«Numa clara operação de manipulação da opinião pública, o governo e a “troika” têm procurado apresentar como um “êxito” da terapia de choque de austeridade que têm imposto ao país aquilo que designam por “reajustamento externo”, ou seja, a redução significativa do défice da Balança Comercial.
Vítor Gaspar, na conferência de imprensa que deu para justificar o aumento da TSU para os trabalhadores e a descida para os patrões que se traduzirá, se for aprovada, por uma transferência de 2.200 milhões € dos bolsos dos trabalhadores para os bolsos dos patrões, até apresentou esse “êxito” como a causa do aumento do desemprego, não compreendendo que isso é, da forma como está a ser feita, mais uma prova do fracasso do reajustamento do que de um êxito. Uma das características deste governo e desta “troika” é a utilização sistemática da mentira para enganar a opinião pública e a incapacidade para analisarem e compreenderem a realidade portuguesa, substituindo o estudo sério por “modelos” em folhas de cálculo “excel” pensando que desta forma resolvem os problemas. Cegos pela ideologia neoliberal, governo e “troika” pensam que a realidade depois se ajusta aos “modelos” mas isso nunca acontece. E então ficam surpreendidos, e exteriorizam-no tornando-se patéticos. Mas o mais grave em tudo isto é que estão a destruir o país e a vida dos portugueses.»
«O ministro das Finanças, Victor Gaspar, com o seu ar limitado de aluno submisso interessado apenas em ter contas certas para estar nas boas graças do ministro alemão das Finanças – mas nada preocupado com a situação dos portugueses e com a destruição da economia que está a provocar – e também o pensamento económico ultraliberal dominante quer no governo quer nos principais media, têm defendido o investimento estrangeiro em Portugal como a solução para os problemas do país. Para conseguir isso (dizem eles), têm vendido a saldo as participações do Estado em empresas importantes (EDP, REN) assim como tencionam vender as empresas públicas que ainda restam (TAP, CTT, etc.) a estrangeiros. No entanto, como revelam os próprios dados do Banco de Portugal, a esmagadora maioria do investimento estrangeiro em Portugal são aplicações financeiras, muitas de natureza especulativa que visam a obtenção de ganhos elevados e rápidos. Também o investimento de grupos económicos “portugueses" no estrangeiro, que deixaram de investir em Portugal têm, na sua maioria, as mesmas características e objectivos (são aplicações financeiras visando ganhos elevados e rápidos).
No fim de 2011, segundo o Banco de Portugal, o investimento estrangeiro em Portugal, na sua esmagadora maioria feito por grupos económicos e financeiros, atingia 468.806 milhões €, sendo investimento directo em empresas apenas 61.718 milhões € (18% do total); o restante, ou seja, 384.537 milhões € (82%) eram aplicações financeiras (em acções, em títulos da divida pública, etc) com o objectivo de obter ganhos elevados e imediatos. Também no fim de 2011, o investimento "português" no estrangeiro, maioritariamente realizado por grupos económicos, que deixaram de investir em Portugal mas que teve como fonte rendimentos gerados no país, atingia 276.830 milhões €, sendo apenas 19% (52.594 milhões €) investimento directo em empresas, enquanto 224.236 milhões € (81% do total) eram, na sua maioria, aplicações financeiras visando ganhos elevados e rápidos. É evidente que os grupos económicos tanto estrangeiros como "portugueses" estão muito mais interessados em investimentos financeiros, muitos deles especulativos, do que em investimentos produtivos. Será que Victor Gaspar e Passos Coelho, assim como os arautos do pensamento económico dominante, conhecem esta realidade quando, com tanto empenho, defendem o investimento estrangeiro em Portugal e o investimento de Portugal no estrangeiro, e quando o utilizam como justificação para vender a saldo as participações do Estado em empresas importantes e mesmo empresas públicas? Porventura saberão que estão a promover fundamentalmente o investimento financeiro, muito dele especulativo, como revelam os próprios dados do Banco de Portugal?»
Ele há temas que nos fazem vir à memória um poema pessimista de Jorge de Sena:
Neste vil mundo que nos coube em sorte/por culpa dos avós e de nós mesmos tão ocupados em esperanças de salvá-lo...
E se há temas que nos fazem dizer que o mundo está às avessas, um desses temas é sem dúvida nenhuma «a prostituição».
Com a ajuda da indústria cinematográfica cor de rosa, através do filme Pretty Woman(1), somos levados mesmo a pensar que a prostituição é uma coisa bela, romântica... E viva a liberdade de a mulher se prostituir pois que no final ela transforma-se numa nova cinderela made in mundialização neoliberal.
«Nos últimos dias, após a divulgação pelo Eurostat dos dados sobre o desemprego que revelaram que em Março de 2012 o desemprego em Portugal tinha subido de novo significativamente, o governo e os seus "amigos" da "troika", assim como os defensores do pensamento económico neoliberal dominante nos media multiplicaram-se em declarações. Manifestaram a sua surpresa pelo aumento do desemprego, como isso não fosse o resultado inevitável da política de austeridade violenta e de cortes brutais na despesa pública que estão a impor aos país. Um autêntico coro de "lágrimas de crocodilo" com o objectivo desresponsabilizarem-se e de enganar os portugueses. É mais um exemplo de uma campanha gigantesca de manipulação da opinião pública que, infelizmente, muitos jornalistas e os maiores media se prestaram não divulgando opiniões contrárias.»
Um dos problemas quando se aborda o tema desemprego é o grande peso dos dados numéricos. Esquecemo-nos com demasiada frequência que por detrás de cada desempregado(a) está uma pessoa concreta. Com os seus sonhos, as suas esperanças, as suas ambições. Com a sua realidade familiar. Está um pai, uma mãe, um filho, uma filha, um irmão, uma irmã. Muitas vezes, demasiadas mesmo, está uma família inteira.
O aumento do desemprego é sinónimo de dificuldades económicas para centenas de milhar de famílias. É sinónimo de dificuldades no acesso a bens e serviços essenciais. É sinónimo de novas vagas de emigração. É sinónimo de degradação das condições de vida. É sinónimo de endividamento. É sinónimo de situações de pobreza, miséria e exclusão social.
Raramente é, ao contrário do que diz a cartilha neoliberal, sinónimo de «novas oportunidades». Aliás como o poderia ser se em Portugal, como já demonstrámos em artigos anteriores, se empobrece a TRABALHAR?
O Eurostat, que é o serviço oficial de estatística da União Europeia (U.E.), divulgou que a taxa de desemprego oficial em Portugal tinha atingido, em Fevereiro de 2012, 15%. Estamos perante a mais elevada taxa de desemprego que há memória no nosso país e a terceira de toda a U.E.!!!
Esta taxa significa que o desemprego oficial atinge, neste momento, 826.000 portugueses. E como se sabe há muitos milhares de portugueses desempregados que não são considerados nas estatísticas oficiais de desemprego. Basta recordar que o INE considera como estando EMPREGADO todo aquele que tenha «efectuado um trabalho de pelo menos UMA HORA (!!!), mediante o pagamento de uma remuneração ou com vista a um beneficio ou ganho familiar em dinheiro ou géneros».
Por outro lado, segundo o Boletim Económico da primavera de 2012 do Banco de Portugal, a destruição de emprego no nosso país atingirá, este ano, 3,6%. Isto significa que, nos finais de 2012, existirão menos 170 mil postos de trabalho. Ou seja, no fim do ano mais de um milhão de trabalhadores estarão desempregados. Esta situação é insustentável!
E é o desemprego oficial, porque o efectivo será certamente muito superior. É que, teremos ainda que somar os «inactivos disponíveis» (quem não tenha procurado trabalho na semana em que foi realizado o inquérito (período de referência) ou nas três semanas anteriores). E também o «subemprego visível» (desempregados que não trabalham por não encontrarem emprego, que não recebem subsídio de desemprego e que, para sobreviver, fazem pequenos «biscates»), que já eram 345.700 no 3º Trimestre de 2011.
O disparar do desemprego com a dimensão que está a ter em Portugal é um indicador claro de que a recessão económica em Portugal está a ser muito mais profunda do que aquela que o Governo PSD/CDS pretende fazer crer.
Como temos aqui demonstrado inúmeras vezes, sem crescimento económico não há criação de emprego. Nem pode haver aumento de emprego. Só a ignorância ou a intenção deliberada de enganar é que pode levar a afirmar-se o contrário.
Para agravar ainda mais a situação, o governo alterou a lei do subsídio de desemprego. Com esta alteração os governantes de serviço de uma penada reduziram não só o valor máximo do subsídio, mas também o período de tempo em que o desempregado tem direito a recebê-lo. E, convém recordar, de acordo com as estatísticas divulgadas pela Segurança Social em Fevereiro só 350.693 desempregados é que recebiam subsídio de desemprego. O que se traduz numa taxa de cobertura de apenas 42,5%. Acresce que o valor médio do subsídio foi, no mesmo mês, de apenas 504 €.
Cai por terra o argumento mentiroso e execrável de que os desempregados não estão a trabalhar porque preferem receber o subsídio…
E o 1º ministro Pedro Passos Coelho ainda tem o descaramento de afirmar que o seu governo se preocupa com os portugueses que menos têm e com todos que estão a passar maiores dificuldades. É preciso não ter um pingo de vergonha!
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
«Em Portugal, como consequência quer do investimento realizado no exterior quer do investimento estrangeiro em Portugal, está-se a verificar uma profunda descapitalização do país. E contrariamente à ideia que o governo PSD/CDS e os defensores do pensamento económico neoliberal dominante nos media pretendem fazer crer à opinião pública, o investimento tanto no exterior de portugueses como no pais de estrangeiros não é, na sua esmagadora maioria, investimento directo produtivo, que cria riqueza e emprego, mas sim visando obter juros, mais-valias, etc., ou seja, lucros fáceis e rápidos. lucros
O investimento total no estrangeiro de portugueses ou de entidades com residência em Portugal atingiu, em 31/12/2011, 291.629,3 milhões €. Apenas uma parcela pequena destes activos no exterior (entre 15,4% e 18% do total) são investimento directo, ou seja, foram aplicados directamente em empresas, para criar capacidade produtiva e emprego. Uma parte muito importante (39,6%) são os chamados "investimentos de carteira", ou seja, realizado em acções e obrigações de curta e média duração visando a obtenção de ganhos financeiros rápidos. O mesmo sucede com os "Outros investimentos no exterior", que representavam 42,3% dos activos no exterior em 2011.»
«Um dos meios, não o único, que a "troika estrangeira" e o governo PSD/CDS estão a utilizar com o objectivo de reduzir o Estado ao "Estado mínimo" neoliberal, para assim transformar as suas funções sociais (saúde, educação, segurança social, etc) em áreas de negócio lucrativas para os grupos económicos privados é a redução brutal das remunerações dos trabalhadores da Administração Pública, com o objectivo de os levar a aposentarem-se prematuramente ou a sair. Para justificar utilizam a mentira afirmando que as remunerações no Sector Público são superiores às do sector privado. Como noticiou o Jornal de Noticias de 15/10/2011, e outros órgãos de informação, Passos Coelho justificou o confisco do subsídio de férias e de Natal aos trabalhadores da Função Pública dizendo "que em média os salários na Função Pública são 10 a 15 por cento superiores à média nacional".
No entanto, o 1º ministro "esqueceu-se" de dizer, como consta do Boletim de Emprego Público do Ministério das Finanças que, em 2011, na Administração Central, 55,7% dos trabalhadores tinham o ensino superior, enquanto a nível do país essa percentagem era apenas 18,6%. Portanto, comparações com base em remunerações médias não são correctas, pois determinam conclusões falsas. Só a ignorância ou a intenção deliberada de enganar a opinião pública é que pode levar a utilizá-las. As comparações devem ser feitas entre remunerações de profissionais com níveis de escolaridade e de qualificação semelhantes. E se as comparações forem feitas entre as remunerações de idênticas categorias profissionais conclui-se que, em 2005, as dos trabalhadores da Administração Pública já eram inferiores às do sector privado e que, entre 2005 e 2012, com o congelamento e corte de remunerações no sector Público, e com o confisco do subsidio de férias e do Natal em 2012, o fosso entre a Administração Pública e o sector privado aumentou ainda mais. Para provar isso, vamos utilizar os resultados de um estudo mandado fazer pelo 1º governo de Sócrates a uma multinacional de consultoria que, pelo facto das conclusões não terem agradado ao governo, foi "metido na gaveta", como afirmou o anterior ministro das Finanças quando o confrontamos directamente na Assembleia da República, durante o debate do OE, perguntando por que razão o governo tinha ocultado o referido estudo.»
«Tal como aconteceu com Alan Greenspan, ex-presidente da Reserva Federal dos EUA, cuja cegueira ideológica neoliberal o impediu de tomar medidas que evitassem a crise iniciada em 2007, também em Portugal a cegueira ideológica neoliberal que domina Passos Coelho e o ministro das Finanças está a impedi-los de ver que estão a destruir o país. A política de austeridade, assente na ideologia neoliberal, tem como objectivo garantir o pagamento aos credores, que são os grandes grupos financeiros, como afirma o Nobel da economia Joseph Stiglitz. E isto mesmo que seja à custa da destruição da economia e da sociedade.
Apesar da falência de milhares de empresas e do aumento brutal do desemprego e da pobreza em Portugal em 2011, o objectivo de redução do défice para 5,9% não foi atingido porque era irrealista. O défice orçamental de 5,9% em 2011, anunciado triunfalmente pelo governo e pela "troika" estrangeira, não é real. É sim um défice fictício, já que só foi conseguido com a utilização de uma parte dos activos dos fundos pensões dos bancários. O verdadeiro défice de 2011 foi de 7,5% do PIB, o que corresponde a 12.737,5 milhões €. E em 2012, o governo e a "troika" pretendem reduzir o défice orçamental para 4,5%, ou seja, para 7.556,9 milhões €, o que significa uma diminuição de 40,7% (-5.180 milhões €). A redução do défice nesta dimensão, quando Portugal já se encontra em plena recessão económica, só poderá determinar mais destruição da economia, a falência de milhares de empresas, o aumento brutal do desemprego, a generalização da pobreza e da miséria, e sacrifícios enormes para a maioria dos portugueses. É um objectivo que, se for concretizado, só poderá levar o país a um grande retrocesso económico e social.»