O discurso antipartidos é fertilizado todos os dias
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O terreno onde germina é fertilizado todos os dias. Desde logo porque tem um fundo de verdade, ainda que apenas parcial e que resulta do facto de, governo após governo, as políticas seguidas – apesar das promessas e ilusões semeadas por PS, PSD e CDS – obedecerem aos mesmos interesses de classe. Ou seja, os governos mudam, os governantes mudam, os «políticos» mudam, mas as opções de fundo, no que diz respeito a salários, direitos, serviços públicos, impostos, justiça, investimentos, condições de vida, essas, mantém-se, ou melhor, agravam-se. De quem é a culpa? Dos partidos. Assim dizem muitos dos chamados comentadores, mas também ex-governantes, alguns dos quais com elevadíssimas responsabilidades na situação a que o País chegou, mas que não têm nenhum decoro em alimentar este discurso, mesmo que isso retire credibilidade às forças políticas que representam. É que, acima dos interesses, que não podemos subestimar, desta ou daquela «clientela partidária», estão os interesses de classe que serviram e continuam a servir. Daí que o discurso antipartidos seja também tema recorrente na boca de banqueiros, especuladores, grandes accionistas, no fundo, a grande burguesia monopolista não se encolhe de cada vez que tem de, do alto da sua arrogância, disparar contra o que eles chamam de «classe política». O discurso antipartidos serve para apagar a grande contradição, não entre o povo e a «classe política», mas entre explorados e exploradores.
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