«Já conhecíamos o sentido patriótico dos nossos empresários, nomeadamente durante o período da troika, quando as empresas portuguesas de maior dimensão e a esmagadora maioria das que estão cotadas na bolsa de Lisboa transferiram a sede das suas holdings para a Holanda, para fugirem ao pagamento de impostos em Portugal.
Mas, a «filantropia» dos nossos empreendedores, como gostam de ser chamados, não pára de nos surpreender.
Não, não estamos a falar das muitas situações em que o surto epidémico tem servido de pretexto para despedimentos, cortes de salários, ataques a direitos dos trabalhadores e as mais diversas arbitrariedades, nomeadamente a imposição de férias antecipadas, as alterações unilaterais de horários de trabalho, o corte de prémios e subsídios, incluindo o subsídio de refeição, ou a recusa de exercício de direitos parentais.
Não, também não estamos a falar da especulação que os grupos económicos promovem, a pretexto da situação de crise que atravessamos, decidindo como entendem sobre os preços que praticam em relação a bens e produtos essenciais.
Estamos a falar da afirmação que o Expresso tem hoje [4 de Abril] na primeira página, quando nos dá conta da posição «altruísta» da fina-flor do grande capital nacional: anuncia a CIP que «com dinheiro a fundo perdido não há despedimentos».
Como diz o povo, com as calças do meu pai também sou um homem!»
Sabe-se que os grandes empresários e capitalistas portugueses gostam muito de fazer «greve». «Greve» à legislação laboral, «greve» às obrigações fiscais (ver resultados conhecidos da Operação Furacão). E, neste tempo de Governo PS, viabilizado na Assembleia da República por partidos de esquerda, sucedem-se as ameaças e, de facto, a prática de «greve» ao investimento.
A única greve de que não gostam mesmo é de verdadeiras greves, da greve dos trabalhadores! Que as fazem sempre, segundo os mesmos, sem motivo, quando não por motivações político-partidárias, orquestrados por tenebrosas potências anti-iniciativa privada!
Sabe-se que essa mesma gente e os seus representantes institucionais – algumas confederações do grande patronato – não gostaram do desfecho das eleições de 4 de Outubro de 2016! E não o disfarçaram, em manifestações públicas junto de órgãos de soberania, de invectivas e chantagens sobre o apocalipse que aí vinha com um possível governo PS, viabilizado por PCP, BE e PEV… e onde se fazia já o pré-aviso da «greve» ao investimento!
São muitas as notícias. Poderíamos começar por dizer que com a bênção do PSD e CDS, para quem vale tudo, até tirar olhos. Passos Coelho não tem papas na língua nem pudor político em afirmar: «Mas quem é que põe dinheiro num país dirigido por comunistas e bloquistas? Quem é o investidor que acredita que o futuro estará seguro naqueles que têm sanha, que não gostam, pelo contrário, que atacam aquilo que eles designam o capital (…)?».
A 8 de Dezembro de 2010, o primeiro-ministro José Sócrates recebia uma delegação da CGTP-IN liderada por Manuel Carvalho da Silva. Em cima da mesa as estratégias do governo para o crescimento da economia e para o emprego.
Apesar de instado pela CGTP-IN a concretizar as medidas propostas o governo refugiou-se em generalidades.
Dia 15 de Dezembro de 2010. Nova reunião com os mesmos protagonistas sobre a chamada Iniciativa para a Competitividade e o Emprego. Mais uma vez o primeiro-ministro recusa-se a concretizar as medidas propostas pelo governo.
A 16 de Dezembro de 2010 António Saraiva, o presidente da CIP, adianta-se em 3 horas (!!!) ao anúncio do Conselho de Ministros feito pela ministra do Trabalho Helena André. Por sua vez o secretário-geral da UGT João Proença apressa-se a anunciar a prévia existência de acordos tripartidos governo, UGT, Confederações Patronais!
Moral da história. Portugal tem um primeiro-ministro que, ao mesmo tempo que cozinha acordos com alguns dos parceiros da Concertação Social, se nega a informar outros. Com uns negoceia. Com ouros faz de conta. Que credibilidade merece um dirigente político que assim age? Hoje é com a CGT-IN. E amanhã quem será a «vítima»?
Quem me contou falou em, no mínimo, actuação cínica de José Sócrates. Eu sou mais pela canalhice. Mas isso deve ser por causa do meu mau feitio...