Estou em crer que, mais dia menos dia, alguém tomará a iniciativa de organizar e publicar uma selecção de «pensamentos de Cavaco Silva», à semelhança do que, em tempos, foi feito em relação a esse outro insigne pensador que foi Américo Tomás. E há que dizer que, quem o fizer, tem pano para mangas e êxito de vendas assegurado, tal a quantidade, a profundidade, a hilaridade dos «avisos», «alertas», citações», «pensamentos», produzidos pelo actual Presidente da República – sempre irradiando uma inteligência fulgurante, uma acutilância cirúrgica, uma cultura avassaladora.
E uma coisa, pelo menos, é certa: sempre que Cavaco Silva verte pensamento em público põe o País a gargalhar.
Recordo que, aqui há uns anos, num 10 de Junho – «Dia da Raça», por decisão de Salazar e por opção do actual Presidente da República – um jornalista perguntou ao então primeiro-ministro, se sabia quantos Cantos tinha Os Lusíadas. Cavaco, no seu estilo muito ao jeito de Alípio Abranhos, confessou: «Não me recordo, como a maioria dos portugueses estudei a obra no Ensino Secundário» – mas logo acrescentou, lampeiro: «Agora vou a Os Lusíadas quando preciso de encontrar alguma citação, ou quando a minha mulher me faz algum desafio».
De então para cá, foi um fartote de pensamentos e citações, amiúde entremeadas de luzidas confissões culturais: Li, uma vez, um livro: A Utopia, de Thomas Mann…
Há dias, a conselho da esposa, Maria, citou Nossa Senhora de Fátima e fez da referida Senhora uma propagandista das malfeitorias do pacto das troikas – e, no dia seguinte, presumo que novamente inspirado pela consorte, chamou à liça S. Jorge, por tradição portador de boas notícias, citando-o a abençoar as práticas de austeridade do Governo ao serviço da troika ocupante.
É claro que destas invocações e citações não vem mal de maior ao País: o Presidente cita e a malta ri, ou sorri, ou cora…
O mesmo não direi da mais solene de todas as suas citações: aquela em que ele, de mão no peito, diz: «Juro, pela minha honra, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa». E depois faz o que faz.
Manifesto do Partido Comunista, Karl Marx, Friedrich Engels, 1848
«O burguês vê na sua mulher um mero instrumento de produção... Não pode conceber que se trata precisamente de suprimir a condição das mulheres como um mero instrumento de produção.»
A Mulher e o Socialismo, August Bebel, 1879
«Invocar a natural vocação da mulher para não ser mais do que uma dona de casa ou uma educadora de crianças tem tão pouco sentido como pretender que os reis irão para sempre existir só porque existem desde que temos uma “história”.»
A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, Friedrich Engels, 1884
«A libertação da mulher, na sua equiparação ao homem é e continuará a ser uma impossibilidade enquanto a mulher for excluída do trabalho social produtivo e limitada ao trabalho privado doméstico. A libertação da mulher só se tornará possível quando ela puder em grande escala, em escala social, tomar parte na produção e o trabalho só a ocupar em grau insignificante.»
Clara Zetkin, «O que as mulheres devem a Marx», 1903
«Com a concepção materialista da história, Marx não nos forneceu fórmulas acabadas sobre a questão das mulheres, ele deu-nos uma coisa melhor: um método justo, seguro, para estudar e compreender. Só a concepção materialista da história nos permitiu situar, com clareza, a luta das mulheres no fluxo de desenvolvimento histórico geral, de aí ver a justificação e os limites históricos à luz das relações sociais gerais, de reconhecer as forças que a animam e a conduzem, os objectivos que essa luta persegue, as condições nas quais os problemas levantados podem encontrar a sua solução.»
Rosa Luxemburgo, discurso numa manifestação de mulheres em Estugarda, 1912
«O sufrágio das mulheres é o objectivo. Mas o movimento de massas para o originar é trabalho não apenas das mulheres, é uma preocupação de classe para as mulheres e homens do proletariado.»
Alexandra Kollontai, sobre a 1.ª Conferência de Mulheres da II Internacional, 1918
«Na altura em que a causa das mulheres é colocada acima da causa proletária, na altura em que as mulheres trabalhadoras se deixem seduzir pelas frases sonantes acerca da comunidade das mulheres, independentemente das divisões de classe, então perdem a ligação viva com a sua própria classe traindo assim os seus interesses.»
Lénine, Pravda, 1920
«Num espaço de dois anos, o poder soviético fez mais pela libertação da mulher, pela igualdade com o “sexo forte”, num dos países mais atrasados da Europa, que todas as repúblicas avançadas, iluminadas, “democráticas” do mundo inteiro durante 130 anos.»
Clara Zetkin, recordações sobre Lénine, 1924
«O camarada Lénine falou-me mais de uma vez sobre a questão feminina. É evidente que atribuía um significado muito grande ao movimento feminino, parte integrante do movimento de massas, tão importante que poderia, em certas condições, tornar-se uma parte decisiva. É claro que para ele a igualdade completa da mulher constituia um princípio base, absolutamente incontestável para todo o comunista.»
In jornal «Avante!» - Edição de 4 de Março de 2010
«Acho que a ministra [Maria de Lurdes Rodrigues], que tem sido muito criticada, é uma pessoa que tem uma orientação e tem um sentido de responsabilidade e até uma coragem que é invulgar. E eu aprecio as pessoas de coragem», afirmou Mário Soares, em declarações aos jornalistas no Parlamento, à saída da cerimónia de entrega do Prémio Direitos Humanos, informa a agência Lusa.
«Para tanto, é preciso dialogar com eles[os portugueses?]e, sobretudo, ouvi-los, com espírito de solidariedade.(...)
Para tanto o diálogo e a solidariedade institucional e interpartidária, com sindicatos, as diferentes associações de classe e com os cidadãos, em geral, devem constituir uma prioridade absoluta - e permanente - do Governo, ainda que precise de engolir alguns sapos, se quiser ser visto como verdadeiramente nacional, como a crítica situação em que estamos parece exigir.»
«Ainda bem que ele [Mário Soares]tem posições polémicas. É sinal de vitalidade política. Estamos numa situação completamente diferente da de 1975. E se Mário Soares defende hoje a convergência da esquerda, tem autoridade para o fazer, precisamente porque foi ele quem, em 1975, combateu a deriva esquerdista da nossa Revolução...
Dezembro de 2008, sendo Durão Barroso presidente da Comissão Europeia [a Irlanda tinha feito um referendo no dia 12 de Junho de 2008]:
A cúpula da União Européia (UE) apoiou hoje a proposta da França para desbloquear o Tratado de Lisboa, que consiste em que a Irlanda realize outro plebiscito até novembro de 2009. Ler AQUI e AQUI