A notícia da vandalização da estátua do padre António Vieira, em Lisboa, só pode ter sido ditada por três razões: ignorância, provocação, ou ambas.
Quem, fosse por mimetismo ou por cálculo, achou que Lisboa não podia ficar à margem da onda de derrube de estátuas que grassa nos dois lados do Atlântico, não encontrou melhor alvo do que António Vieira, logo ele, que há mais de 400 anos antecipou, no humanismo do seu discurso, muitas das exigências que hoje estão na ordem do dia.
Conspurcar com o termo «descolonização» a estátua de um homem que em pleno século XVII, muito antes da Revolução Francesa e das consignas «liberdade, igualdade e fraternidade», denunciou na corte portuguesa a brutalidade com que os ameríndios e os escravos negros eram (mal)tratados no Brasil, exigindo que fossem tratados como seres humanos e não como animais de carga, é no mínimo bizarro, para não dizer mesmo idiotice.
Escolher como alvo de alegada luta contra o racismo o homem que se orgulhava do tom escuro da sua pele, herdado de uma avó de origem africana, e que passou a maior parte dos seus 89 anos de vida no desconforto da pobreza do Nordeste brasileiro e da Amazónia, depois de ter conhecido o luxo e o requinte das mais célebres cortes da Europa, sem desligar a evangelização da luta contra a escravatura, é no mínimo incongruente, para não dizer mesmo abstruso.
Ultrajar a memória do homem que por causa das suas ideias humanistas foi encarcerado pela Inquisição, em 1665, acusado de «proposições heréticas, temerárias, mal soantes e escandalosas», é tão descabido que cheira a provocação de ignorantes. Já agora, diga-se de passagem que o padre António Vieira chegou mesmo a ser sentenciado, dois anos depois, conforme consta no seu processo conservado na Torre do Tombo, com a privação «para sempre de voz activa e passiva e do poder de pregar», para além da reclusão e da assinatura de um termo onde se obrigava a «não tratar mais das proposições de que foi arguido, nem por palavra nem por escrito».
Rotular de colonizador semelhante personagem, que tem ainda o inconstestável mérito de ser um dos maiores escritores de língua portuguesa, seria anedótico se não fosse tão perigosamente trágico por desviar as atenções do essencial.
Para quem ainda não percebeu que forças incitam a tais actos, ficam as pertinentes palavras do próprio padre António Vieira: «Quem faz acções de Elias é Elias; quem fizer acções de Batista será Batista; e quem as fizer de Judas será Judas. Cada um é as suas acções, e não é outra coisa. Oh que grande doutrina esta para o lugar em que estamos! Quando vos perguntarem quem sois, não vades revolver o nobiliário de vossos avós, ide ver a matrícula de vossas acções. O que fazeis, isso sois, e nada mais.»
«É inaceitável.» «É uma pouca vergonha.» «Assim não!» A ruidosa indignação, revolta, fúria, ira, raiva de Rui Rio, logo secundada pela opinião publicada de uns quantos cães de guarda do establishment e replicada por quantos, no seu profundo reaccionarismo ou infinita ignorância não atinam em distinguir emergência sanitária de emergência totalitária, é digna de registo.
E porquê? Porque numa altura em que o País tem um milhão de trabalhadores em lay-off e mais de 350 mil desempregados, o que os indigna é a ousadia da CGTP em comemorar o 1.º de Maio.
Porque numa altura em que as empresas estão a descartar os trabalhadores com vínculos precários – em 2019 havia cerca de 850 mil sem contrato de trabalho permanente, embora a esmagadora maioria ocupasse postos de trabalho permanentes – o que os revolta é o facto de a CGTP e os malvados dos comunistas, claro, não abrirem mão do direito a assinalar o dia do trabalhador.
Porque numa altura em que milhões de trabalhadores sofrem as consequências das opções políticas e económicas ditadas pela União Europeia, agora agravadas pela pandemia, o que os enfurece não são as brutais perdas nos magros salários, de um terço ou mais, de quem trabalha, mas sim que os legítimos representantes dos explorados tenham a coragem de prosseguir a luta.
Porque numa altura em que disparam os atropelos aos direitos laborais – férias forçadas, pressão para baixas médicas, pressão para licenças sem vencimento, alteração de horários de trabalho, confinamento forçado, etc., etc., etc. –, o que lhes desperta a ira é que a CGTP e os malvados dos comunistas, claro, não abdiquem de ser a voz que não se cala.
Quem ouviu os «indignados de Maio» podia pensar que o País devidamente confinado tinha vindo à janela num monumental caçarolaço de protesto. Qual quê! Foi mesmo só nos media e nas redes sociais, no velho jogo de espelhos para simular multidões.
Quem não soltou um pio quando a Altice, só para dar um exemplo, mandou trabalhadores madeirenses para casa com um corte de 50% nos vencimentos, deixando-os a receber cerca de 300 euros, não obstante ter tido no último ano 814 milhões de euros de lucros antes de impostos, só em Portugal, ficou tão enraivecido com a celebração do 1.º de Maio que contou «milhares» onde nos anos sem restrições só a custo conta «centenas».
Quem do computador não enxerga a «insegurança de transportes públicos a abarrotar, locais de trabalho em que não se garante o distanciamento físico nem a provisão pelas entidades patronais dos equipamentos de protecção individual, a que se junta a pressão e chantagem», nas palavras de CGTP, indignou-se contra a liberdade e a democracia e bolsou ódio de classe. Nada de novo. É por isso que há Maio.
O New York Times dizia que o encerramento de escolas na cidade seria «um último recurso», pois «há cerca de 750 000 crianças pobres, incluíndo cerca de 114 000 sem abrigo [!]. Para esses, a escola pode ser o único sítio que garante 3 refeições quentes por dia e cuidados médicos, ou mesmo a lavagem da roupa» (09/03/2020). O COVID-19 veio depois.
Em apenas 3 semanas, 17 milhões [!] de trabalhadores ficaram sem emprego nos EUA. As ajudas são escassas.
Mas para o grande capital o dinheiro nunca falta. Já foram oficialmente reservados quase 5.000.000.000.000 de dólares.
Trump (cartoon de Pedro Ribeiro Ferreira)
Como em 2008, o Estado vai pagar e endividar-se, mas o dinheiro público servirá para a banca lucrar e quem trabalha se endividar:
«Embora os governos e bancos centrais forneçam grande parte do dinheiro, está-se a pedir aos prestamistas que funcionem como ‘correia de transmissão’ para assegurar que o apoio chegue às empresas e consumidores que dele mais necessitam» (Financial Times, 01/04/2020).
A Reserva Federal está a comprar tudo, sem limites, para «evitar a derrocada dos mercados» (Financial Times, 24/03/2020).
É a «’nacionalização’ dos mercados de Títulos […] com muitas grandes empresas a aproveitar para vender» (Financial Times, 24/03/2020) e até o «apoio ao mercado das dívidas de alto rendimento das grandes empresas» (Financial Times, 09/04/2020).
O Zé Povinho que pague. As Emergências servem também para isso.
Num dos dias desta Primavera de 2020 morreu Manu Dibango. Tinha 86 anos e não resistiu à infecção por coronavírus. O homem que foi aplaudido por multidões vibrantes foi sepultado em silêncio no Cemitério de Père-Lachaise de Paris. Sinal destes tempos de forçada solidão, no funeral de Manu compareceram apenas os seus familiares mais próximos. Ficará na companhia de Paul Éluard, Modigliani, Chopin, Isadora Duncan, Nadar, Maurice Thorez, e tantos outros.
«Desembarquei em França depois de três semanas no mar, em 1948» – diria em entrevista ao jornal L’Humanité. «Foi pouco depois do final da guerra e, no ar, sentia-se amor. Só mais tarde é que ressurgiram os velhos demónios do racismo. Vivi toda a vida com um pé em África e o outro pé na Europa. De um lado e do outro encontrei sempre quem me dissesse que eu não era dali. Não foi fácil encontrar o meu lugar».
Emmanuel N'Djoké Dibangonasceu em Douala (Camarões) a 12 de dezembro de 1933. Filho de pais protestantes - a mãe, de etnia Douala, era costureira e o pai, de etnia Yabassi, era funcionário público - frequentava com os progenitores um templo local a cujo coro viria a pertencer.
Dito assim, até parece que o «nosso modelo de sociedade» é um bem para se guardar e pelo qual vale a pena arriscar a vida.
Ora, tanto quanto vimos da última vez, em Portugal os 10% mais ricos têm rendimentos quase nove (!) vezes superiores aos dos 10% mais pobres.
No ano passado, Portugal ocupava o sexto lugar do topo da lista dos estados-membros da União Europeia com maiores desigualdades nos rendimentos, atrás da Bulgária, Roménia, Letónia, Espanha e Grécia.
Mais, no País permanecem em situação de pobreza mais de 1,7 milhões de pessoas, sendo uma parte significativa destes crianças e jovens.
Alargando o horizonte, o «modelo de sociedade» a preservar arriscando a vida... dos outros, é o que permite, segundo dados de 2019, que 2 153 bilionários possuam mais riqueza do que 4,6 mil milhões de pessoas, ou seja 60% da população mundial.
«De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens» e «Fostes resgatados por grande preço, não queirais tornar-vos servos dos homens» são duas máximas de D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto entre 1952 e 1982, e uma figura emblemática da segunda metade do século XX.
Defensor da Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada em 1948, sempre conviveu mal com a ditadura fascista de Salazar.
A seguir à campanha do General Humberto Delgado para a Presidência da República e à fraude eleitoral montada pelo regime, tornou-se conhecido o 'pró-memória' enviado pelo bispo a Salazar a anteceder um encontro com o então Presidente do Conselho.
No documento, conhecido erradamente como Carta a Salazar (13 de Julho de 1958), propunha para debate temas como a equidade e justiça social, o direito à greve, o sindicalismo livre e não tutelado pelo Estado corporativo e a livre criação de partidos.
Salazar não perdoa o desaforo e o bispo é condenado oficiosamente ao exílio.
Regressa a Portugal em 1969, nunca deixando de ser uma figura polémica e incómoda.
A primeira pedra para a construção do Templo Expiatório da Sagrada Família, o mais emblemático ex-libris de Barcelona, foi lançada há 134 anos, mas o fim desta imponente obra da criatividade humana só deverá ocorrer, segundo as previsões, após 2026.
Fruto da genialidade de Antoni Gaudí, o mais ilustre arquitecto de Barcelona e uma figura universal da arquitectura moderna, que a ela dedicou 40 anos da sua vida, o projecto da Catedral consiste numa grande igreja com uma planta em cruz latina e torres altas, concentrando uma importante carga simbólica tanto do ponto de vista arquitectónico como escultórico, que tem como objectivo último explicar os ensinamentos dos Evangelhos e da Igreja católica.
Para a sua execução, Gaudí rodeou-se de um vasto leque de conceituados artistas, escultores e modeladores.
Prosseguida por sucessivas gerações de discípulos de Gaudí após a sua morte num acidente de viação, em 1926, a obra, imponente e de rara beleza, ficará concluída com a construção da fachada principal, a fachada da Glória, e contará com 18 torres de 125 metros de altura.
Considerado o fundador da narrativa italiana, o sábio, humanista e poeta Giovanni Boccaccio considerava a arte de contar histórias como um valor fundamental da sociedade e não apenas um entretenimento.
Nascido em Paris, filho de um mercador toscano, viveu grande parte da sua vida entre Florença e Nápoles, onde estudou Direito Canónico e conviveu com as elites intelectuais napolitanas, nomeadamente as do círculo de Petrarca, por quem nutria profunda admiração.
Autor de um notável número de obras, Boccaccio é sobretudo conhecido pelo seu «Decameron», escrito entre 1348 e 1353, que o torna no primeiro grande realista da literatura universal.
A obra narra a fuga de sete mulheres e três homens de Florença, atacada pela Peste Negra, para o campo, onde durante a quarentena de 15 dias cada um tem de contar uma história.
Admirador de Dante Alighieri, Boccaccio foi autor de uma das primeiras biografias do escritor, poeta e político florentino: o «Trattatello in laude di Dante», ou «Vita di Dante».
Ao ler a obra de Dante «A Comédia», ficou tão deslumbrado que a renomeou de «A Divina Comédia», título com que seria imortalizada.
Para a posteridade ficou o texto de Boccaccio com os seus comentários sobre a obra: «Esposizioni sopra la Comedia di Dante».
Face à acção e ao papel da China no combate à COVID-19, seja no plano nacional, seja no plano internacional, os sectores mais reaccionários e anticomunistas, têm intensificado a guerra de propaganda contra a China, em que a Administração Trump assume a dianteira com particular ferocidade, talvez para esconder a sua responsabilidade na ausência de resposta adequada ao surto epidémico no seu próprio país.
As autoridades chinesas têm destacado a importância da coordenação entre o controlo da epidemia provocada pelo novo coronavírus e o desenvolvimento económico e social, assim como a necessidade de realizar um duro trabalho para alcançar os objectivos definidos para o desenvolvimento económico e social em 2020, nomeadamente quanto ao combate e à erradicação da pobreza.
As autoridades chinesas têm promovido intensos esforços no sentido da retoma do trabalho e da produção, da actividade económica em geral, do funcionamento do sistema logístico e das cadeias de produção ao nível global, salvaguardando e criando emprego e procurando fazer face ao impacto adverso sobre as exportações provocado pelas medidas restritivas adoptadas em diversos países no âmbito do combate ao coronavírus.
Embora o alastrar da COVID-19 esteja a ter um profundo impacto na economia mundial e criado acrescidos e novos desafios ao desenvolvimento económico e social da China, as autoridades chinesas têm sublinhado que a situação cria igualmente oportunidades para acelerar o desenvolvimento do país, nomeadamente nos sectores da ciência e da tecnologia e no plano industrial.
Para além da salvaguarda do papel estratégico e determinante das empresas e sector públicos na economia da China, as autoridades chinesas apostam na dinamização das pequenas e médias empresas, considerando que estas «superarão definitivamente as dificuldades, com o apoio do Partido, do governo e da sociedade».