Face à decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas de recomendar à sua Assembleia Geral a nomeação de António Guterres como Secretário-geral das Nações Unidas, importante cargo da diplomacia internacional, o PCP salienta os enormes desafios que estão colocados a António Guterres, desde logo o da defesa e respeito do direito internacional como consagrado nos princípios e valores da Carta das Nações Unidas e a defesa da missão e papel da ONU, contrariando a perversão e instrumentalização de que têm vindo a ser alvo.
A assunção desta elevada responsabilidade por António Guterres ocorre numa situação internacional que exige das Nações Unidas uma acção determinada a favor da promoção e defesa da paz, da cooperação, do desenvolvimento económico e social, no respeito pelos direitos dos povos, incluindo à auto-determinação, e da soberania e independência dos Estados.
«O que é interessante observar é o discurso jornalístico sobre o processo, mas sobretudo sobre o candidato, e depois sobre o eleito, quase glorificado como personagem imaculada, numa narrativa frequentemente de aplauso acrítico e assumindo a nomeação para o cargo como causa nacional da qual os Media se tornaram porta-estandartes.»
«Sabemos que o antigo primeiro-ministro se demitiu para não entrar no pântano. Mas é preciso que não perca a noção de que é no pântano que vai cair. Daí que seja tarefa urgente tirar a ONU do pântano!»
«Restaurar a dignidade, a neutralidade e o balanço democrático possível na ONU;
activar e tornar eficaz o papel da ONU em todos os processos de paz justa e duradoura dos quais tem estado ausente ou onde é inoperante, como os da Palestina, do Sahara Ocidental, da reunificação de Chipre, da Síria;
envolver positivamente a ONU na neutralização dos efeitos nefastos da ressurreição do nazismo incentivada no Leste da Europa pelo fatídico golpe na Ucrânia, integrado numa corrida armamentista e de cerco realizada pela União Europeia e a NATO;
estes são apenas alguns passos do exigente programa que o novo secretário-geral tem pela frente.»
O ex-presidente israelita, Shimon Peres, morreu quarta-feira, 28 de Setembro, aos 93 anos de idade.
Peres nasceu na actual Bielorrússia em 1923, e a sua família mudou-se para a Palestina nos anos 30. Ainda jovem, Peres juntou-se à Haganah, a milícia que foi a principal responsável pela limpeza étnica de aldeias palestinas em 1947-1949, durante a Nakba.
Apesar da expulsão violenta dos palestinos ser um facto histórico, Peres afirmou que antes de Israel existir «não havia nada aqui».
Durante sete décadas, Peres foi primeiro-ministro (duas vezes) e presidente da República, foi membro de 12 governos e exerceu as funções de ministro das Finanças, da Defesa e dos Negócios Estrangeiros.
É muito conhecido no Ocidente pelo seu papel nas negociações que conduziram aos Acordos de Oslo de 1993, que lhe valeram, juntamente com Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, o Prémio Nobel da Paz. A sua carreira, porém, desmente a reputação de «pomba».
Entre 1953 e 1965, Peres foi primeiro director-geral do Ministério da Defesa e depois vice-ministro da pasta. Devido às suas responsabilidades nesse tempo, Peres foi descrito como «um arquitecto do programa de armas nucleares de Israel».
Em 1975, segundo actas secretas entretanto reveladas, Peres encontrou-se com o ministro da Defesa sul-africano, Pik Botha, e ofereceu-se para vender ogivas nucleares ao regime do Apartheid. Em 1986, Peres autorizou a operação da Mossad que raptou em Roma o técnico nuclear Mordechai Vanunu, que revelara o programa nuclear de Israel.
Os colonatos ilegais de Israel na Margem Ocidental são geralmente associados ao Likud e outros partidos nacionalistas de direita, mas de facto foi o Partido Trabalhista, com a participação entusiástica de Peres, que deu início à colonização do território palestino recém-conquistado.
Durante o mandato de Peres como o ministro da Defesa, desde 1974 até 1977, o governo de Rabin estabeleceu uma série de colonatos na Margem Ocidental.
Depois do seu papel-chave nos primeiros dias dos colonatos, em anos mais recentes Peres interveio para minar quaisquer medidas, mesmo modestas, no sentido de sancionar aprovar os colonatos ilegais.
Como primeiro-ministro, em 1996 Peres ordenou e supervisionou a «Operação Vinhas da Ira», durante qual as forças armadas israelitas mataram cerca de 154 civis no Líbano e feriram mais cerca de 351.
O incidente mais tristemente célebre da campanha foi o massacre de Qana, quando Israel bombardeou um complexo das Nações Unidas e matou 106 civis que ali tinham procurado protecção. Um relatório da ONU indicou que, contrariamente à negação israelita, era «improvável» que o bombardeamento tivesse resultado «de erros técnicos e/ou processuais».
Peres foi um dos mais importantes embaixadores de Israel a nível mundial nos últimos dez anos, enquanto a Faixa de Gaza estava sujeita a um bloqueio devastador e a três grandes ofensivas. Peres apoiou sempre a punição colectiva e a brutalidade militar.
Em 2014, durante um bombardeamento sem precedentes de Gaza, Peres branqueou mais uma vez os crimes de guerra: depois de as forças israelitas terem matado quatro crianças que brincavam numa praia, Peres atribuiu a culpa aos palestinos. O asfixiante bloqueio, condenado internacionalmente como forma de punição colectiva, foi também defendido por ele.
Peres sempre deixou claro o objectivo de um acordo de paz com os palestinos. «A primeira prioridade é preservar Israel como um estado judaico.» Foi esta a razão do apoio do Partido Trabalhista aos Acordos de Oslo, como Rabin esclareceu num discurso ao Knesset em 1995, ao afirmar que aquilo que Israel esperava de Oslo era uma «entidade palestina» que fosse «menos do que um Estado». Jerusalém seria a capital indivisa de Israel, os principais colonatos seriam anexados e Israel permaneceria no Vale do Jordão.
Entre aqueles que afirmaram a sua intenção de participar no funeral contam-se Barack Obama, Hillary Clinton e Bill Clinton, assim como o príncipe Carlos e François Hollande.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, chamou a Peres um parceiro para alcançar uma «paz dos bravos» e afirmou que a sua morte «é uma pesada perda humanidade e para a paz na região».
Num sentido diferente se pronunciou no passado dia 15 de Setembro Basel Ghattas, deputado no Knesset pela Lista Conjunta (coligação de partidos palestinos e da esquerda não sionista em Israel), ao afirmar no Facebook que «Shimon Peres está coberto da cabeça aos pés de sangue palestino».
Numa reacção relatada pela agência Associated Press, Sami Abu Zuhri, porta-voz do Hamas, disse esta quarta-feira que «Shimon Peres era o último dirigente israelita dos que fundaram a ocupação, e a sua morte é o fim de uma fase na história desta ocupação e o começo de uma fase nova de fraqueza».
Hanan Ashrawi, membro do Comité Executivo da Organização de Libertação da Palestina, afirmou que «o legado de Peres será recordado pelos palestinos como um defensor incansável do assassínio de crianças, da perpetuação da ocupação e da expulsão das suas terras dos palestinos delas originários». Wasel Abu Yousuf, também membro Comité Executivo da OLP, afirmou por seu lado que Peres «participou em todas as guerras israelitas desde o início. Foram cometidos massacres e ele foi o principal participante».
«A questão é não deixar cair no esquecimento o que Peres representa para os palestinianos e os seus vizinhos no Médio Oriente, o seu extenso currículo ao serviço do colonialismo e do apartheid, que é bem diferente da «pomba incansável» divulgada pelos meios ocidentais.»
Palestinianos juntam-se após um bombardeamento das forças militares israelitas em Khan Younis, no Sul da Faixa de Gaza, durante a operação levada a cabo em Novembro de 2012
«Os recentes desenvolvimentos da situação na Síria vêm demonstrar que o imperialismo norte-americano continua apostado na brutal guerra de agressão contra a soberania e integridade territorial da República Árabe Síria e a tentar impor o afastamento do Governo sírio, dirigido pelo presidente Bashar al-Assad. Uma criminosa guerra que enfrenta, há mais de cinco anos, a notável e heróica resistência das forças patrióticas sírias, do povo sírio.
(...)
Por mais intensa que seja a campanha de manipulação mediática, a verdade é que os Estados Unidos e os seus aliados – França, Reino Unido, Turquia, Arabia Saudita, Qatar, Israel, entre outros – continuam a intervir na Síria e a instrumentalizar os diversos grupos armados que criaram e apoiam com o objectivo de dividir e destruir o Estado sírio – aliás como fizeram no Iraque e na Líbia, com as dramáticas consequências que se conhece.»
Qualquer jornalista com uma réstia de brio profissional que sobreviva à voz de comando dos donos poderia investigar as razões pelas quais o drama do pequeno Omron mereceu destaque especial entre a torrente de episódios semelhantes. Bastar-lhe-iam um pouco de curiosidade profissional e algumas horas de trabalho.
O que aprenderia então esse jornalista?
Que, na altura em que foi tirada a fotografia e captado o vídeo, a criança não estava a ser socorrida por profissionais de saúde mas sim nas mãos de uma dita «organização não-governamental», a White Helmets (escudos brancos), uma das muitas entidades por esse mundo fora, neste caso na ocupada cidade de Alepo, que servem de cobertura a actividades da CIA, dos serviços britânicos de espionagem MI6 e dos seus congéneres holandeses IDB.
Que a White Helmets é um braço de uma empresa designada Innovative Comunications & Strategies (InCoStrad), com escritórios em Washington e Istambul, uma agência de comunicação e propaganda do MI6 e da NATO criada para o conflito sírio. Esta empresa é autora, por exemplo, dos logotipos da maior parte dos bandos de mercenários e grupos terroristas em acção na Síria, dos «moderados» ao próprio Estado Islâmico, ou Daesh, ou Isis.
Que o oportuno autor do instantâneo foi Mahmoud Raslan (Rslan, grafia usada na sua página de Facebook), um jihadista simpatizante do Estado Islâmico, membro do grupo terrorista «moderado» Harakat Nour Din al-Zenki, protegido pela Turquia e que foi um dos contemplados pela CIA com armas antitanque BGM-71.
Que o Mahmoud Raslan e o seu grupo são realmente amigos de crianças. Há pouco mais de um mês, em 16 de Julho, o «fotógrafo» e membros do seu grupo terrorista promoveram uma cerimónia de sangue na qual foi decapitado na caixa traseira de uma camioneta vermelha, em pequenos e sincopados golpes de arma branca, o garoto palestiniano Abdullah Tayseer al-Issa, de 12 anos. Fora «julgado» e «condenado» pelos «moderados» de Raslan por pertencer supostamente às «Brigadas Al-Quds». A cabeça ensanguentada da criança foi depois exibida efusivamente, como histórico troféu, cena documentada em vídeos que qualquer pessoa – nem precisa de ser jornalista – descobrirá em rede, se tiver estômago para tal.
A Sociedade israelense está permanentemente a desviar-se para a direita, pelo que todo o paradigma político do país está em constante redefinição. Israel, agora «governado pelo Governo de direita mais extrema da sua história», passou em poucos anos de uma apreciação informada a um cliché sem nexo.
De facto, ultrapassou essa fronteira exatamente em maio de 2015 quando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, já ele da mais extrema da direita, com uma maioria de pessoas politicamente afins, fanáticos religiosos e ultranacionalistas. Ao trazer para o seu redil o ultranacionalista Avigdor Lieberman, Netanyahu repete a sua arquiconhecida fórmula.
Desde 25 de maio que Lieberman se tornou ministro da Defesa de Israel. Tendo em conta a política ruidosa e violenta de Lieberman como ficou demonstrado nos seus dois mandatos como ministro das Relações Exteriores (2009-2012 e depois 2013-2015) agora como ministro da Defesa de Israel do «Governo de direita mais extrema da história» alberga todo o tipo de aterradoras perspetivas.
«De Hollande a Obama, de Clinton a May, de Merkel a Renzi, a frente do combate «contra o terrorismo» é inexpugnável. No meio deles, Benjamin Netanyahu funciona como uma referência dessa grande confraria democrática e pacifista. Ele não hesita em usar a guerra e o terrorismo contra «o terrorismo», nem que tenha de arrasar a vida de crianças, sustentar bandos de criminosos, «islâmicos» ou não, ou fazer gato-sapato do direito internacional e dos mais elementares direitos humanos.
Quando os principais dirigentes mundiais dizem que estão «em guerra contra o terrorismo» ou são favoráveis à existência de dois Estados na Palestina, mentem com quantos dentes têm na boca. E são cúmplices, disso não haja qualquer dúvida, com o terrorismo de Estado tal como é praticado por Israel.»
«O general Herzi Halevy, chefe dos serviços de espionagem militar do Estado de Israel, declarou recentemente, numa conferência em Herzlia, que “não queremos a derrota do Daesh (ou Isis, ou Estado Islâmico) na Síria”. Os seus “actuais insucessos colocam Israel numa posição difícil”, lamentou, de acordo com uma transcrição publicada no jornal Maariv, conotado com a direita política sionista.
A última coisa de que o general Halevy pode ser acusado é de usar uma linguagem hermética, hipócrita, ao contrário de tantos dirigentes políticos mundiais, de Hollande a Obama, de Mogherini a Hillary Clinton, do secretário-geral da NATO aos autocratas da União Europeia. Ele é directo, fala com clareza, respeitando, aliás, a prática do seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que se deixa fotografar em hospitais israelitas visitando terroristas da Frente al-Nusra (al-Qaida) feridos durante a agressão à Síria soberana.»
Areas of control in the Civil War, updated 30 April 2016: Tobruk-led Government Government of National Accord Islamic State of Iraq and the Levant & Ansar al-Sharia (Libya) Petroleum Facilities Guard Tuareg tribes Local forces
ALíbia tornou-se no início do século XX uma colónia italiana e durante a Segunda Guerra Mundial foi palco de importantes batalhas contra as hordas nazis. Após a Vitória, e apesar de lhe ter sido reconhecida em 1951 a independência com a imposição de uma monarquia reaccionária, a Líbia ficou praticamente sob tutela da Grã-Bretanha, que aí instalou, tal como noutros pontos do Mediterrâneo, de Gibraltar a Chipre, bases militares para impor a sua hegemonia numa vasta área de enorme importância estratégica em termos de rotas marítimas e riquezas naturais, e para fazer frente ao ascenso do movimento de libertação nacional dos povos árabes e africanos. Foi neste contexto que em 1 de Setembro de 1969 um grupo de jovens oficiais dirigidos pelo então capitão Muammar Kadhafi derrubou a monarquia e proclamou a República Árabe Líbia, expulsou os militares britânicos e norte-americanos, nacionalizou o petróleo e tomou outras medidas anti-feudais e de carácter progressista.
Desde que se constituiu como país independente a Líbia raramente conheceu um momento de sossego. O imperialismo, utilizando os mais variados pretextos, tudo fez para derrubar o seu regime, indo ao ponto de bombardear Tripoli e Bengazi para assassinar Kadhafi. Finalmente, tirando partido de hesitações e contradições da direcção líbia não hesitou em recorrer à NATO para a guerra de agressão que destruiu o país.
«É que nunca qualquer ideólogo, por mais retorcido e criativo que fosse ou seja, conseguiu imaginar algo tão democrático.
(...)
Na Líbia, o país maior produtor de terroristas islâmicos per capita, confrontam-se hoje vários governos, numerosas milícias e hordas de mercenários, dezenas de senhores da guerra e respectivos exércitos tribais. Isto é, poucas democracias serão tão ricas, multifacetadas e plurais como a que a NATO criou na Líbia.»
«O secretário norte-americano da Defesa, Ashton Carter, submeteu à Casa Branca um plano pormenorizado para levar a cabo operações militares em toda a Líbia, noticiou o New York Times. E já há boots on the ground – tropas no terreno, em jargão castrense.»
«Os dirigentes europeus podem fazer rufar os tambores de guerra contra o terrorismo, mas haja a noção de que grande parte do ruído não passa de propaganda.
As vítimas são sempre os povos do Médio Oriente e agora também os povos europeus que, caso não se previnam, além do terrorismo estão cada vez mais cercados pelo fascismo a que ele serve de pretexto.»
Erdogan não é um político, é um homem que crê ter uma missão superior. “A democracia é um eléctrico que apanhamos para nos levar até onde queremos, e depois descemos”, disse há 20 anos este homem que chefia um regime de índole totalitária, em relação ao qual a NATO não manifesta qualquer reserva, antes pelo contrário. Agora que chegou à presidência turca, em eleições adulteradas e nas quais dispôs do incentivo de dois milhões de euros doados pela ditadura da Arábia Saudita, Erdogan já suprimiu da comunicação social as vozes incómodas e, do palácio branco das mil e uma noites que fez erguer, prepara-se para consolidar a ditadura islâmica interna e institucionalizar, sem quaisquer limites, a marginalização da minoria curda.
(...)
Pelo que somos forçados a concluir que a famosa “guerra contra o terrorismo” nos principais Estados europeus serve, em primeiro lugar, para impor, paulatinamente, uma sociedade policial.
Nunca se falou tanto em terrorismo, nunca se proferiram tantas declarações definitivas sobre os esforços necessários para a extinção do fenómeno, nunca se teorizou e debateu tanto sobre a matéria e, no entanto, o papel do terrorismo na sociedade jamais foi tão influente – e fatal – como nos 15 anos que o século XXI leva de existência.
Uma das mais nefastas atitudes perante o terrorismo é a deturpação ostensiva do conceito, a sua redução a determinadas e particulares formas de violência, prática que dissimula e pretende absolver expressões organizadas e poderosas de terror quase sempre apresentadas como actos legítimos de anti terrorismo ou de «guerra contra o terrorismo».
Isto é, resumir as notícias e o debate sobre o terrorismo, como actualmente se faz, ao terrorismo dito de inspiração «islâmica» ou assimilável, é uma manobra manipuladora que pretende fazer esquecer, ostensivamente, o terrorismo de Estado ou expressões de violência que florescem à sombra deste, as quais tanto podem ser os clássicos esquadrões da morte como o patrocínio clandestino de grupos e organizações com vocação para derrubar governos e organizar golpes de Estado. Ou, como já deixou de ser segredo, organizar, treinar, armar e financiar grupos terroristas ditos «islâmicos», os quais, em boa verdade, não passam de exércitos privados de mercenários.