Números que falam e gritam
No artigo publicado nesta mesma coluna a 18 de Abril «É mesmo uma pipa de massa» anunciava-se uma previsível treta. Os países do chamado G7 armavam-se em fortes, «exigindo» contas aos banqueiros. Mas só para daí a 100 dias. Isto depois de terem estado os 9 meses anteriores a assobiar para o lado a ver em que é que paravam as modas.
E seis meses depois o que é que temos? Qual a realidade da crise? Deixemos os números falar (e gritar) por si.
Em Abril, recorde-se, os grandes bancos centrais (Reserva Federal Americana, Banco Central Europeu, Banco de Inglaterra, Banco do Japão) tinham injectado no sistema financeiro mil milhões de milhões de dólares. Com o único objectivo de manter a economia de casino e a especulação a funcionarem.
Hoje esse número já triplicou!!! Escreve-se 3 000 000 000 000. É um 3 seguido de doze zeros. Quase 15 vezes o PIB de um país como Portugal. Ou 9 apartamentos com 150 metros quadrados de área cheios de notas de 500€ até ao tecto. Dava e sobrava para acabar com a fome e a pobreza em todo o mundo. E não pára de aumentar todos os dias, dia após dia.
A comunicação social refere que o Relógio da Dívida Nacional dos Estados Unidos já não tem dígitos suficientes para exibir o montante do défice do país. O contador digital parou em Setembro, quando a dívida chegou ao patamar dos 10 mil milhões de milhões de dólares. Este relógio está exposto numa das esquinas mais movimentadas de Manhattan, em Time Square.
As bolsas em todo o mundo mais parecem uma montanha russa. O PSI 20 da Bolsa de Lisboa valia mais de 12 mil pontos em Agosto de 2007. Hoje anda pelos 6 mil.
O impacto mundial desta crise económica e financeira do capitalismo ainda não se revelou em toda a sua extensão. Recordemos que a actual crise, com epicentro nos EUA, é um novo e mais grave episódio da crise que se arrasta desde 1994/95. Com os episódios da crise do peso mexicano, a crise «asiática» de 1997/98, a crise económica de 2001/03, e a crise do sector imobiliário norte-americano desencadeada em Agosto de 2007.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera que a actual crise financeira é «uma das mais significativas ameaças à economia mundial na história moderna». O seu director-geral, Juan Somavia, prevê mais 20 milhões de desempregados em 2009. Segundo as estimativas da OIT, o número de desempregados pode passar de 190 milhões, apurados no ano passado, para 210 milhões no final do próximo ano.
A população de trabalhadores pobres vivendo com menos de um dólar (0,75 euros) por dia pode aumentar em 40 milhões e a dos que vivem com dois dólares (1,5 euros) por dia em mais de 100 milhões, acrescenta a OIT. Juan Somavia salientou que estas projecções «podem revelar-se por baixo se os efeitos do actual abrandamento do crescimento económico e da ameaça de recessão não forem rapidamente combatidos».
Mais de 200 mil postos de trabalho já foram suprimidos em Wall Street e noutros centros financeiros com a falência de bancos ou fusões na sequência da crise financeira. São sempre os mesmos a pagar a factura…
A economia das sete maiores economias mundiais vai registar no próximo ano a maior contracção desde a Grande Depressão – anos de guerra excluídos – na sequência da crise de crédito que atinge empresas e consumidores, antecipa o Deutsche Bank.
Segundo o governo de José Sócrates «nós por cá (quase) todos bem». Não tarda nada regressamos à teoria do «Oásis»! Alguém acredita?
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação
In "Jornal do Centro" - Edição de 24 de Outubro de 2008
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