Impõe-se-me passar a escrito determinadas coisas de que ainda recordo bem, abordar uma série de questões que me inquietam profundamente e formular reflexões sobre certos acontecimentos. Ainda não sei o que deva fazer com estas notas, e se ainda conseguirei dar aos meus pensamentos uma forma ordenada. Escrevo estas linhas na prisão de Berlim-Moabit – prisão que conheço bem ainda do tempo do nazismo, tal como muitos outros comunistas, sociais-democratas e outros antifascistas. Logo em 1933 esta prisão desempenhou um papel muito particular na repressão dos adversários políticos do imperialismo alemão.
Caso estas linhas venham um dia a ser publicadas, então elas destinam-se àqueles que querem analisar seriamente o passado, contrariamente aos pretensos «obliteradores da história», cujo único objectivo é difamar o socialismo para atrasar tanto quanto possível o inevitável afundamento do capitalismo.
Não se encontrará nestes escritos nenhuma concessão à sociedade de exploração capitalista, à sua ideologia e «moral».
Esta declaração de Erich Honecker perante o tribunal, em 1992, trata-se inquestionavelmente de um importante documento histórico.
Independentemente de algumas discordâncias que suscitará, este texto curto e acessível contém valiosas considerações sobre o socialismo na RDA (República Democrática Alemã), bem como sobre as condições históricas em que se formou e existiu ao longo de 40 anos.
É também um texto de combate contra o revanchismo burguês. Permite-nos concluir, sem sombra de dúvidas, que o seu autor, ao contrário de outros dirigentes de países socialistas, não traiu o seu país, nem os seus ideais comunistas, morrendo com essa convicção profundamente arreigada.
1. A Ideologia Alemã de Karl Marx e Friedrich Engels, obra começada a redigir na Primavera de 1845, em Bruxelas, apresenta o seguinte subtítulo: Crítica da Filosofia alemã mais recente na pessoa dos seus representantes Feuerbach, Bruno Bauer e Stirner, e do socialismo alemão na dos seus diferentes profetas.
Centrar-nos-emos no primeiro capítulo que se ocupa de Feuerbach ou, mais precisamente, da oposição das concepções materialista e idealista. Antes, derivo para um excurso breve, abrangendo dois tópicos introdutórios.
«Clara Zetkin foi uma incansável lutadora contra o imperialismo, contra a guerra e pela causa da paz.
Desde jovem sempre manifestou a sua forte oposição à guerra, apelando às mulheres para que se mobilizassem pela paz.
Nas conferências de mulheres e nos congressos da II Internacional denuncia a corrida aos armamentos e a propaganda belicista, acusando a direcção social-democrata, cujas posições ao longo dos anos se caracterizavam pelo revisionismo, de não lutar com a energia necessária contra a sociedade capitalista e o imperialismo. Em 1910, no Congresso da Internacional em Copenhaga, apela às mulheres socialistas para se comprometerem a lutar com mais vigor pela manutenção da paz e faz aprovar uma resolução recordando que «todos os camaradas têm o dever de se lembrar das resoluções contra a guerra votadas no congresso internacional de Estugarda e de zelar pela educação das crianças no sentido da paz». Com o mesmo entusiasmo, combateu no seu partido aqueles que se mostravam favoráveis à guerra e ao militarismo e que no parlamento votavam favoravelmente o aumento das despesas militares. Dois anos antes da guerra deflagrar, no Congresso Socialista Internacional de Basileia (25/11/1912), Clara Zetkin lançou um veemente apelo às mulheres de todo o mundo para lutarem contra a guerra imperialista.»
«Se existe facto que celebrizou internacionalmente Clara Zetkin(1857-1933) foi sem dúvida a proposta de criação de um Dia Internacional da Mulher, apresentada em 1910, na 2.ª Conferência Internacional de Mulheres.
Mas a acção política desta revolucionária alemã, que se tornou uma prestigiada e influente dirigente do movimento comunista alemão, da II Internacional e da Internacional Comunista, foi bem mais vasta e rica em defesa dos direitos das mulheres e pela sua emancipação social.
No plano teórico, Clara Zetkin"assimilou e divulgou a matriz política e ideológica legada por Marx, Engels e por Lénine, e o conjunto dos seus escritos integra, amplia e enriquece o património do marxismo-leninismo quanto à situação da mulher na sociedade, sobre a situação da mulher no capitalismo e sobre a revolução socialista como resposta à aspiração de emancipação social da mulher. É por isso que, muito justamente, o conjunto das suas reflexões teóricas deve ser destacado como parte integrante do acervo teórico do marxismo-leninismo sobre a situação da mulher na sociedade, legado de contundente actualidade".».