Inocentes, ingénuos, crédulos, cândidos, iludidos… é que não são, os muitos que partilharam da tonitruante afirmação de António Costa, inclusive ele próprio, declarando repugnante o discurso do ministro das Finanças holandês repelindo as eurobonds: “A Comissão Europeia devia investigar países como Espanha, que afirmam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus, apesar de a zona euro estar a crescer há sete anos consecutivos”.
Não, não são. Nem, certamente, apenas descobriram agora essa “repugnância” por comportamentos e posições da União Europeia (UE). Mesmo quando os cobriram com um espesso manto de silêncio e nevoeiro, quando não de amorosa e respeitável e visível cumplicidade.
Porque as coisas não começaram agora, nem agora são apenas como quer António Costa e outros, a repetição das escabrosas declarações de anterior ministro das Finanças holandês. Porque o problema não é de ministros nem de ministros holandeses. É da própria União.
Noticias de última hora: ontem todos os canais informativos acessíveis no meu pacote de televisão por cabo, TODOS - portugueses, americanos, ingleses, franceses, espanhóis, alemães, russos, Al Jazeera, Euronews - transmitiram as declarações de Bill Gates, de elogio à actuação da China no combate à pandemia do Covid-19.
Deve ter doído muito, muito mesmo, a alguns políticos, analistas e comentadores da nosso praça e em todo o mundo.
A menos que pensem que o Bill é um infiltrado a soldo do Governo da República Popular da China…
Ópera «O Barbeiro de Sevilha», de Gioachino Rossini, Foto: Met
Durante este período extraordinário e difícil, a Metropolitan Opera (Met) disponibiliza todos os dias em streaming gratuito no seu site, uma apresentação diferente.
Cada apresentação está disponível por um período de 23 horas, a partir das 19h30 até às18:30 o dia seguinte.
Face à acção e ao papel da China no combate à COVID-19, seja no plano nacional, seja no plano internacional, os sectores mais reaccionários e anticomunistas, têm intensificado a guerra de propaganda contra a China, em que a Administração Trump assume a dianteira com particular ferocidade, talvez para esconder a sua responsabilidade na ausência de resposta adequada ao surto epidémico no seu próprio país.
As autoridades chinesas têm destacado a importância da coordenação entre o controlo da epidemia provocada pelo novo coronavírus e o desenvolvimento económico e social, assim como a necessidade de realizar um duro trabalho para alcançar os objectivos definidos para o desenvolvimento económico e social em 2020, nomeadamente quanto ao combate e à erradicação da pobreza.
As autoridades chinesas têm promovido intensos esforços no sentido da retoma do trabalho e da produção, da actividade económica em geral, do funcionamento do sistema logístico e das cadeias de produção ao nível global, salvaguardando e criando emprego e procurando fazer face ao impacto adverso sobre as exportações provocado pelas medidas restritivas adoptadas em diversos países no âmbito do combate ao coronavírus.
Embora o alastrar da COVID-19 esteja a ter um profundo impacto na economia mundial e criado acrescidos e novos desafios ao desenvolvimento económico e social da China, as autoridades chinesas têm sublinhado que a situação cria igualmente oportunidades para acelerar o desenvolvimento do país, nomeadamente nos sectores da ciência e da tecnologia e no plano industrial.
Para além da salvaguarda do papel estratégico e determinante das empresas e sector públicos na economia da China, as autoridades chinesas apostam na dinamização das pequenas e médias empresas, considerando que estas «superarão definitivamente as dificuldades, com o apoio do Partido, do governo e da sociedade».
Carlos Latuff on Twitter: «Coronavírus e as prioridades de Donald Trump.»
Quando Marx escreveu que «há algo podre na essência de um sistema que aumenta a riqueza sem diminuir a miséria», não poderia ter imaginado o engenho com que esse sistema conseguiria esconder tanta miséria sob a casca da riqueza. Mas a pandemia veio revelar como é frágil a casca e podre o seu interior.
Nos EUA desvela-se, sob a casca do país mais rico do planeta, o mais indecoroso terceiro-mundismo: o povo estado-unidense está à mercê da morte. «Entre 200 000 e 240 000 americanos vão morrer», sentenciou Trump na semana passada, advertindo, contudo, que no dia 12 de Abril os estado-unidenses devem voltar ao trabalho.
De costa a costa, somam-se sinais de uma veloz desagregação:
- nunca a taxa de desemprego cresceu tanto em tão pouco tempo — em duas semanas dez milhões de pessoas perderam o trabalho;
- nunca os índices de criminalidade aumentaram tão rapidamente — só na última semana, o número de crimes aumentou 20 por cento
- e nunca se venderam tantas armas em tão pouco tempo — uma explosão de 80 por cento num só mês.
1. O presidente não agiu atempadamente: Trump demorou 70 dias até tomar a primeira medida, desperdiçando a fase mais crucial para a contenção.
2. Todos os níveis de governo falharam: a arquitectura descentralizada do poder mostrou-se inapta para enfrentar a epidemia com agilidade e consistência: de Estado para Estado, de cidade para cidade, as estratégias de contenção foram confusas, descoordenadas e lentas.
3. A OMS não foi ouvida: a Casa Branca desestimou repetidamente as recomendações da Organização Mundial de Saúde, ao ponto de recusar os kits de teste oferecidos por esta organização, criando uma escassez sem paralelo na OCDE.
4. Não há Saúde pública: em vez de um serviço de saúde público, gratuito e universal, os EUA têm um sistema baseado em seguros de saúde privados e movidos pela sede de lucro, o que deixa 60 milhões de pessoas sem acesso a cuidados.
5. Desigualdade extrema: embora Trump garanta que estão todos no mesmo barco, só alguns levam colete salva-vidas. Os pobres e os negros são, desproporcionalmente, os que mais se infectam e os que mais morrem com COVID-19. Em Chicago, por exemplo, os negros compõem apenas 30% da população mas representam 70% dos infectados.
6. O grande capital recusou sacrifícios: da indústria farmacêutica a Silicon Valley, os grandes grupos económicos se recusaram a abrir mão de um cêntimo que fosse. A GM, por exemplo, recusou-se a produzir ventiladores até ao início de Abril.
7. As ajudas são para os mesmos: Trump admitiu que o programa de alívio financeiro para a pandemia, o CARES, que pode injectar até 6,2 biliões de dólares na economia, prevê 4,5 biliões para os grandes grupos económicos e para a banca e apenas 1,7 biliões para a saúde, as pequenas empresas, os 50 Estados e os trabalhadores.
8. Os trabalhadores vivem num trapézio sem rede: Nos EUA, 32 milhões de trabalhadores não têm qualquer tipo de baixa médica paga, 45 por cento não têm poupanças e outros 25 por cento têm menos de 1000 dólares na conta. 60% não aguenta um mês sem trabalhar.
9. Décadas de cortes: há 50 anos que os organismos públicos úteis numa pandemia são alvo de cortes bipartidários. Trump, por exemplo, acabou de cortar o orçamento dos Centros de Controlo de Doenças, do Medicaid, do Medicare e do Instituto Nacional de Saúde.
10. O capitalismo: O capitalismo não procura preservar a vida, mas os lucros. É da sua própria natureza. A pandemia surge por isso para muitos capitalistas como uma oportunidade de negócio, para alguns como um prejuízo e, para muitos, como um pretexto para destruir a produção e recomeçar mais uma crise cíclica.