Exilado na internet, dedico este texto aos que defendem a comunicação como veículo intermodal, transportador de memória multifocada, informação contrastada e crítica estruturada. Creio que os leitores compartem este sentimento de vazio e desinserção no contexto mediático. Sentimento que não é sinónimo de queixume, antes constatação da natureza de classe das empresas de informação, opinião e lazer. O capitalismo lançou uma operação de saque global e os jornais, as rádios e as televisões constituem unidades de cobertura. Portanto, quem se opõe ao sistema é irradiado ou reduzido a figura de convite.
Não ignoramos as leis do confronto, a vocação selectiva e repressiva das instituições, o ânimo insaciável do neoliberalismo. Compete-nos surpreender o manifesto e o inconfessado da ordem cleptocrática. Viver exilado tem sido uma das fracturas e uma das facturas da nossa identidade, um dos défices de habitabilidade da pátria de Camões, ele, por mais que se retoque a iconografia e se agendem evocações solenes, pungente retrato da pátria incomum: deserdado e rec(luso), elevado a poeta oficial. Numerosos titulares das letras, das artes e das ciências legaram, além da sua obra, a sua cólera e a sua melancolia.
Vamos falar de greve geral Uma greve geral nunca é total Imagina que todos fariam greve Diz-nos O impossível para que serve Sim Cumpre o possível É o teu dever Não te desculpes para nada fazer Hoje vamos falar de greve geral Em qualquer local Aqui Em Portugal Há quem não alinhe em greves gerais Nem sequer adira a greves parciais Há quem esteja contra as paralisações Quando não são decretadas por patrões Hoje vamos falar de greve geral Esquece a tua greve imaginária O capital marca greves todo o ano Muito mais de 1 milhão não tem trabalho Marca a nossa Fá-la tua Colabora És uma peça do xadrez da vitória Hoje vamos falar de greve geral Mas de quem produz Da massa laboral Não achas que é tempo de baixar os braços Para levantar os salários baixos Se não achas Fica a exigir a lua Enquanto na terra a luta continua Hoje vamos falar de greve geral Não és só trabalhador a trabalhar Não resolves o teu caso no cantinho Nem com medo Nem com sorte Nem sozinho Sim Decide com quem estás e com quem vais Os teus problemas são todos nacionais Hoje vamos falar de greve geral Contra o poder de explorar e amedrontar Camarada Colega Amigo Aliado Pára Escuta Tens mais força parado Hoje fabricarás faixas e bandeiras Megafones Coletes e braçadeiras Hoje vamos falar de greve geral Em qualquer local Aqui Em Portugal Os piquetes são a tropa perfilada O abraço antigo A conversa actualizada Se me perguntarem de que lado estou Direi Do lado que a História me ensinou Hoje vamos falar de greve geral É dia da pátria obreira e fraternal Estou contigo Estás comigo Companheiro Traz outro amigo Camarada verdadeiro Viva a máquina do mundo e do progresso Faço greve Ganho o meu dia Protesto Sim Greve geral Cada vez mais geral Fazem a guerra Querem paz social Fica à porta da empresa e do Estado Hoje não entres no sítio errado Não piques o ponto da resigNação Dá um murro na mesa da enceNação Sim Greve geral Cada vez mais geral Em qualquer local Aqui Em Portugal Viva a máquina do mundo e do progresso Faço greve Ganho o meu dia Protesto
Expresso & Avante!/Dois Espelhos do Mundo é o título de um livro recentemente lançado pela Associação de Jornalistas e Homens do Porto. Conserva a matéria nuclear da primeira versão, que incorporava anexos, organigramas, gráficos, dossiers, fichas de investigação, bibliografia exaustiva. Elementos de suporte para destinatários académicos. A edição da AJHLP visa públicos diferenciados. O autor autopsiou e confrontou três exemplares: dois Expressos (1973/2002) e um Avante! (2002). É deste estudo comparado que apresentamos extractos. Não obstante o banco de dados que suporta os textos ter datação, estes mantêm actualidade conceptual. Para além da validade metodológica e hermenêutica. De facto, aprender a fazer e a ler jornais constitui um repto de cidadania.