Um mês antes do início da crise - com o rebentamento da «bolha» especulativa do imobiliário nos EUA em Agosto de 2007 - em Julho, na Bolsa de Lisboa o PSI 20 atingia os 13.500 pontos. Cinco anos depois, em Agosto de 2012, o mesmo índice batia nos 4.500 pontos (!!!).
Deve ser este o tal sinal de confiança dos «mercados» - alcunha para bancos, seguradoras, fundos de investimento e outros especuladores - na economia de Portugal de que falam Pedro Passos Coelho, Paulo Portas, Vítor Gaspar e demais analistas e comentadores encartados...
Os leitores que me desculpem, mas hoje vão ter de aturar as minhas «rabugices» sobre a forma de perguntas. A ver se alguém me responde…
O Centro de Produção de Mangualde da PSA/Peugeot-Citroen recebeu do governo português, para além de benefícios fiscais em sede de IRC, 8,6 milhões de euros para criar mais 80 postos de trabalho acima dos 1.226 que tinha e manter a laboração até 2013 (Resolução do Conselho de Ministros nº 34/2007). Onde está esse dinheiro? Como foi gasto? O governo de José Sócrates (e os deputados do PS, PSD e CDS/PP de Viseu) anda a dormir?
Mais de 10 mil trabalhadores portugueses já se encontram em situação de lay-off, a maioria dos quais é manifestamente ilegal. A quase totalidade está proposto para vigorar até Outubro/Novembro de 2009. É impressão minha ou a «coincidência» com as datas das eleições legislativas é por demais óbvia? Será que alguns patrões estão a «financiar» e a contribuir indirectamente para a campanha do PS? E depois de Outubro, realizadas as eleições e terminados os lay-off? Será que vamos assistir a novas vagas de despedimentos?
Algumas cabeças pensantes desdobram-se em análises e declarações a defender a teoria do congelamento dos salários dos trabalhadores enquanto durar a crise. Mas, alto lá, não é para todos. É que no nosso país um gestor executivo de uma empresa do índice da Bolsa de Lisboa, PSI 20, ganha, em média, mais de 50 mil euros brutos mensais (1666 euros por dia…). Em 2008, as empresas do PSI 20 gastaram 82,3 milhões de euros a remunerar os seus 216 administradores, executivos e não executivos. Ou será que estes 216 senhores e senhoras vão reduzir em 25 ou 30 por cento os seus salários, como sucede aos trabalhadores em lay-off? Deve ser mais uma das minhas «rabugices», mas algo me diz que bem posso esperar sentado…
Um dos defensores da teoria do congelamento de salários é o «reputado» economista Vítor Bento. Todos o temos lido, visto e ouvido nos jornais televisões e rádios. O homem não pára. Só que, como diz o nosso povo, «bem prega Frei Tomás: faz o que ele diz, não faças o que ele faz». Então não é que se lhe descobriu a careca. Vítor Bento é um quadro do Banco de Portugal (BP) e actual presidente da SIBS, a sociedade que gere o Multibanco. Está de licença sem vencimento há nove anos, quando os próprios regulamentos do BP estipulam o máximo de três anos. Pois foi promovido por mérito em Maio de 2008, com efeitos retroactivos a Janeiro do mesmo ano. O que se traduzirá em mais 720 euros mensais quando o economista voltar ao banco, com reflexos também no valor da sua futura reforma. Vítor Bento não quer dar o exemplo e começar por reduzir os seus vencimentos (não é gralha, é mesmo no plural)?
Mas este é apenas um exemplo elucidativo. A realidade, infelizmente, é bem mais profunda. Em 1973 (último ano do fascismo) a parte que as remunerações, sem incluir as contribuições sociais, representavam do PIB era de 47%. Com a revolução do 25 de Abril passou para 59% do PIB em 1975. Depois assistiu-se a uma diminuição sistemática, alcançando com o governo de Sócrates, em 2008, apenas 34% do PIB. E a previsão é que sofra uma nova redução em 2009. Será isto a tal «preocupação social» de que falam os defensores do governo PS? Será isto estar ao lado dos trabalhadores e desfavorecidos? Ou será que com estes dados (oficiais) percebemos todos perfeitamente de onde vêm os lucros fabulosos de muitas empresas e para quem têm governado PS e PSD (com ou sem CDS/PP)?
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação