quando o inocente se abateu Inda o morto não morreu
A decisão do tribunal É como a sombra do punhal Vamos matar o justo que ali jaz Para quem julga tanto faz Já que o punhal não mata bem A lei matemos também Já que o punhal não mata bem A lei matemos também
Soa o clarim soa o tambor O morto já não sente a dor Quando o deserto nada tem a dar Vêm as águias almoçar O tribunal dá de comer Venham assassinos ver O tribunal dá de comer Venham assassinos ver
Se o criminoso se escondeu Nada de novo aconteceu A recompensa ao punho que matou Uma fortuna a quem roubou Guarda o teu roubo guarda-o bem Dentro de um papel a lei