«Nem mesmo a revelação de que o Comité Nacional do Partido Democrata (PD) sabotou a campanha de Bernie Sanders fez o senador do Vermont retirar o apoio político que, no dia 12, entregara a Hillary Clinton.
Se já todos sabíamos que as primárias democráticas foram tudo menos democráticas, a fuga de mais de dez mil emails da Comissão Nacional, prontamente atribuída por Hillary à Rússia, veio revelar os requintes anti-semitas e fundamentalistas com que a direcção daquele partido procurou denunciar as raízes judaicas de Sanders ou, pior ainda, expor o seu alegado ateísmo.
«Para a minha malta baptista no Sul há uma grande diferença entre um judeu e um ateu», pode ler-se num email divulgado pela Wikileaks em que Brad Marshall, chefe das finanças do PD, pondera a estratégia de ataque a Sanders na comunicação social.»
«Nos EUA cresce um sentimento de desconforto e revolta com a evolução do capitalismo.
Não é ainda uma resistência ao próprio capitalismo e, nesse sentido, deixa espaço para nostalgias utópicas de regresso a um outro capitalismo, que surgem à «esquerda» e à «direita».»
Neste estudo [referido por Miguel Urbano Rodrigues] o autor, Domenico Losurdo, debruça-se sobre as raízes do nazismo nos EUA.
A última guerra contra o Iraque foi acompanhada por um singular fenómeno ideológico: a tentativa de silenciar o movimento de protesto que então se desenvolveu, e que teve uma amplitude sem precedentes, lançando contra ele a acusação de antiamericanismo. E isso, mais do que uma atitude política enganadora, foi e continua a ser desenhado, na previsão de novas guerras que se apresentam no horizonte, como uma epidemia, como um sintoma de pouca adaptação à modernidade e de orelhas moucas ás razões da democracia. Essa epidemia – diz-se – é comum a antiamericanos de esquerda e de direita, e caracteriza as piores páginas da história europeia. Portanto – concluiu-se – criticar Washington e a guerra preventiva não promete nada de bom. Tem algum fundamento histórico esta tese?
Na realidade os bolcheviques sentem-se muito atraídos pela América do melting pot e do self made man. Contrariamente, outros aspectos são aos seus olhos decididamente repugnantes. Em 1924, Correpondace Internationale (versão francesa do órgão da Internacional Comunista) publica o artigo de um jovem indochinês de passagem pelos EUA, que ao mesmo tempo que admira a revolução americana, sente horror pela prática de linchamento que no sul atinge os negros. Um destes espectáculos de massas é assim descrito:
«O negro é posto a cozer, assado na brasa, queimado. Mas ele merece morrer duas vezes em vez de uma só. Por isso é cortado, ou mais correctamente, corta-se o que resta do seu cadáver…
Quando toda a gente esta satisfeita, o cadáver é baixado.
A corda é cortada em pequenos pedaços que são vendidos entre três e cinco dólares cada um».