A URAP organiza em parceria com o Museu do Aljube uma iniciativa de apresentação do livro «Vidas na Clandestinidade», de Cristina Nogueira, com a presença da autora e com apresentação de Paula Godinho.
«Procuramos neste livro caracterizar a clandestinidade comunista, enquanto contexto de vida e de luta, e descobrir as normas de conduta, regras, códigos éticos e morais, e até a linguagem particular que os clandestinos assumiam. Pretendemos assim equacionar a cultura própria que emana da clandestinidade comunista, caracterizando não tanto a organização partidária numa perspectiva macro-estrutural, mas lançando um olhar para o quotidiano da vida clandestina, usando como fonte privilegiada de informação as vozes daqueles que permaneceram clandestinos e que nos forneceram as suas narrativas biográficas.
A ideia de que é necessário dar a conhecer testemunhos das vítimas do fascismo, e que é fundamental para a construção da nossa identidade e da nossa memória colectiva esse conhecimento é o motivo primeiro que está na origem desta publicação. A ideia de que é importante legar para as gerações vindouras as memórias das vítimas do regime fascista e a sua versão dos factos, e que é necessário combater a ideia de que a ditadura foi inevitável, necessária ou até benéfica, construindo uma memória colectiva da resistência e da oposição, foi possivelmente a principal razão para que os ex-clandestinos aceitassem colaborar na investigação que realizámos.»
O Forte de Peniche foi durante muitos anos a prisão de alta segurança do fascismo, onde eram encarcerados, depois de «julgados» e condenados pelos tribunais especiais, portugueses que se empenhavam na luta contra o regime opressor.
O Forte de Peniche contém, para lá das suas espessas muralhas e nos edifícios gradeados onde os presos viviam, não só marcas profundas de sofrimento mas também elevados exemplos de coragem que por isso o converteram em local de uma memória colectiva a preservar, mantendo e respeitando as marcas desse passado, o legado de resistência e luta do povo português.
Sabe-se, conhece-se, ninguém pode ignorar que o Forte de Peniche é talvez o mais simbólico dos locais da resistência ao fascismo. Ali milhares de cidadãos, das mais diversas profissões e originários um pouco de todo o País, sofreram o pior dos isolamentos, castigos, maus-tratos, privações de todo o tipo.
Não pode ser esquecido que dentro daquelas fortes muralhas, em celas de tamanho diminuto, milhares de portugueses passaram parte das suas vidas encarcerados para que possamos hoje viver, todos, em liberdade.
«Mais de 600 ex-presos políticos, seus familiares, amigos e muitos democratas, aprovaram no sábado, 29 de Outubro, um apelo onde se exige que o Governo ponha fim ao projecto de concessão da Fortaleza de Peniche, que, a ser concretizado, seria mais um passo na política de fazer esquecer que o fascismo existiu, com todo o seu cortejo de crimes, e representaria um atentado à democracia, conquista inseparável da resistência do povo português à ditadura.
(...)
No local que o Executivo PS quer transformar num hotel à beira mar plantado, o mesmo que os presos nem sequer podiam ver, estiveram pessoas do Porto, Coimbra, Marinha Grande, Peniche, Algarve, Beja, Évora, Barreiro, Baixa da Banheira, Setúbal, Almada, Vila Franca de Xira, Alhandra, Algueirão, Sintra, Montemor-o-Novo, Alpiarça e Couço e de muitos outros locais do País, para dizer «Não» à intenção de entregar a privados o Forte de Peniche, local histórico da resistência ao fascismo e da luta pela liberdade, onde milhares de portugueses foram sujeitos às mais severas condições de isolamento, maus tratos e às tristemente célebres medidas de segurança que prolongavam indefinidamente as penas de prisão decididas pelos tribunais plenários.
No apelo «Em defesa da Fortaleza de Peniche, símbolo da repressão e da luta contra o fascismo», dirigido ao primeiro-ministro e aprovado com emoção e lágrimas, sob uma intensa salva de palmas, refere-se que «há valores que não podem, nem devem, ser mercantilizados» e lembra-se que «os edifícios da Cadeia do Forte de Peniche, onde estiveram 2500 presos, encerram uma história de milhares de anos de vidas privadas de liberdade e sujeitas a um regime prisional odioso que não poupava os familiares dos presos, também eles sujeitos a actos de repressão, arbitrariedade e humilhação» e «numerosas manifestações de luta, solidariedade, dignidade e apego à liberdade».
Museu da Resistência
«O respeito pela memória de milhares de portugueses que deram o melhor das suas vidas, e muitos a própria vida, por um Portugal livre e democrático, exige a preservação da Fortaleza de Peniche como símbolo da resistência e da luta contra o fascismo», sublinha o documento, acrescentando: «O dever do Estado não é atentar contra um dos mais significativos símbolos da repressão», mas sim «adoptar as medidas políticas e financeiras para garantir a preservação da Fortaleza de Peniche como património nacional ao serviço da comunidade e assegurar a instalação de um verdadeiro museu da resistência que cumpra a imperiosa função de dar a conhecer às jovens gerações o que significaram 48 anos de ditadura fascista para o nosso País, quantos sacrifícios impôs aos portugueses e o que foi a heróica luta do povo pela liberdade e pelas conquistas da Revolução de Abril».»
A antiga cadeia do Forte de Peniche deve assim seguir o mesmo rumo que a Prisão do Aljube, hoje transformada em local também de memória, devidamente ilustrado e documentado.
Como escreviAQUIeAQUI, não aderi à “revolução” semântica dos conservadores e neo-conservadores. Nos anos oitenta do século XX “revolucionaram”, com sucesso, a terminologia política e económica. O capitalismo passou a ser designado como “economia de mercado”. Mais recentemente trocaram o imperialismo por “globalização”. Só que um homem é um homem e um bicho é um bicho.
Em Portugal a ditadura de Salazar e Caetano conseguiu, se possível, ser ainda mais original e ao mesmo tempo ridícula.
Na época «vermelhos» era sinónimo de «comunistas». E havia um problema: as camisolas dos equipamentos do Sport Lisboa e Benfica eram de cor vermelha. Solução? Simples! Inventou-se um novo nome para essa cor - o encarnado!!! E assim o vermelho passou a ser a única cor a ter dois nomes!
A censura encarregou-se do resto. Sempre que o SLB era notícia era a «equipa encarnada», «os encarnados» e por aí fora sempre no mesmo registo.
Veio o 25 de Abril de 1974 e a coisa lá se foi corrigindo. O vermelho passou a ser só vermelho.
Confesso que não me apercebi quando a semântica fascista do «encarnado» regressou. O que sei é que na última semana em quase tudo o que é comunicação social desportiva ela esteve presente em força. Saudosismo? Ignorância? Ou?...
Eu vou repetir muito devagar:
Cada côr tem apenas um, e um só, nome. O encarnado não existe! O nome correcto é VERMELHO.
Em plenas celebrações dos 40 anos da nossa querida revolução de Abril, que teima em deixar-nos saudosistas é com um enorme prazer, vos convido para a abertura no próximo dia 15 para a exposição "Por teu livre pensamento" de onde resultou o meu primeiro livro em co-autoria com o Rui Daniel Galiza, onde retratamos 25 ex-presos politicos portugueses.
Este trabalho foi exposto apenas no Centro Português de Fotografia, no Porto em 2007 e na Point of View Gallery em Nova Iorque em 2008, e por isso achei que seria uma boa altura para o mostrar pela primeira vez em Lisboa, e a Plataforma Revólver aceitou de imediato a ideia.
A inauguração será nodia 15 de Maio às 22h na Rua da Boavista nº84 em Santos, Lisboa.
Espero poder contar com a vossa presença, e estarei lá para vos receber.
Este artigo não pretende ser mais do que um registo valorativo das grandes lutas estudantis de 1962, lutas que a data de 24 de Março, comemorada em Portugal como o «Dia do Estudante», simboliza.
Um registo oportuno porque passam este ano 50 anos sobre esse acontecimento histórico. Mas sobretudo um registo necessário para lembrar que o movimento estudantil, e em particular a sua expressão legal e semi-legal que foi o movimento associativo, tendo como base as Associações e Pró-Associações de Estudantes, constituiu uma componente muito activa e importante do movimento popular e antifascista.
Muito foi já escrito nas páginas de «O Militante» sobre o tema, antes e depois do 25 de Abril (1). Mas é sempre instrutivo evocar o poderoso movimento de massas que, despoletado em 1961, na Universidade de Coimbra, em torno das comemorações da Tomada da Bastilha e da luta pela reabertura da Associação Académica de Coimbra, se desenvolveu em protesto contra a proibição em Lisboa das comemorações do Dia do Estudante e a carga policial contra os estudantes, que, partindo da Cidade Universitária, desfilavam em direcção ao Campo Grande, onde, numa manobra para desmobilizar o protesto estudantil, o Reitor Marcelo Caetano, prometera um jantar.
«Procuramos neste livro caracterizar a clandestinidade comunista, enquanto contexto de vida e de luta, e descobrir as normas de conduta, regras, códigos éticos e morais, e até a linguagem particular que os clandestinos assumiam. Pretendemos assim equacionar a cultura própria que emana da clandestinidade comunista, caracterizando não tanto a organização partidária numa perspectiva macro-estrutural, mas lançando um olhar para o quotidiano da vida clandestina, usando como fonte privilegiada de informação as vozes daqueles que permaneceram clandestinos e que nos forneceram as suas narrativas biográficas.
A ideia de que é necessário dar a conhecer testemunhos das vítimas do fascismo, e que é fundamental para a construção da nossa identidade e da nossa memória colectiva esse conhecimento é o motivo primeiro que está na origem desta publicação. A ideia de que é importante legar para as gerações vindouras as memórias das vítimas do regime fascista e a sua versão dos factos, e que é necessário combater a ideia de que a ditadura foi inevitável, necessária ou até benéfica, construindo uma memória colectiva da resistência e da oposição, foi possivelmente a principal razão para que os ex-clandestinos aceitassem colaborar na investigação que realizámos.»
A Editorial Avante! convida-a(o) a estar presente na Apresentação do livro " Vidas na Clandestinidade" da autoria de Cristina Nogueira, que tem lugar no dia 16 de Junho, pelas 18,30h., no Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa.
A obra será apresentada por José Casanova.
«Este trabalho agora editado tem por base uma pequena parte de uma dissertação, defendida na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto» -
Uma mentira mil vezes repetida não passa, por esse facto, a ser verdade.
As centrais de comunicação dos sucessivos governos de Guterres, Barroso, Santana e Sócrates andam há muito a passar uma mensagem subliminar: os cidadãos portugueses precisam de autorização para se manifestarem.
A propósito da recente Cimeira da Nato em Lisboa mais uma vez os poderes instituídos puseram em marcha essa mensagem. E foi ver alguns jornalistas acríticos, manipuláveis ou manipuladores, a repetirem essa ideia até à náusea. Foi um fartote de «manifestações autorizadas» e «manifestações não autorizadas». Dias houveram em que não falhou um bloco de notícias. Fosse nas televisões generalista, fosse nas «especializadas» em «informação». O mesmo nas rádios, nos jornais e nas revistas.
Comentadores, apresentados como «especialistas» quais papagaios certificados, elucidavam, explicavam, explanavam para todos nós esse conceito: as manifestações carecem de autorização.
Mais grave foi ler, ouvir e ver comandos e porta-vozes da PSP a alinharem pelo mesmo diapasão. O que ou traduz ignorância, ou intenção deliberada. Em qualquer dos casos o Ministro e o Governo remeteram-se ao silêncio. E o mesmo se aplica ao Presidente da República.
E no entanto…
A Constituição da República Portuguesa afirma, de uma forma inequívoca, no seu artigo 45.º (Direito de reunião e de manifestação):
«1. Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, SEM NECESSIDADE DE QUALQUER AUTORIZAÇÃO.
2. A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação.».
E o Decreto-Lei n.º 406/74 declara no seu artigo 1.º -1:
«A todos os cidadãos é garantido o livre exercício do direito de se reunirem pacificamente em lugares públicos, abertos ao público e particulares, INDEPENDENTEMENTE DE AUTORIZAÇÕES, para fins não contrários à lei, à moral, aos direitos das pessoas singulares ou colectivas e à ordem e à tranquilidade públicas.»
Os promotores das manifestações apenas deverão AVISAR o governador civil do distrito ou o presidente da câmara municipal, conforme o local se situe ou não na capital do distrito.
Será que alguns editores e jornalistas desconhecem a Constituição da República? Os comentadores e especialistas não sabem do que falam? Nas Escolas da PSP e da GNR não se ensina a legislação em vigor? Ou estamos perante um acção concertada, onde até nem falta o regresso ao tristemente célebre «inimigo interno» do tempo do fascismo de Salazar e Caetano?
Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação