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O CASTENDO

TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

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TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

1º Maio – Unidade do trabalho contra o PEC

1º Maio – Unidade do trabalho contra o PEC

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1º Maio – Unidade do trabalho contra o PEC

1º de Maio Mangualde

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Comemorações em:

  • Capitais de Distrito: 18 + Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores
  • Concelhos: 40
  • Localidades: 46
  • 95 Iniciativas
  • 39 Manifestações / Concentrações de Rua

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Incoerências de uma «esquerda» inconsequente

    A iniciativa que juntou BE e Manuel Alegre é, sejam quais forem os projectos e desenvolvimentos ulteriores, reflexo directo da inquietação que a reconhecida possibilidade de alargamento da influência do PCP, face ao crescente descontentamento e luta populares, suscita.

A afirmação de projectos pessoais e de grupo e não a propagada busca de unidade e convergência e a procura de capitalização para esses projectos e ambições de um descontentamento que a luta tem ampliado, dão conteúdo a uma operação que contribui, não para a afirmação de uma verdadeira alternativa, mas para dar espaço a soluções inconsequentes que objectivamente não só não comprometem a política de direita como favorecem o PS e as suas cíclicas manobras de branqueamento de responsabilidades.
A iniciativa é em última instância uma, ainda que não assumida, confissão do papel central da luta de massas. Ela é simultaneamente causa e efeito dessa mesma luta: efeito das inevitáveis contradições que o desenvolvimento da luta avoluma; causa da procura de capitalização que, quer o BE, quer Alegre, tentam chamar a si.
As razões que juntaram dirigentes do BE e Manuel Alegre são inseparáveis do situação política e social marcada por uma expressiva vaga de descontentamento e de protesto com a política do governo e do propósito de reverterem esse descontentamento em favor das suas ambições e projectos políticos próprios.
Aos discursos de Alegre e Bloco devem somar-se, no quadro de uma compreensão mais vasta desta iniciativa, os avisos/recomendações de Mário Soares ao PS ou as múltiplas expressões de inquietação manifestadas por articulistas e comentadores de direita sobre os riscos da acção governativa e de as suas consequências abrir espaço à influência do PCP, visando o escoamento do amplo descontentamento para campos e soluções inconsequentes.
Num outro plano, a iniciativa pode também ser animada, em parte ou no todo dos seus promotores, por uma certa dinâmica mais geral, designadamente na Europa, de arrumação de forças «à esquerda» tendente a criar blocos políticos que congreguem sob uma orientação social-democratizante correntes que pretendem apresentar-se como «a esquerda». Uma dinâmica que não pode ser separada, na sua explicação e origem, da acentuada viragem «à direita» da social-democracia, das clivagens e contradições que dela decorrem e das rearrumações que tendem a ocupar o espaço político-ideológico que essa corrente representa.
O que juntou dirigentes do BE e Manuel Alegre é, mais do que um acto norteado pela procura de convergências à esquerda, uma iniciativa destinada à procura de capitalizar para os seus projectos próprios o largo descontentamento e a ampla contestação social que varre o país.
E, nessa medida, uma iniciativa que procura beneficiar da acção geral da luta: o BE, porque com a iniciativa sabe poder recolher, pela sua mediatização, projecção e protagonismo que a sua intervenção irrelevante na luta não possibilitaria; Manuel Alegre, porque perante a indesmentível redução da base de apoio do Governo, vê nesta atitude (como em situações anteriores já ocorrera) uma forma de procurar sinais de distinção com a acção governativa que disfarcem a identificação que a partir da «sexta fila» do Parlamento tem tido com a política do PS e do seu governo, de que são testemunho o seu comprometimento com as principais decisões do Governo a começar pela aprovação dos Orçamentos de Estado. Os actos valem mais do que mil palavras: não colhem as inflamadas palavras de Alegre sobre a vitória do Não na Irlanda e os méritos do referendo quando, no momento em que foi chamado a votar a resolução apresentada pelo PCP na Assembleia da República destinada à convocação de um referendo no nosso país, optou, refugiando-se numa comprometida abstenção, pela sua não aprovação.

Abrir espaço de manobra ao PS

A iniciativa confirmou pelos seus conteúdos as limitações políticas e ideológicas que os seus promotores carregam. O comício assegurou sem dúvida a mediatização que os seus promotores ambicionaram e sabiam adquirida. Mas para além de umas quantas frases sobre a «renovação da esquerda», umas mais ou menos sinceras inquietudes manifestadas com as desigualdades e umas platónicas referências à necessidade de outras políticas sociais, por ali nada se acrescentou às questões substantivas e essenciais que estão na origem dessas dificuldades e os caminhos para lhes dar resposta: a política de direita, as lógicas de exploração capitalista e de favorecimento do capital que lhe estão associadas e a indispensável inscrição da ruptura com essa política enquanto condição para as resolver.
Podendo contribuir, no actual quadro de descontentamento, para a descredibilização do Governo, a iniciativa tende, simultaneamente, a abrir espaço de manobra ao PS (designadamente pela «arrumação» do PS na esquerda, implícita na abordagem pública) e sobretudo facilitar, objectiva ou subjectivamente, a sobrevivência ou resgate das políticas de direita pela promoção de falsas alternativas e da criação de obstáculos à afirmação e ampliação da condição primeira para uma verdadeira alternativa de esquerda – o crescimento do PCP.
Não ignorando contradições reais que a iniciativa de Alegre possa reflectir quanto à situação interna do PS não é possível entretanto deixar de observar que o papel desempenhado por Alegre, seja explicado por razões de projecto político próprio ou por mero impulso de protagonismo pessoal, acaba objectivamente por criar para sectores de militantes ou apoiantes socialistas incomodados com a política de direita do PS, uma «reserva» de identificação com um PS que não existe. Um posicionamento que em última instância, a menos que ocorressem rupturas de Alegre com o PS e as suas políticas, se traduzirá numa contribuição inestimável para uma credibilização futura do PS «à esquerda».
Ali esteve também presente, invertendo a realidade e as reais motivações dos promotores, uma operação destinada a apresentar o PCP como uma força sectária e hostil à convergência de sectores e forças democráticas e de esquerda, susceptível de criar incompreensões em sectores democráticos e em largas camadas da população que se identificam com a crítica e condenação da política do governo. A exclusão do PCP, para além de um acto sectário de quem acusa, acaba por ser ditada pela natural razão de não tendo ali estado presente, de facto, a afirmação da ruptura com a política de direita nem a alternativa de esquerda que o país reclama, fazer nenhum sentido a presença do PCP.

                        

In jornal "Avante!" - Edição de 3 de Maio de 2008

                                                                         

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