Não ficaria cá ninguém para contar como é que foi, ESTÚPIDOS!
A propósito da chamada «guerra nuclear»
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Às cinco e meia da manhã do dia 16 de Julho de 1945 deu-se, neste nosso planeta, a primeira explosão nuclear, acontecimento que a História iria registar como marco do início da chamada Era Atómica.
Três semanas depois, a 6 de Agosto, a força aérea americana lançava sobre Hiroshima a «Litlle Boy», uma bomba atómica de urânio-235 com uma potência equivalente a 13 quilo-toneladas de TNT que causa a morte imediata a cerca de 80 mil pessoas e destrói cerca de 90% dos edifícios e infra-estruturas.
Três dias depois, lançam sobre Nagasaki a «Fat Man», uma bomba de 6,4 Kg de plutónio-239 que causa a morte imediata a 40 mil pessoas.
Avalia-se em cerca de 120 mil o número de vítimas que tiveram morte imediata e em mais de 230 mil o número daqueles que, encontrando-se a alguma distância no momento das explosões, ao longo do tempo — dezenas e dezenas de anos — perderam a vida ou ficaram incapacitados em consequência das sequelas da radiação recebida e da contaminação radioactiva dos solos e da água provocadas pelo rebentamento das bombas.
Acima de tudo, o lançamento da bomba atómica pelos EUA contra as populações japonesas constitui uma fria e premeditada demonstração do seu poderio militar no final da Segunda Guerra Mundial, que marca o início da sua ameaça e chantagem nuclear ao mundo e, antes de mais, à União Soviética, para afirmar os EUA como potência hegemónica no plano mundial.
Hiroshima (esquerda) e Nagasaki (direita)
A Era Atómica começou mal. O físico Robert Oppenheimer, um dos principais obreiros do desastre, terá tido, ao assistir à explosão de Julho, um pensamento que se exprimia assim: «Tornei-me a Morte, Destruidora de mundos».
Aqueles que hoje procuram falsificar o passado, são os mesmos que encobrem que há quem na actualidade prepare novas guerras e sofrimentos aos povos do mundo.
Existem atualmente cerca de 12 700 ogivas nucleares, com uma capacidade total centenas de milhar de vezes superior à da bomba de Hiroshima: destas, 11 405 estão em poder dos Estados Unidos da América e da Federação Russa e as restantes divídidas como mostra o mapa.
Lista de estados com armas nucleares
Outros cinco países – Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e Turquia – acolhem armas nucleares dos EUA no seu território.
Um parênteses: Como se pode ver, a paridade nuclear entre EUA e Federação Russa (como antes entre URSS e EUA) mantém-se inalterável há mais de 50 anos.
Os EUA têm ainda armas nucleares espalhadas pelo mundo, em mais de 700 bases militares, 7 Esquadras Navais e largas centenas de bombardeiros.
«Aproximadamente 400 mil tropas norte-americanas estão actualmente em guarda em 155 países e levando a cabo operações todos os dias, para manter a América segura», disse o Chefe do Estado-Maior Conjunto, general Milley a 5 de Abril último.
Cerca de um quarto daquele número global de armas nucleares está entregue a forças operacionais, quer dizer, prontas a ser lançadas a qualquer momento.
Há quarenta anos (início dos anos oitenta do século XX), em plena «Guerra Fria», centenas de cientistas de vários países, com destaque para os Estados Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS), realizaram uma importante e decisiva investigação científica de problemas complexos e interdisciplnares sobre as consequências de uma guerra nuclear.
Físicos, químicos, bioquímicos, genéticistas, matemáticos, biólogos, especialistas em questões do ambiente e populacionais, informáticos, médicos, economistas, políticos, etc., etc., etc., utilizando diferentes metodologias e diferentes modelos matemáticos foram unânimes nas suas conclusões:
Uma guerra nuclear, mesmo que, por absurdo, fosse em plena escala, despoletaria um «Inverno Nuclear» que poria em causa a sobrevivência de toda a humanidade.
Bastaria que fosse utilizada uma pequena parte das bombas nucleares existentes para que toda a vida na Terra ficasse seriamente ameaçada. Uma guerra nuclear, se fosse desencadeada, não pouparia nenhum dos continentes, nenhuma região deste nosso belo planeta azul.
hiroshima-ground-zero
Segundo os especialistas, o nível mortal de radiação de todos os continentes seria alcançado com a carga nuclear de apenas três mísseis balísticos, ou seja, 28 megatoneladas.
Para além dos milhões de seres humanos que perderiam a vida em resultado das explosões, uma guerra nuclear provocaria igualmente efeitos devastadores e prolongados no tempo sobre o ambiente e a meteorologia.
O chamado «Inverno Nuclear» reduziria drasticamente a duração dos períodos férteis de crescimento das plantas durante prolongados anos, podendo mesmo eliminá-los, levando a maior parte dos seres humanos e de outras espécies a sucumbir à fome.
Este quadro de hecatombe global seria atingido com o emprego de 0,0001% do potencial nuclear global.
Os materiais (e as biografias dos intervenientes) e as conclusões dessa investigação, estão sintetizadas em português nos dois livros aqui mostrados e deram origem a um filme sobre o «Inverno Nuclear»
Hiroshima – corpo queimado
Na guerra «a verdade é a primeira coisa a morrer». Nenhum governo pode arrastar o seu povo para matar e morrer se não lhe mentir sobre os reais objectivos da guerra e se não diabolizar o «inimigo».
O perigo de catástrofe nuclear, que durante muitos anos esteve contido pela conquista pela URSS da paridade militar estratégica com os EUA, cresce todos os dias. As notícias a este respeito circulam na comunicação social dominante com uma «naturalidade» assustadora.
O actual modo de vida nas sociedades ditas «desenvolvidas» assenta em consumos insustentáveis de recursos naturais. À organização social e à forma como os poderes nelas estão distribuídos, está associada a iníqua desigualdade na distribuição da riqueza fruto do trabalho humano, na própria sociedade e no mundo, entre países «ricos» e países «pobres». Este caminho conduz à guerra e à violência social. Por aí não será possível combater ou sequer mitigar outra grande ameaça do nosso tempo que é a transformação do meio natural e do clima.
Tenhamos consciência de tudo isto e prossigamos com coragem a luta para mudar o mundo.