Força Estranha Eu vi o menino correndo Eu vi o tempo Brincando ao redor do caminho daquele menino Eu pus os meus pés no riacho E acho que nunca os tirei O sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei
Eu vi a mulher preparando outra pessoa O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga A vida é amiga da arte É a parte que o sol me ensinou O sol que atravessa essa estrada que nunca passou
Por isso uma força me leva a cantar Por isso essa força estranha Por isso é que eu canto, não posso parar Por isso essa voz tamanha
Eu vi muitos cabelos brancos na fonte do artista O tempo não pára e no entanto ele nunca envelhece Aquele que conhece o jogo Do fogo das coisas que são É o sol, é a estrada, é o tempo, é o pé e é o chão
Eu vi muitos homens brigando Ouvi seus gritos Estive no fundo de cada vontade encoberta E a coisa mais certa de todas as coisas Não vale um caminho sob o sol E o sol sobre a estrada é o sol sobre a estrada é o sol
Por isso uma força me leva a cantar Por isso essa força estranha Por isso é que eu canto, não posso parar Por isso essa voz tamanha
Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão, não. A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando pro chão. Viu? Você que inventou esse Estado Inventou de inventar Toda escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar o perdão.
(Coro) Apesar de você amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder Da enorme euforia? Como vai proibir Quando o galo insistir em cantar? Água nova brotando E a gente se amando sem parar.
Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros. Juro! Todo esse amor reprimido, Esse grito contido, Esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza Ora tenha a fineza de "desinventar". Você vai pagar, e é dobrado, Cada lágrima rolada Nesse meu penar.
(Coro2) Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Ainda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria.
Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença.
E eu vou morrer de rir E esse dia há de vir antes do que você pensa. Apesar de você
(Coro3)Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia.
Como vai se explicar Vendo o céu clarear, de repente, Impunemente? Como vai abafar Nosso coro a cantar, Na sua frente. Apesar de você
(Coro4)Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Você vai se dar mal, etc e tal, La, laiá, la laiá, la laiá…….
«Na foto de cima vemos os helicópteros do exercito brasileiro com as laterais abertas e apontando covardemente as metralhadoras em direção dos trabalhadores metalúrgicos, familiares e jornalistas presentes na cobertura da greve. Na foto de baixo, os grevistas não se intimidaram e gritaram palavras de ordem.1980»
Histórico: Sim! A composição desta música é de Roberto Carlos. E não, ela não foi dedicada a nenhuma mulher. O "rei" Roberto compôs esta música para o amigo Caetano Veloso que estava exilado em Londres. Sabia das saudades que o amigo sentia de seu país e a dor e vazio por não poder voltar. Compôs então a música que, mais tarde se tornaria sucesso na voz do próprio Caetano. Nesta época muitos brasileiros viviam no exílio, ou seja, tiveram que fugir do Brasil por conta da forte repressão infligida pelos órgãos repressivos da ditadura militar.
Um dia a areia branca Seus pés irão tocar E vai molhar seus cabelos A água azul do mar
Janelas e portas vão se abrir Pra ver você chegar E ao se sentir em casa Sorrindo vai chorar Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma história pra contar De um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade De ficar mais um instante As luzes e o colorido Que você vê agora Nas ruas por onde anda Na casa onde mora Você olha tudo e nada Lhe faz ficar contente Você só deseja agora Voltar pra sua gente Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma história pra contar De um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade De ficar mais um instante Você anda pela tarde E o seu olhar tristonho Deixa sangrar no peito Uma saudade, um sonho Um dia vou ver você Chegando num sorriso Pisando a areia branca Que é seu paraíso Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Uma história pra contar De um mundo tão distante Debaixo dos caracóis dos seus cabelos Um soluço e a vontade De ficar mais um instante
Quando eu me encontrava preso Na cela de uma cadeia Foi que vi pela primeira vez As tais fotografias Em que apareces inteira Porém lá não estavas nua E sim coberta de nuvens...
Terra! Terra! Por mais distante O errante navegante Quem jamais te esqueceria?...
Ninguém supõe a morena Dentro da estrela azulada Na vertigem do cinema Mando um abraço prá ti Pequenina como se eu fosse O saudoso poeta E fosses a Paraíba...
Terra! Terra! Por mais distante O errante navegante Quem jamais te esqueceria?...
Eu estou apaixonado Por uma menina terra Signo de elemento terra Do mar se diz terra à vista Terra para o pé firmeza Terra para a mão carícia Outros astros lhe são guia...
Terra! Terra! Por mais distante O errante navegante Quem jamais te esqueceria?...
Eu sou um leão de fogo Sem ti me consumiria A mim mesmo eternamente E de nada valeria Acontecer de eu ser gente E gente é outra alegria Diferente das estrelas...
Terra! Terra! Por mais distante O errante navegante Quem jamais te esqueceria?...
De onde nem tempo, nem espaço Que a força mãe dê coragem Prá gente te dar carinho Durante toda a viagem Que realizas no nada Através do qual carregas O nome da tua carne...
Terra! Terra! Por mais distante O errante navegante Quem jamais te esqueceria? Terra! Terra! Por mais distante O errante navegante Quem jamais te esqueceria? Terra! Terra! Por mais distante O errante navegante Quem jamais te esqueceria?...
Na sacada dos sobrados Da velha S. Salvador Há lembranças de donzelas Do tempo do Imperador Tudo, tudo na Bahia Faz a gente querer bem A Bahia tem um jeito...
Terra! Terra! Por mais distante O errante navegante Quem jamais te esqueceria? Terra!
Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos Dando porrada na nuca de malandros pretos De ladrões mulatos E outros quase brancos Tratados como pretos Só pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos) E aos quase brancos pobres como pretos Como é que pretos, pobres e mulatos E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados E não importa se olhos do mundo inteiro possam estar por um momento voltados para o largo Onde os escravos eram castigados E hoje um batuque, um batuque com a pureza de meninos uniformizados De escola secundária em dia de parada E a grandeza épica de um povo em formação Nos atrai, nos deslumbra e estimula Não importa nada Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico Nem o disco de Paul Simon Ninguém Ninguém é cidadão Se você for ver a festa do Pelô E se você não for Pense no Haiti Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico Mal dissimulado Diante de qualquer, mas qualquer mesmo Qualquer qualquer Plano de educação Que pareça fácil Que pareça fácil e rápido E vá representar uma ameaça de democratização do ensino de primeiro grau E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto E nenhum no marginal E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco brilhante de lixo do Leblon E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina 111 presos indefesos Mas presos são quase todos pretos Ou quase pretos Ou quase brancos quase pretos de tão pobres E pobres são como podres E todos sabem como se tratam os pretos E quando você for dar uma volta no Caribe E quando for trepar sem camisinha E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba Pense no Haiti Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui O Haiti não é aqui
[esta letra refere-se ao massacre de 111 presos na prisão de Carandiru em 2 de Outubro de 1992]