O assalto ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba, e ao quartel de Cespedes, Bayamo, foi uma das primeiras tentativas de acabar com a ditadura de Fulgêncio Batista.
Um grupo de patriotas liderado por Fidel Castro planeia apoderar-se das armas, armar a população e derrubar o governo.
A acção falhou e os revoltosos sobreviventes são encarcerados.
Levado a julgamento, Fidel faz a própria defesa: argumenta com a necessidade de acabar com a ditadura que oprime o povo e termina com a célebre frase «A história me absolverá».
Em 1955 os presos políticos são amnistiados e exilam-se no México, onde formam o Movimento 26 de Julho.
Regressam a Cuba em Dezembro de 1956, a bordo do iate Granma e dão início à guerrilha contra o regime a partir da Sierra Maestra.
Citarei apenas frases e parágrafos curtos de meus depoimentos no julgamento realizado em 16 de outubro de 1953:
"600 mil cubanos estão sem trabalho."
"500 mil camponeses trabalham quatro meses por ano e passam fome no restante."
"400 mil trabalhadores industriais e braçais cujas pensões estão desfalcadas, cujas moradias são os infernais quartinhos dos cortiços, cujos salários passam das mãos do patrão às do vendeiro, cuja vida é o trabalho perene, e cujo descanso é a tumba."
"10 mil profissionais jovens: médicos, engenheiros, advogados, veterinários, pedagogos, dentistas, farmacêuticos, jornalistas, pintores, escultores etc. saem das escolas com seus diplomas, ansiosos por luta e cheios de esperança, para ver-se num beco sem saída, com todas as portas fechadas."
"85 por cento dos pequenos agricultores cubanos estão pagando arrendamentos e vivem sob a constante ameaça do desalojamento de seus lotes."
"200 mil famílias camponesas não têm um pedaço de terra onde semear alimentos para seus filhos famintos."
"Mais da metade das melhores terras de produção cultivadas está em mãos estrangeiras."
"Cerca de 300 mil 'caballerías' (mais de três milhões de hectares) permanecem sem cultivar."
"Dois milhões e duzentas mil pessoas de nossa população urbana pagam aluguéis que consomem entre um quinto e um terço de seus rendimentos."
"Dois milhões e oitocentas mil pessoas de nossa população rural e suburbana não têm luz elétrica."
"Às escolinhas públicas rurais comparecem, descalças, seminuas e desnutridas, menos da metade das crianças em idade escolar."
"90 por cento das crianças do campo estão cheias de vermes."
"A sociedade permanece indiferente diante do assassinato em massa de milhares e milhares de crianças que, todos os anos, morrem por falta de recursos."
"Entre os meses de maio e de dezembro, um milhão de pessoas se encontram sem trabalho em Cuba, com uma população de cinco milhões e meio de habitantes."
"Quando um pai de família trabalha quatro meses por ano, com que poderá comprar roupas e medicamentos para seus filhos? Crescerão raquíticos, aos 30 anos não terão um dente saudável na boca, terão ouvido dez milhões de discursos, e no final morrerão de miséria e decepção. O acesso aos hospitais públicos, sempre repletos, só é possível mediante a recomendação de um magnata político, que exigirá do infeliz seu voto e o de toda a sua família, para que Cuba continue sempre igual ou pior."
Os grandes media americanos e europeus previram nos últimos dias que a Cimeira das Américas no Panamá ficaria a assinalar uma grande vitória dos EUA e do seu presidente.
Ocorreu o contrário. Um balanço provisório da Cimeira permite já afirmar que os EUA sofreram uma inocultável derrota politica no encontro em que a Casa Branca depositava grandes esperanças.
Alguns parágrafos elogiosos do discurso de Raul Castro, em que definiu Obama como «um homem honesto» sem responsabilidades na política do bloqueio e de hostilidade permanente a Cuba, permitiram à comunicação social concluir que o presidente norte-americano regressa a Washington como o triunfador da Cimeira.
Ao empolarem o significado desse gesto de Raul Castro (compreensível por diplomático, mas ambíguo) omitiram que o discurso do presidente cubano foi na sua quase totalidade um implacável inventário histórico da agressiva política imperialista dos EUA em relação à Ilha, desde a guerra da independência à atualidade. Raul Castro concluiu aliás afirmando que a normalização das relações com Washington não impedirá Cuba de prosseguir como nação soberana na construção do socialismo, opção incompatível com o capitalismo.
Maduro, numa intervenção duríssima, criticou o intervencionismo permanente dos EUA na América Latina, aconselhando o imperialismo a «tirar as mãos» definitivamente de países que não são já o seu «o pátio traseiro».
Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador, criticaram com severidade a política latino-americana do grande vizinho do Norte, exigindo o fim das políticas de «terror imperialista» e da estratégia da «imposição do medo».
O nicaraguense Daniel Ortega e a argentina Cristina Kirchner pronunciaram também discursos de conteúdo anti-imperialista. Dilma Rousseff já tinha pedido a Obama que pusesse termo à espionagem da NSA que a tem visado.
Incomodado, o presidente dos Estados Unidos retirou-se do salão do Paraninfo da Universidade do Panamá para não escutar as catilinárias que atingiam os EUA.
Não houve consenso para uma Declaração Final. A delegação norte-americana temia que o documento traduzisse a condenação sem apelo do imperialismo. Mas esse veto de John Kerry confirmou a derrota dos EUA na Cimeira.
A propósito de Yaoni Sánchez - a bloguista, dita dissidente, cubana cuja visita ao Brasil tem sido marcada por protestos e manifestações de apoio ao regime cubano - recorde-se o que AQUI se escreveu neste blog já lá vão quase dois anos.
Garanto que vale mesmo a pena reler a entrevista de Salim Lamrani, Professor na Sorbonne IV, jornalista, especialista em relações Cuba-EUA.
«Ângelo Alves manifestou ainda a «extrema preocupação» com que o PCP acompanha os diversos focos de tensão que caracterizam a actual situação internacional. Que, lembrou, «são indissociáveis da política de ingerência e militarismo dos EUA e da NATO».
Entre eles, o dirigente comunista destacou, «no Extremo Oriente, as recentes manobras militares sul-coreanas e dos EUA nos mares Amarelo e do Japão»; na América Latina, as «provocações à Venezuela, a reactivação da IV Esquadra dos EUA, a instalação de inúmeras bases militares norte-americanas na Colômbia e outros países da região e as ocupações militares de facto do Haiti e da Costa Rica e o golpe de Estado nas Honduras»; e, no Médio Oriente, as «provocações israelitas na linha azul entre o Líbano e Israel», a política de terrorismo de Estado de Israel contra o povo palestiniano ou contra aqueles que com ele se solidarizam e a «extremamente perigosa» escalada contra o Irão a pretexto do alegado perigo nuclear.»
«Foi ainda desse «sacrifício» que nasceu há 50 anos o criminoso bloqueio a Cuba e, há um ano, o golpe fascista nas Honduras e, mais recentemente, a ocupação da Costa Rica e as sucessivas provocações contra os povos que na América Latina decidiram ser donos do seu próprio destino. E por aí fora, numa sucessão de «sacrifícios» que deixa atrás de si um rasto de destruição e morte – a barbárie.»
Crónica da intervenção de José Ramón Machado Ventura, primeiro vice-presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, ontem dia 26 de Julho, aniversário do assalto ao quartel Moncada:
«Un yemení detenido en la prisión militar estadounidense de Guantánamo fue encontrado muerto el lunes por la noche en su celda en lo que las autoridades calificaron como un "aparente suicidio". (...) De confirmarse que la muerte de este yemení ha sido un suicidio, no sería éste el primer caso. Desde su creación en enero de 2002, en la base naval estadounidense se han producido otros tres suicidios y más de 40 intentos por 25 presos (...)»
«Em dez meses suicidaram-se no Estabelecimento Prisional de Custóias, no Porto, sete presos, tantos quantos os que, em todo o ano passado, se mataram nas 50 cadeias do país.»
A entrevista de Salim Lamrani, Professor na Sorbonne IV, jornalista, especialista em relações Cuba-EUA com Yoani Sanchez, uma dissidente cubana com lugar reservado nos media hegemónicos ocidentais, é esclarecedora. As suas palavras nesta entrevista explicam por que foi tão meteórica a sua ascensão e a promoção que tem.
Qualquer comentário é desnecessário...
Yoani Sánchez é a nova personalidade da oposição cubana. Desde a criação de seu blog, Generación Y, em 2007, obteve inúmeros prêmios internacionais: o prêmio de Jornalismo Ortega y Gasset (2008), o prêmio Bitacoras.com (2008), o prêmio The Bob's (2008), o prêmio Maria Moors Cabot (2008) da prestigiada universidade norte-americana de Colúmbia. Do mesmo modo, a blogueira foi escolhida como uma das 100 personalidades mais influentes do mundo pela revista Time (2008), em companhia de George W. Bush, Hu Jintao e Dalai Lama.
Seu blog foi incluído na lista dos 25 melhores do mundo do canal CNN e da Time (2008). Em 30 de novembro de 2008, o diário espanhol El País a incluiu na lista das 100 personalidades hispano-americanas mais influentes do ano (lista na qual não apareciam nem Fidel Castro, nem Raúl Castro). A revista Foreign Policy, por sua vez, a considerou um dos 10 intelectuais mais importantes do ano, enquanto a revista mexicana Gato Pardo fez o mesmo para 2008.
Esta impressionante avalanche de distinções simultâneas suscitou numerosas interrogações, ainda mais considerando que Yoani Sánchez, segundo suas próprias confissões, é uma total desconhecida em seu próprio país. Como uma pessoa desconhecida por seus vizinhos - segundo a própria blogueira - pode integrar a lista das 100 personalidades mais influentes do ano?