Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...(2x)
Como beber Dessa bebida amarga Tragar a dor Engolir a labuta Mesmo calada a boca Resta o peito Silêncio na cidade Não se escuta De que me vale Ser filho da santa Melhor seria Ser filho da outra Outra realidade Menos morta Tanta mentira Tanta força bruta...
Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...
Como é difícil Acordar calado Se na calada da noite Eu me dano Quero lançar Um grito desumano Que é uma maneira De ser escutado Esse silêncio todo Me atordoa Atordoado Eu permaneço atento Na arquibancada Prá a qualquer momento Ver emergir O monstro da lagoa...
Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...
De muito gorda A porca já não anda (Cálice!) De muito usada A faca já não corta Como é difícil Pai, abrir a porta (Cálice!) Essa palavra Presa na garganta Esse pileque Homérico no mundo De que adianta Ter boa vontade Mesmo calado o peito Resta a cuca Dos bêbados Do centro da cidade...
Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...
Talvez o mundo Não seja pequeno (Cálice!) Nem seja a vida Um fato consumado (Cálice!) Quero inventar O meu próprio pecado (Cálice!) Quero morrer Do meu próprio veneno (Pai! Cálice!) Quero perder de vez Tua cabeça (Cálice!) Minha cabeça Perder teu juízo (Cálice!) Quero cheirar fumaça De óleo diesel (Cálice!) Me embriagar Até que alguém me esqueça (Cálice!)
Meu caro amigo me perdoe, por favor Se eu não lhe faço uma visita Mas como agora apareceu um portador Mando notícias nessa fita Aqui na terra 'tão jogando futebol
Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta Muita mutreta pra levar a situação Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar Nem atiçar suas saudades Mas acontece que não posso me furtar A lhe contar as novidades
É pirueta pra cavar o ganha-pão Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonar Mas a tarifa não tem graça Eu ando aflito pra fazer você ficar A par de tudo que se passa
Muita careta pra engolir a transação E a gente tá engolindo cada sapo no caminho E a gente vai se amando que, também, sem um carinho Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever Mas o correio andou arisco Se me permitem, vou tentar lhe remeter Notícias frescas nesse disco
A Marieta manda um beijo para os seus Um beijo na família, na Cecília e nas crianças O Francis aproveita pra também mandar lembranças A todo pessoal Adeus
A propor «a força militar» como «instrumento de acção externa» da União Europeia, podia ter sido José Manuel Barroso, o vidente! O homem sempre é Durão...Podia ter sido, mas não é dele que estamos a falar. Podia ter sido Durão até porque a pessoa de que estamos a falar foi correligionária dele.
Essa pessoa também não foi nenhum dos irmãos Dupondt (ou serão os velhos dos marretas?): Augusto Santos Silva ou Luís Amado. Nem podiam ser eles, «extremistas» como são!
Pela pessoa em questão ficamos a saber (se não sabíamos já) que o Tratado de Lisboa tem uma «"cláusula de defesa mútua", uma passagem que efectivamente transforma a União Europeia numa espécie de aliança de defesa colectiva comparável à NATO». Na conferência (porque de uma conferência se trata) o autor (ou autora...) afirma ainda cristalinamente que «a construção de uma Europa da Defesa forte só poderá contribuir para um pilar europeu da NATO forte.»
A pessoa que faz esta conferência gosta de passar por muito boazinha, e toda ela se esforrica para dar a entender que isto tudo - Nato, força militar europeia - é feito com a melhor das intenções! Quantos inocentes é que estas suas palavras vão matar?
Eu cá sou dos Fonsecas / Eu cá sou dos Madureiras / De ferro o puro sangue / O que me corre nas veias / Nasci da paixão temporal / Do porto dos vendavais / Cresço no fragor da luta / Numa força bruta / P’ra além dos mortais / (...) / Somos capitães / Somos Albuquerques / Nós somos leões / Os lobos do mar / De olhos pregados nos céus / De cima dos chapitéus // Somos capitães / Somos Albuquerques / Nós somos leões / Os lobos do mar / E na verdade o que vos dói / É que não queremos ser heróis
«Sabe, no fundo eu sou um sentimental / Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo / (além da sífilis, é claro) / Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar / Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora...»
Onde estão as fronteiras de segurança de Portugal?
Esta é uma pergunta a que tentaremos agora responder pela voz sempre autorizada e clarividente dos nossos governantes. Eis as angustiantes respostas que fariam roer-se de inveja os governantes (fascistas...) de outrora.
[Baralhados? Mas quem não estaria? No mínimo este homem é um grande teórico e um valentaço... O problema é se os do Médio-Oriente, os bósnios, os afegãos, os africanos, etc., acharem também que "as fronteiras são fluidas" e que "a fronteira entre a paz e a guerra se esbateu", e decidirem que as fronteiras de segurança deles passam por Portugal...]
[Este, além de ir dar tiros para o Afeganistão ainda pretende "travar uma batalha" connosco para nos explicar isso! Não se incomode, senhor ministro, nós já percebemos!]
Por este andar o próximo governo vai editar um mapa intitulado "Portugal não é um país pequeno" e vai proclamar que a fronteira da segurança de Portugal está na Índia. Voltaremos a ouvir aos microfones da Emissora Nacional que “os sinos da Velha Goa e as bombardas de Diu serão sempre portugueses”!!!
Roda-viva Tem dias que a gente se sente Como quem partiu ou morreu A gente estancou de repente Ou foi o mundo então que cresceu A gente quer ter voz ativa No nosso destino mandar Mais eis que chega a roda-viva E carrega o destino pra lá Roda mundo, roda-gigante Roda-moinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração A gente vai contra a corrente Até não poder resistir No volta do barco é que sente O quanto deixou de cumprir Faz tempo que a gente cultiva A mais linda roseira que há Mas eis que chega a roda-viva E carrega a roseira pra lá Roda mundo, roda-gigante Roda-moinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração A roda da saia, a mulata Não quer mais rodar, não senhor Não posso fazer serenata A roda de samba acabou A gente toma a iniciativa Viola na rua, a cantar Mas eis que chega a roda-viva E carrega a viola pra lá Roda mundo, roda-gigante Roda-moinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração O samba, a viola, a roseira Um dia a fogueira queimou Foi tudo ilusão passageira Que a brisa primeira levou No peito a saudade cativa Faz força pro tempo parar Mas eis que chega a roda-viva E carrega a saudade pra lá Roda mundo, roda-gigante Roda-moinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração
Para ver e ouvirChico Buarqueinterpretar a canção «Roda Viva»:
A casa do Oscar era o sonho da família. Havia um terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.
Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e saí batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar! Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.
Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar.
Acorda Amor Acorda amor Eu tive um pesadelo agora Sonhei que tinha gente lá fora Batendo no portão, que aflição Era a dura, numa muito escura viatura minha nossa santa criatura chame, chame, chame, chame o ladrão Acorda amor Não é mais pesadelo nada Tem gente já no vão da escada fazendo confusão, que aflição São os homens, e eu aqui parado de pijama eu não gosto de passar vexame chame, chame, chame, chame o ladrão Se eu demorar uns meses convém às vezes você sofrer Mas depois de um ano eu não vindo Ponha roupa de domingo e pode me esquecer Acorda amor que o bicho é bravo e não sossega se você corre o bicho pega se fica não sei não Atenção, não demora dia desses chega sua hora não discuta à toa, não reclame chame, clame, clame, chame o ladrão Composição: Julinho de Adelaide / Leonel Paiva - 1974 Interpretação:Chico Buarque
Para ver e ouvirChico Buarqueinterpretar a canção «Acorda Amor»:
Histórico: Após as canções "Cálice" e "Apesar de Você" terem sido censuradas pelo sistema repressivo, Chico Buarque achou que seria mais difícil conseguir aprovar alguma música sua pelos agentes da censura. Escreveu então "Acorda Amor" com o pseudônimo de Julinho de Adelaide para driblar a censura. Como ele esperava, a música passou. Julinho ainda escreveria mais 2 músicas antes de uma reportagem especial do Jornal do Brasil sobre censura, que denunciou o personagem de Chico. Após esta revelação, os censores passaram a exigir que as músicas enviadas para aprovação deveriam ser acompanhadas de documentos dos compositores.
Acorda Amor é um retrato fiel aos fatos ocorridos no período que teve seu ápice entre 1968 (logo após a decretação do AI-05) e 1976 quando, teoricamente, a tortura já não era mais praticada pelos militares. Diversas pessoas sumiram durante este período após terem sido arrancadas de suas casas a qualquer hora do dia ou da noite, e levadas para DOPS e DOI-CODI´s espalhados pelo Brasil. A falta de confiança era tão grande que as pessoas tinham mais medo dos policiais (que seqüestravam, torturavam, matavam e, muitas vezes sumiam com corpos) do que de ladrões. A ironia do compositor é tão grande que, quando os agentes da repressão chegam a casa chamam-se os ladrões para que sejam socorridos.
Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão, não. A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando pro chão. Viu? Você que inventou esse Estado Inventou de inventar Toda escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar o perdão.
(Coro) Apesar de você amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder Da enorme euforia? Como vai proibir Quando o galo insistir em cantar? Água nova brotando E a gente se amando sem parar.
Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros. Juro! Todo esse amor reprimido, Esse grito contido, Esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza Ora tenha a fineza de "desinventar". Você vai pagar, e é dobrado, Cada lágrima rolada Nesse meu penar.
(Coro2) Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Ainda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria.
Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença.
E eu vou morrer de rir E esse dia há de vir antes do que você pensa. Apesar de você
(Coro3)Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia.
Como vai se explicar Vendo o céu clarear, de repente, Impunemente? Como vai abafar Nosso coro a cantar, Na sua frente. Apesar de você
(Coro4)Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Você vai se dar mal, etc e tal, La, laiá, la laiá, la laiá…….
«Na foto de cima vemos os helicópteros do exercito brasileiro com as laterais abertas e apontando covardemente as metralhadoras em direção dos trabalhadores metalúrgicos, familiares e jornalistas presentes na cobertura da greve. Na foto de baixo, os grevistas não se intimidaram e gritaram palavras de ordem.1980»