Neste estudo [referido por Miguel Urbano Rodrigues] o autor, Domenico Losurdo, debruça-se sobre as raízes do nazismo nos EUA.
A última guerra contra o Iraque foi acompanhada por um singular fenómeno ideológico: a tentativa de silenciar o movimento de protesto que então se desenvolveu, e que teve uma amplitude sem precedentes, lançando contra ele a acusação de antiamericanismo. E isso, mais do que uma atitude política enganadora, foi e continua a ser desenhado, na previsão de novas guerras que se apresentam no horizonte, como uma epidemia, como um sintoma de pouca adaptação à modernidade e de orelhas moucas ás razões da democracia. Essa epidemia – diz-se – é comum a antiamericanos de esquerda e de direita, e caracteriza as piores páginas da história europeia. Portanto – concluiu-se – criticar Washington e a guerra preventiva não promete nada de bom. Tem algum fundamento histórico esta tese?
Na realidade os bolcheviques sentem-se muito atraídos pela América do melting pot e do self made man. Contrariamente, outros aspectos são aos seus olhos decididamente repugnantes. Em 1924, Correpondace Internationale (versão francesa do órgão da Internacional Comunista) publica o artigo de um jovem indochinês de passagem pelos EUA, que ao mesmo tempo que admira a revolução americana, sente horror pela prática de linchamento que no sul atinge os negros. Um destes espectáculos de massas é assim descrito:
«O negro é posto a cozer, assado na brasa, queimado. Mas ele merece morrer duas vezes em vez de uma só. Por isso é cortado, ou mais correctamente, corta-se o que resta do seu cadáver…
Quando toda a gente esta satisfeita, o cadáver é baixado.
A corda é cortada em pequenos pedaços que são vendidos entre três e cinco dólares cada um».
A propósito da doença do Senador Kennedy, foram recordados hoje os seus irmãos assassinados: John e Robert. John Kennedy foi o primeiro Presidente Americano a conseguir algum entendimento entre as populações brancas e pretas. Mas o racismo permanece como um problema na sociedade americana.
O aparecimento de um candidato como Obama obrigou a América a olhar-se ao espelho. Mas há caminho para percorrer. E não é curto, nem fácil.
Por isso, aqui vão umas curtas notas sobre um assunto que incomoda e que muitos pensarão que faz parte da história passada: a KKK.
Ku Klux Klan é o nome adoptado por várias organizações de extrema-direita que advogam a supremacia branca. Distinguem-se 3 períodos na vida destas organizações que utilizam métodos terroristas, violentos e de linchamento que, inicialmente, visavam, fundamentalmente, os Afro-Americanos, os Judeus, os Hispânicos e outras minorias rácicas ou religiosas.
Primeira Klan. De 1865 a 1871. 550 mil membros. Ilegalizada pelo Presidente Ulysses Grant (Acto dos Direitos Civis, de 1871).
Segunda Klan. De 1915 a 1944. 6 milhões de membros (cerca de 15% dos eleitores de então) no pico da organização (em 1924). Apregoava o racismo, o anti-catolicismo, o anti-comunismo, o nativismo e o anti-semitismo. Era, formalmente, uma organização fraterna, com uma estrutura nacional e, também, em cada Estado.
Terceira Klan. De 1945 até aos nossos dias (com actividade especial nos anos 50 e 60). 8 mil membros, organizados em cerca de 150 grupos. Visam, fundamentalmente, opor-se aos movimentos pelos direitos cívicos e pela igualdade. São considerados ilegais e repudiados pelos media e pelos líderes políticos e religiosos. Mas ainda existem..
“Arbeit macht frei”, (O trabalho vos libertará), era a cínica divisa escrita no portão de entrada destes campos. Coube aos membros do Partido Comunista Alemão a triste honra de os inaugurar em 1934. Os comunistas alemães eram em 1933 mais de meio milhão. Alcançaram nas eleições 5,4 milhões de votos. A 8 de Maio de 1945 restavam pouco mais de mil.
Aos comunistas, tal como refere o texto (muitas vezes erradamente atribuído a Brecht) do pastor luterano alemão Martin Niemöller, seguiram-se os socialistas, os sociais-democratas, os democratas-cristãos, os sem partido.
No total existiram cerca de 1 000 destes campos. Significativamente 99% ficavam a Leste de Berlim.
A historiografia oficial ignora, ou quase, estes factos...
Mais de 13 milhões de pessoas perderam a vida sob o jugo Nazi da Alemanha de Hitler entre 1934 e 1945 em prisões e campos de concentração especialmente preparados para matar:
Cerca de 6 milhões de judeus
Cerca de 4,5 milhões de soviéticos (raramente referidos na historiografia oficial)
Cerca de 2,5 milhões de comunistas, socialistas, sociais-democratas, democratas-cristãos e sem partido de vários países da Europa ocupada
Cerca de 200 mil ciganos
Cerca de 75 mil alemães considerados «doentes incuráveis»