Nesta série de posts intitulada «O Atrevimento da Ignorância» têm lugar as falsas verdades. Mentiras ditas e escritas com foros de verdade. Agradecemos as dicas e as sugestões dos nossos leitores. Desde já o nosso obrigado.
As Escolas Privadas são melhores que as Escolas Públicas
De há seis anos a esta parte é elaborado a partir dos dados fornecidos pelo Ministério da Educação um ranking das escolas, com base nos resultados dos exames do final do Ensino Secundário. Esclareça-se que o Ministério não fornece tabelas ordenadas das escolas: apenas disponibiliza, neste endereço, uma base de dados em bruto. Todas as médias, assim como os critérios para obter essas médias escola a escola, devem depois ser calculadas pelos órgãos de comunicação social.
E de há seis anos a esta parte que políticos, analistas, comentadores e jornalistas falam e escrevem sobre os perigos de uma educação pública (ou "estatizada"). Não há liberdade de escolha. O ensino é pior. Uma balda onde ninguém é avaliado.
Trata-se de mais uma inverdade recorrente. Repetida milhares de vezes com o maior dos atrevimentos.
Só que a realidade é outra:
Em Portugal há famílias inteiras que nunca tiveram hábitos de leitura, de estudo, de trabalho intelectual individual. Os seus filhos acederam massivamente às escolas pública desde o 25 de Abril de 1974. Para milhares de famílias, esta é a primeira geração que tem alguma escolarização.
O sistema público de ensino fez com que os novos alunos, desde cedo, tivessem mais conhecimentos a matemática, ou a português, ou a qualquer outra disciplina do que os seus pais. Em casa não há ninguém para os ajudar nos trabalhos de casa.
A massificação do ensino teve que lidar com um país que já existia antes da democracia. A educação tem o lastro cultural que a suporta. O sistema educativo, a iliteracia, o analfabetismo e as dificuldades económicas vêm de longe, de muito longe
O colégio São João de Brito, um exemplo, aparece sempre nas cinco primeiras posições do ranking. Uma escola com "o tipo de ensino que os ricos escolhem porque sabem que é melhor e mais exigente".
O colégio São João de Brito é da Companhia de Jesus.Que tem mais duas escolas com ensino secundário. O Instituto Nun´Álvares, em Santo Tirso, e o Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache - Coimbra. O Nun´Álvares ficou em 177.º, a Imaculada Conceição em 91º (ver aqui)
Os métodos de ensino, contratação e formação de professores são idênticos. Só que nestes dois casos recebem alunos de todas as classes sociais. No outro não. (ver aqui)
Mais de um terço dos alunos nos colégios privados são financiados por dinheiros públicos, aos quais o Estado entraga 3 343 euros por cada aluno.(ver aqui). Só no segundo semestre de 2006 os dez mais apoiados receberam mais de 26 milhões de euros.
Uma avaliação séria do sistema educativo e das escolas nunca poderá ser feita na base dos rankings.
Porque são elaborados a partir de um único indicador, sem ter em conta o contexto em que as escolas se inserem, os recursos de que dispõem, os processos que desenvolvem e os resultados que obtêm nas várias vertentes do seu trabalho.
Não é possível avaliar uma escola tendo apenas em conta os resultados dos alunos em exames. Não é legítimo comparar escolas cujas realidades educativas são diferentes. Não se consegue a melhoria das "piores" escolas expondo publicamente o seu alegado insucesso.
A facilidade com que as escolas são catalogadas de "boas" e "más", "melhores" e "piores", em função da posição relativa que ocupam no ranking representa uma atitude irresponsável e desrespeitadora do trabalho das escolas e dos professores.
Há países onde não há rankings, não há retenção de alunos com piores resultados, só é possível abrir uma escola privada com aprovação do Conselho de Ministros (e estão proibidas de cobrar propinas, recebem o dinheiro do Estado). Países onde existem menos de 40 escolas privadas, mas que são, ao mesmo tempo, classificados pelo insuspeito Fórum Económico Mundial como tendo o melhor ensino secundário do mundo. O país é a Finlândia e, segundo o estudo internacional de referencia, o PISA, os seus alunos costumam ter os melhores resultados mundiais a quase todas as disciplinas.
Como escreveu no seu blog Pedro Sales: «A distopia liberal é Ideologia e preconceito contra o sistema público, baseada no aproveitamento demagógico do senso comum. Não tem nenhuma base, nacional ou internacional, que a suporte. É o preconceito de classe travestido de preocupação social. Tudo em nome da liberdade da iniciativa privada que, veja-se, só é verdadeiramente livre se for o Estado a financiá-la. E diz-se esta gente liberal.»
Nesta série de posts intitulada «O Atrevimento da Ignorância» têm lugar as falsas verdades. Mentiras ditas e escritas com foros de verdade. Agradecemos as dicas e as sugestões dos nossos leitores. Desde já o nosso obrigado.
Um passo em frente, dois passos atrás
Esta é uma daquelas provocadas pela preguiça pura e dura.
Faz agora trinta e dois anos que Mário Soares explicou à comunicação social, e não só, a táctica do PCP.
Consistia, segundo ele, em seguir um livro de Lénine, chamado “Dois passos em frente, um passo atrás”. Seria assim que os comunistas agiam.
O ex-comunista Mário Soares sabia, obviamente, que o título do livro em causa era “Um passo em frente, dois passos atrás”.
E que o mesmo não tinha nada que ver com questões de programa ou de táctica dos comunistas na revolução.
O seu conteúdo girava à volta de temas de organização, nomeadamente das condições para se intitular membro do Partido.
Durante 30 anos vários jornalistas, comentadores e analistas glosaram Mário Soares.
Que, se bem o conheço, deve ter rido a bom rir com o facto de ninguém ter ido verificar a veracidade da sua afirmação.
Tanto assim é que ainda em 2004, no último Congresso do PCP, lá houve quem voltasse a citar a pretensa táctica dos comunistas.
Depois digam que é má-língua ou mania da perseguição…
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O «cerco» da Assembleia Constituinte em 12 de Novembro de 1975
Os acontecimentos de 12/11/1975 são apresentados ou como um “ensaio de golpe” ou como uma acção inspirada pelo PCP com vista a paralisar ou acabar com os trabalhos da elaboração da Constituição.
Estamos perante uma deturpação ou mentira mil vezes repetida a ponto de se tornar uma espécie de «verdade oficial» que centenas ou milhares de pessoas repetem com a maior das naturalidades.
Só que a realidade é outra:
Houve, de facto, uma manifestação e concentração dos trabalhadores da construção civil frente ao Palácio de São Bento.
Após três dias de greve nacional, a manifestação dos trabalhadores da construção civil só foi dirigida para o Palácio de São Bento porque o Ministério do Trabalho se recusou a responder às reivindicações formuladas.
Mais. Na esperança de desmobilizar a manifestação encerrou as próprias instalações do Ministério na Praça de Londres.
No Palácio de São Bento, aspecto essencial a recordar, também funcionava o VI Governo Provisório.
Desde há 32 anos, a principal mistificação sempre esteve em escamotear estes factos.
A concentração em S. Bento não visava a Assembleia Constituinte, mas o Primeiro-Ministro e o Governo para quem o comportamento irresponsável do Ministro do Trabalho acabara por endossar a questão.
Na decorrência deste conflito entre trabalhadores e política do Governo, por efeito do radicalismo e da imponderação, quer o Primeiro-Ministro quer os deputados à Constituinte ficaram na prática impossibilitados de sair do Palácio de S. Bento, facto de que o PCP discordou (comunicado de 13/11/1975).
Esse facto real não pode transformar aquela concentração de trabalhadores num suposto “cerco à Constituinte”.
Muito menos numa acção deliberadamente dirigida contra os trabalhos a que aquela Assembleia estava vinculada por mandato popular, ou seja elaborar uma Constituição para o Portugal libertado do fascismo.
Como escreveu Vítor Dias no dia 17/11/200 no jornal "Semanário":«E se não é assim, então que dêem um passo em frente todos os que, com recurso à ampliação das fotografias da concentração, forem capazes de provar que no mar de cartazes e panos, em vez de reivindicações socio-laborais ou de política geral, se encontra sim um oceano de invectivas contra a Assembleia Constituinte e de gritos de ódio contra a elaboração da Constituição.
Que dêem um passo em frente todos quantos forem capazes de contar (só inventando) quais foram então as tenebrosas reivindicações políticas que os manifestantes tenham dirigido aos deputados à Constituinte ou ao seu Presidente.
E já agora, como nestas evocações do falso “cerco à Constituinte” sobra sempre que se farta para o PCP, que dêem um passo em frente todos os que forem capazes de demonstrar que o Dr. Vital Moreira e os restantes deputados comunistas de então, em vez de andarem a contribuir qualificadamente para a elaboração da Lei Fundamental, andavam sim por S. Bento a incendiar reposteiros, a colocar petardos nas comissões e a fazer quotidianas arruaças no plenário.»
Escusado será dizer que, passados 7 anos, ainda se espera que alguém dê o tal passo em frente...
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As rendas de casa «congeladas» em Lisboa
"O «congelamento das rendas em Lisboa» já vem do tempo de Salazar, continuou com os governos de Vasco Gonçalves e praticamente chegou aos nossos dias." Trata-se de uma inverdade recorrente. Repetida milhares de vezes por dezenas ou centenas de personalidades com o maior dos atrevimentos.
Só que a realidade é outra:
Desde 1981 vigora um regime de opção por renda livre ou condicionada para todos os novos contratos;
Desde 1990 que a liberalização das rendas é total. Quer quanto ao valor, como já sucedia desde 1981, quer quanto à duração dos contratos;
Mesmo as rendas anteriores a 1980, as chamadas «rendas congeladas», foram objecto em 1985 de uma actualização extraordinária e sujeitas a partir desse ano a uma actualização de acordo com uma portaria anualmente publicada.