Os acontecimentos no mundo árabe revelam bem como a situação internacional é caracterizada por grandes perigos mas simultaneamente por reais potencialidades de desenvolvimento da luta dos trabalhadores e dos povos.
Quando, no início deste ano, os tunisinos e os egípcios saíram à rua exigindo melhores condições de vida e direitos democráticos muitos foram os que afirmaram que, numa região tradicionalmente fustigada pelo domínio colonial e imperialista, nada iria ficar na mesma. A questão é saber que sentido terá essa evolução, se avanços de carácter progressista e democrático, se novas e mais sofisticadas formas de exploração e domínio imperialista e neocolonial.
O jornalista do «Diário de Notícias» e bloguista Pedro Correia (ver também AQUIe AQUI) nestes 3 posts insiste na atoarda e na mentira sobre o pretenso apoio do PCP e dos comunistas portugueses a Muammar Khadafi«na guerra civil em curso na Líbia». Para isso socorre-se do jornal «Avante!».
Respondi-lhe primeiro neste post e depois neste. Desmascarado no seu «trabalho» de manipulação informativa optou por fugir ao debate de ideias. O pretexto, pasme-se, o conteúdo de um comentário de um leitor (Frantuco), ainda por cima devidamente identificado.
Qual virgem vestal, parece ignorar o que camaradas seus de profissão escrevem e dizem: Vasco Valente Correia Guedes (Vasco Pulido Valente), Ferreira Fernandes, Alberto Gonçalves, António Ribeiro Ferreira, Miguel Sousa Tavares, Fernanda Câncio para só citar seis. Ou os conteúdos de caixas de comentários do Blasfemias, do Jugular, ou do Cinco Dias, para só citar três. Ou os mimos com que já fui tratado aqui mesmo neste blog ou no Salazarices.
Como disse e escreveu um dia um Prémio Nobel da literatura, o escritor alemão Thomas Mann, o anti-comunismo é “a maior estupidez humana”. Eu não sou tão radical…
«Já o caso de Pedro Correia é diferente. AQUI e AQUI conclui sobre o pretenso apoio do PCP e dos comunistas portugueses a Khadafi. Quando em TODOS os textos e tomadas de posição é claramente feita a distinção entre o líder líbio e o seu povo. E são claras e inequívocas as críticas a Khadafi. Ao misturar o toucinho com a velocidade e ao esconder esses factos dos seus leitores, o jornalista Pedro Correia está a entrar numa área «repugnante» (para utilizar um termo dele): a manipulação informativa e a desonestidade intelectual.»
Vamos por partes:
1. Pedro Correia manifestou-se interessado em conhecer a minha posição sobre a situação na Líbia. Satisfiz-lhe a curiosidade num extenso post de quase 6 500 caracteres. Sobre o que escrevi Pedro Correia diz nada, nepia, nickles. Ou melhor, acusa-me de «querer matar à nascença qualquer debate de ideias». Com seis mil e quinhentos caracteres? Espantoso!
2. Pedro Correia, insiste, insiste, insiste sobre a tese de que o PCP apoia Muammar Khadafi «na guerra civil em curso na Líbia». E socorre-se do jornal «Avante!». Façamos o mesmo (por ordem cronológica».
Percebido? Ou é preciso fazer um desenho? Onde é que Pedro Correia enxerga o apoio do PCP ao «camarada» Khadafi? (já agora: Khadafi, não é, nem nunca foi, camarada do PCP)
Isto é ou não manipulação informativa e a desonestidade intelectual? Ao leitor de decidir...
5. E como não quero que falte nada ao Pedro Correia aqui vai um conselho (à borla) de leitura sobre a temática em apreço: Cravo de Abril.
Os jornalistas e bloguistas Daniel Oliveira e Pedro Correia estão curiosos sobre a minha posição sobre a situação na Líbia. Por uma vez vou satisfazer-lhes a curiosidade.
1. A minha posição, como comunista, como marxista-leninista, parte de uma posição de classe: a quem serve a actual escalada política e militar neste país?
Dois objectivos motivaram o ataque à Líbia: por um lado, o saque dos recursos naturais – petróleo e gás. Por outro, a necessidade de controlar através do medo, o rumo das rebeliões populares que na Tunísia e no Egipto derrubaram as ditaduras de Ben Ali e Mubarak, ambos aliados de Washington.
2. É óbvio que uma parte da população líbia já não se revê em Kadhafi e no seu regime «unificador de todos os clãs». O mesmo regime que (sobretudo após 1993) abraçou os programas de ajuste estrutural do FMI e a sua política de privatizações. Que abraçou os grandes negócios com as principais potências imperialistas e a «guerra contra o terrorismo» de Bush.
Kadhafi está enganado quando diz que o seu povo o ama. E uma das razões reside precisamente no facto de ao abraçar a «guerra contra o terrorismo» ter voltado as costas ao seu próprio povo.
Mas também há dados que nos indicam continuar a haver sectores que apoiam o actual regime, seja do ponto de vista político e militar, seja popular.
3. Estamos pois perante um conflito interno que se desenrola num país com características muito particulares e em que os clãs, e o acesso que têm ao armamento, pesaram determinantemente no facto de o conflito ter rapidamente resvalado para um confronto militar interno, com as terríveis consequências que isso acarreta.
4. É conhecida a formidável capacidade de espionagem nesta zona por parte dos EUA e das antigas potências coloniais europeias, bem como de Israel, do Egipto, da Arábia Saudita e dos Emiratos Árabes Unidos. É extremamente significativo que não tenham conseguido divulgar durante estas semanas informações e imagens credíveis sobre genocídios da parte governamental. Nem sobre a verdade das operações realizadas que tornaram Benghazi a zona rebelde por excelência.
A invasão do Iraque teve como pretexto uma enorme mentira. Nada está a ficar diferente no ataque à Líbia.
5. Acaptura de militares holandeses em território Líbio pelas forças leais a Kadhafi e a captura de militares britânicos pelos próprios rebeldes foram dois acontecimentos elucidativos. Estes dois factos, por si só, tornaram clara a estratégia da NATO e das suas principais potências. Tratava-se de desenvolver, num quadro de uma situação de conflito interno, uma ilegal e criminosa acção de ingerência, espionagem, incitamento, treino e armamento de alguns sectores rebeldes. Tratava-se de criar o «caos humanitário» no País e, finalmente, abrir o campo ao grande objectivo: a intervenção militar e domínio sobre aquele imenso território.
6. Perante este cenário qual deveria ter sido a actuação da chamada comunidade internacional?
A atitude do Conselho de Segurança das Nações Unidas e do Secretário Geral da ONU deveria, à luz da Carta das Nações Unidas, ser a de promover e apoiar iniciativas diplomáticas de países como a Venezuela e de organizações, como a União Africana, visando uma resolução pacífica do conflito interno na Líbia.
A realidade foi outra. Assistimos, isso sim, a uma actuação de apoio a uma estratégia que visou iniciar mais uma guerra imperialista de agressão. Guerra essa que, inevitavelmente, agravará o conflito interno e provocará ainda maior instabilidade em toda a região do Magrebe e Médio Oriente.
De sublinhar a abstenção na votação dos quatro países do chamado BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China. Bem como a idêntica posição por parte da Alemanha.
7. EUA, Inglaterra e França preparam-se para «salvar» o povo Líbio do «ditador louco». Apesar das sucessivas declarações dos rebeldes contra uma intervenção militar estrangeira no conflito Líbio. O discurso da «intervenção humanitária» volta às parangonas. É «vendido» pelos mesmos que venderam a Kadhafi os programas de ajuste do FMI e que estão na origem da deterioração da situação social no país.
Enquanto invocam a defesa da liberdade e da democracia e motivos humanitários para bombardear a Líbia, os EUA apoiam as matanças praticadas pela ditadura feudal do Iémen e incentivaram a monarquia islamista da Arábia Saudita a invadir o Bahrein, sede da V Esquadra da US Navy – para reprimir a insurreição do seu povo.
A contradição ilumina bem o farisaísmo de Washington. Aliás como sempre ao longo da sua história (ver The National Security Archive).
8. A presença na dita coligação de Marrocos, Qatar, Emiratos Árabes Unidos, Jordânia e Iraque, tudo, como se sabe, regimes que são extremosos defensores dos «direitos humanos» é elucidativa. Como elucidativa é a afirmação arrogante do embaixador francês que o Conselho de Segurança «não é um quartel-general» e que «este Conselho deve dar autorização política e depois os países devem trabalhar juntos para a [a dita «zona de exclusão aérea»] impor».
A promessa de Berlusconi, outro impoluto humanista, de se juntar aos agressores, só arrastará ainda mais esta agressão pela lama da ignomínia.
9. Na Líbia, como na Palestina, no Líbano, na Jugoslávia, no Iraque, no Afeganistão e em tantos outros lugares, as potências imperialistas acenam cinicamente com preocupações de «direitos humanos» e defendem a dita «ingerência humanitária». Mas, na prática, apenas semeiam a morte e a destruição como forma de assegurar a exploração dos povos e dos seus recursos.
O verdadeiro amor ao povo Líbio passa neste momento por impedir mais um crime «humanitário» do imperialismo e afirmar sem tibiezas que lhe caberá decidir do seu próprio destino.
Para terminar, apenas duas notas:
Este texto de Daniel Oliveira enferma de demasiados erros factuais (ler os comentários). Erros esses que servem de fundamento a algumas das conclusões. O jornalista Daniel Oliveira deveria saber que quando as premissas estão erradas as conclusões também.
Já o caso de Pedro Correia é diferente. AQUI e AQUI conclui sobre o pretenso apoio do PCP e dos comunistas portugueses a Khadafi. Quando em TODOS os textos e tomadas de posição é claramente feita a distinção entre o líder líbio e o seu povo. E são claras e inequívocas as críticas a Khadafi. Ao misturar o toucinho com a velocidade e ao esconder esses factos dos seus leitores, o jornalista Pedro Correia está a entrar numa área «repugnante» (para utilizar um termo dele): a manipulação informativa e a desonestidade intelectual.
1 - O PCP deplora a aprovação no Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas de uma Resolução que preconiza a agressão militar estrangeira à Líbia.
Longe de corresponder a qualquer genuíno sentimento de solidariedade para com o povo da Líbia e de defesa dos seus legítimos direitos, a Resolução adoptada pelo CS da ONU visa dar cobertura aos objectivos das grandes potências ocidentais de intervenção directa nos assuntos internos deste Estado soberano e de controlo geoestratégico e dos recursos naturais da Líbia.
A ONU autorizou as missões que EUA e a UE enviaram para o Golfo do Aden. A cobertura é o combate à pirataria na costa marítima da Somália, mas os objectivos de fundo vão bem mais longe.
A resolução 1851, adoptada terça-feira, dia 16, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas permite aos «Estados que cooperam com o governo de transição somali estender os seus esforços contra a pirataria a eventuais operações no solo e no espaço aéreo», argumentam os EUA muito embora o texto não autorize explicitamente a realização de bombardeamentos pelas forças de diversos países que rumam em direcção à costa da Somália.
Apesar desta diferença de interpretação, pouco ligeira, diga-se, no fundamental as reivindicações norte-americanas, das grandes potencias capitalistas e da burguesia transnacional em matéria de combate à pirataria no Golfo do Aden foram atendidas pelas Nações Unidas, que desde Junho já adoptaram quatro resoluções sobre a questão.
O mandato de um ano corresponde à disposição manifestada recentemente por Washington de «passar à ofensiva», como disse o vice-almirante Bill Gortney, citado pela Lusa, numa reunião ocorrida em Manamá, capital do Bahrein, no passado dia 12. Acolhidos ficam também os interesses da União Europeia, que avançou com a missão naval «Atalante». Nela se incluem meios militares da Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Grécia, Holanda, Reino Unido e Suécia.