Podíamos escrever sobre o apoio de Alexander Soljenítsin ao ditador fascista chileno Augusto Pinochet. Ou sobre o seu revisionismo histórico dos pogroms na Rússia czarista. Mas os posts anteriores testemunham das razões porque Soljenítsin desapareceu cada vez mais dos discursos públicos durante os seus 18 anos de exilio nos EUA e uma das causas por que os governos capitalistas não lhe deram total apoio político. Para os capitalistas foi uma benção dos céus poder utilizar um homem como Soljenítsin na guerra suja de propaganda contra o socialismo, mas tudo tem os seus limites. Na nova Rússia capitalista o que decide o apoio do chamado mundo ocidental aos grupos politicos é pura e simplesmente a possibilidade de fazer bons negócios com bons lucros ao abrigo da política desses grupos. O fascismo como alternativa política para a Rússia não é considerado como politica que estimule os negócios. Por isso o projecto político de Soljenítsin para a Rússia foi letra morta no que diz respeito a apoio do chamado mundo ocidental. AlexanderSoljenítsin queria como futuro político para a Rússia a volta do regime autoritário dos Czares em ligação com a igreja tradicional russa-ortodoxa! Nem os imperialistas mais arrogantes estavam interessados em apoiar uma estupidez política destas.
Depois da morte de Franco em 1975 o regime fascista espanhol começou a perder o controle da situação politica e no começo de 1976 os acontecimentos em Espanha tomaram um novo carácter. Greves e demonstrações exigiam democracia e liberdade e o herdeiro de Franco, o rei Juan Carlos, foi obrigado a iniciar uma liberalização do regime.Neste momento importante para a vida politica espanhola, aparece Alexander Soljenítsin em Madrid e dá uma entrevista ao programa «Directíssimo» um sábado à noite, em 20 de Março, na melhor hora televisiva (jornais ABC e Ya de 21 de Março de 1976). Soljenítsin que tinha recebido as perguntas previamente, utilizou a oportunidade para fazer todo o tipo de declarações reaccionárias. A sua intenção não foi de dar um apoio à chamada liberalização do rei. Pelo contrário. Soljenítsin prevenia as pessoas contra as reformas democráticas!
Na sua intervenção na televisão declarou que «Cento e dez milhões de russos morreram vítimas do socialismo» e comparou «a escravidão a que estavam submetidos os soviéticos à liberdade que se desfrutava em Espanha». Soljenítsin acusou também os «círculos progressistas» de «utópicos» por considerarem Espanha como uma ditadura. Os progressistas, entenda-se, eram toda a oposição democrática de liberais a social-democratas e comunistas. «No Outono passado» disse Soljenítsin, «a opinião pública mundial estava preocupada com a sorte dos terroristas espanhóis [Os cinco antifascistas condenados à morte e executados pelo regime de Franco]. Cada vez mais a opinião pública progressista exige reformas políticas imediatas, ao mesmo tempo que apoia os actos terroristas». «Os que querem reformas democráticas rápidas, saberão o que virá a suceder amanhã ou depois de amanhã? A Espanha, amanhã poderá ter democracia, mas depois de amanhã, saberá não cair no totalitarismo depois da democracia?» Às perguntas cuidadosas dos jornalistas se tais declarações não podiam ser vistas como um apoio a regimes de países onde não existia liberdade respondeu Soljenítsin que «Eu conheço somente um sítio onde não há liberdade, esse sítio é a Rússia». As declarações de Soljenítsin na televisão espanhola foram um apoio directo ao fascismo espanhol.
Como referimos o ponto principal dos discursos de Alexander Soljenítsin era sempre a guerra contra o socialismo. Os jornalistas americanos que tinham ousado escrever sobre paz entre os EUA e a União Soviética eram acusados por Soljenítsin nos seus discursos como sendo traidores potenciais. Soljenítsin fazia também propaganda por um aumento da capacidade militar dos EUA contra a União Soviética, que ele dizia ser mais poderosa em «tanques e aviões, de cinco a sete vezes mais que os EUA» e em armas atómicas que «em breve» seriam «duas, três e por fim cinco» vezes mais potentes que as dos EUA. Os discursos de Solzhenitsyn nos EUA eram a voz da extrema-direita, mas ele iria ainda mais longe, mais à direita, em apoio público ao fascismo.
O ponto principal dos discursos de Soljenítsin nos EUA (e não só) era sempre a guerra contra o socialismo. Entre outras coisas bateu-se por novos ataques ao Vietname depois da vitória deste sobre os EUA. Defendeu a suposta existência de dezenas de milhares de americanos presos e escravizados no Vietname do Norte! Foi esta ideia de Soljenítsin de americanos utilizados como escravos no Vietname do Norte que deu origem aos filmes Rambo sobre a guerra do Vietname.
Nos Estados Unidos, Soljenítsin foi convidado muitas vezes para fazer intervenções em reuniões importantes. Ele foi por exemplo o principal orador no congresso dos sindicatos AFL-CIO em 1975 e em 15 de Julho de 1975 foi convidado para fazer um discurso sobre a situação no mundo no Senado dos EUA. Os discursos de Soljenítsin eram de uma agitação violenta e provocatória, argumentando e fazendo propaganda pelas ideias mais reaccionárias. Um exemplo: depois de 48 anos de fascismo em Portugal, quando os oficiais do Movimento das Forças Armadas, tomaram o poder na revolução popular de 1974, Soljenítsin começou a fazer propaganda por uma intervenção militar dos EUA em Portugal, que, dizia ele, iria ser membro do tratado de Varsóvia se os EUA não interviessem! Nos seus discursos, Soljenítsin lamentava sempre a libertação das colónias portuguesas em África.
Segundo Soljenítsin a luta contra a Alemanha nazi na segunda guerra mundial tinha sido uma luta desnecessária e todos os sofrimentos impostos ao povo soviético pelos nazis podiam ter sido evitados se o governo soviético tivesse feito um compromisso com Hitler. Soljenítsin acusou também o governo soviético e Stáline de serem ainda piores que Hitler e, como ele dizia, pelos terríveis resultados da guerra para o povo da União Soviética. Soljenítsin não escondia a sua simpatia pelos nazis.